O final dos anos 60 foi uma época profundamente única e interessante. O flower power, o movimento dos hippies, passou a conviver com outros gêneros musicais muito diferentes do “paz e amor”. Ao mesmo tempo, foi o ano em que aconteceu o festival de Woodstock, talvez um divisor de águas (sem trocadilhos) da época. A performance de Jimi Hendrix talvez seja a mais emblemática daquela época, misturando posicionamento político e experimentalismo musical.
Isso sem falar que ainda tínhamos os Beatles juntos, lançando discos do calibre de Abbey Road. Um exemplo de maturidade e diversidade. Uma banda plena, mais próxima de seu fim do que se poderia imaginar. Difícil escolher destaques do álbum, já que ele é daquele tipo raro de disco que a gente pode ouvir do começo ao fim, sem pular nenhuma faixa. Faça a experiência!
Tínhamos os Beatles… mas também tínhamos, como temos até hoje, os Stones. Que lançaram, no finalzinho de 1969, o fundamental Let It Bleed, o álbum que tem Gimme Shelter, a cover de Love in Vain, Midnight Rambler e You Can’t Always Get What You Want, só para ficar nas mais conhecidas, sobreviventes até hoje.
Ah, sim, não custa lembrar: 69 também foi o ano do “anti-Woodstock”, o festival em que tudo deu errado, Altamont. Com direito à péssima escolha de colocar os Hell’s Angels como seguranças de palco, o festival acabou substituindo a paz e o amor… pela violência. Tudo o que o rock não precisava.
1969 também é o ano de lançamento de Tommy, do The Who – que também contribuiu para que Woodstock tenha sido tão importante quanto foi. Tommy talvez represente o melhor e o pior do espírito da época, já que abriu espaço para muitas outras “obras conceituais” – e, convenhamos, essa coisa de conceitual foi ficando tão pomposa que teve que ser quebrada a marretadas, com o advento do punk, alguns anos depois.
Mas Tommy não só justifica o uso do termo “ópera rock” como leva o gênero, em si, a ter uma relevância mais, digamos assim, adulta.
Mais um pouco da mistura de estilos: esse foi o ano de I Got Dem Ol’ Kozmic Blues Again Mama!, o primeiro disco solo de Janis Joplin. Livre das amarras da banda Big Brother and Holding Company, temos todo o drama da cantora em canções como Try (Just a little bit Harder) e Maybe. Atemporais.
O outro lado da “moeda” de 1969, é representado por uma dupla de discos de estreia que mostram como a época era de amadurecimentos, finais e começos. Começos mais fortes, pesados e… cínicos.
Primeiro, o primeiro disco do MC5, Kick Out the Jams, reconhecido como um dos precursores do punk. Foi gravado ao vivo, o que permitiu manter o registro da energia da banda.
Junto com ele, a estreia dos Stooges (de Iggy Pop). Igualmente “protopunk” e igualmente eterno. Não é toda banda que já estreia com músicas tipo I Wanna Be Your Dog e No Fun em seu repertório.
“Luxos” e “lixos” definem uma época fascinante, alguém questiona?
E tem mais semana que vem…