Os últimos alfaiates: morador de Brusque fala sobre profissão que exerce há 64 anos

Valmir Pruner aprendeu a confeccionar ternos, coletes e calças quando tinha 13 anos

Os últimos alfaiates: morador de Brusque fala sobre profissão que exerce há 64 anos

Valmir Pruner aprendeu a confeccionar ternos, coletes e calças quando tinha 13 anos

É raro encontrar um alfaiate em Brusque nos dias atuais. A profissão que antes era muito prestigiada, tem sido esquecida com o passar do tempo. Após o fechamento da Alfaiataria do Pedroca, em dezembro de 2019, restou a Alfaiataria Pruner ativa no município.

O proprietário Valmir Pruner, de 77 anos, conta que atualmente não fabrica mais ternos. Ele tomou a decisão devido ao intenso trabalho que a produção traz.

“É muito complicado fazer terno, não é como pensam que é fácil. E quando a pessoa manda fazer, ela vai querer perfeito e isso não existe. É muita preocupação”, comenta. Atualmente, o alfaiate fabrica calças e realiza reformas e ajustes nas peças.

Primeiro emprego

Valmir conta que começou a trabalhar no ramo em 1958. Aos 13 anos ele iniciou no primeiro emprego como aprendiz de alfaiate. “Eu não queria mais estudar, surgiu uma vaga onde meu tio trabalhava na alfaiataria. Fui aprender ali, trabalhava de graça. Fiquei até hoje”, recorda.

Ele diz que tudo que sabe aprendeu com o ex-patrão João Carlos Silva e com o tio Gregorio Sabino, conhecido como Paulico.

Valmir recorda dos ternos que já fabricou para os clientes | Foto: Eliz Haacke/O Município

Durante 11 anos Valmir atuou como empregado na Alfaiataria Silva. Depois ele comprou a loja e mudou para o nome da família, no final da década de 1960. “Eu gosto de trabalhar com isso. Não sei fazer outra coisa, trabalho todo dia”, diz.

“É uma tradição de muitos anos. Eu tinha a loja ali no Centro, na subida do morro para igreja Luterana; Fiquei 49 anos no mesmo lugar”, recorda. Atualmente, a loja foi transferida para o mesmo imóvel onde onde reside com a família, na rua João Bauer, há 13 anos.

Clientes antigos

O alfaiate conta que já fabricou muitos ternos e coletes na vida. “Eu fiz o uniforme para o Canto Alemão em Guabiruba, fiz uma vez para o Conjunto Alucinante umas calças de couro que eram os uniformes dele, o uniforme dos atiradores do Caça e Tiro e alguns coletes para o coro da igreja”, lembra.

Valmir recorda que também já confeccionou um terno que foi enviado para os Estados Unidos. “Uma moça queria fazer um sobretudo de lã pura para levar para um familiar. Ela mandou as medidas e eu fiz sem nem ver [o cliente final]. E foi enviado para os Estados Unidos. Depois eu fiz mais dois ternos para ele”, afirma.

Devido ao longo tempo em que está no mercado, o alfaiate teve muitos clientes nos últimos anos, inclusive pessoas de outras cidades, como Florianópolis e Joinville. “Temos clientes antigos, algumas pessoas de idade. São pessoas que ás vezes a borda da calça não dá certo, daí refazemos”.

Ele comenta que há muitos clientes que fazem calças com ele, pois não encontram mais os modelos nas lojas de roupas. “Eles não gostam dos modelos novos, preferem os antigos. Tem jovens de 20 anos que às vezes querem alguma coisa diferente. E hoje em dia as calças são muito justas e alguns não gostam”, explica.

Repassando aprendizado

O alfaiate trabalha com o filho, Marcelo Pruner, 52, que começou a atuar na loja em 1991. Ele repassou todo conhecimento que aprendeu ao longo dos anos para Marcelo, que deve tocar a loja após Valmir se aposentar. “Ele é quem está tocando, eu estou só ajudando”, salienta.

Ele ensinou tudo o que sabe ao filho Marcelo, que deve assumir os negócios quando Valmir se aposentar | Foto: Eliz Haacke/O Município

Com o passar do tempo, Valmir decidiu diminuir o horário de funcionamento do local para poder descansar mais. Hoje a alfaiataria funciona apenas de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 11h30 e das 14h às 17h30.

Valmir garante que seguirá no ramo enquanto aguentar. “Eu moro aqui em cima, então é só descer a escada. Enquanto eu puder trabalhar eu vou continuar trabalhando, pois ficar sem fazer nada não dá”, finaliza.


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