Ao longo dos anos, o Outubro Rosa se consolidou como uma ferramenta importante no combate e na prevenção do câncer de mama, apesar de ainda haver um caminho a ser trilhado em relação à prevenção, rastreamento e conscientização em relação à doença.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama é o tipo que mais afeta mulheres em todo o mundo. Segundo dados levantados em 2020, são cerca de 2,3 milhões de casos novos foram estimados em todo o mundo, o que representa cerca de 24,5% de todos os tipos de neoplasias diagnosticadas nas mulheres.
No Brasil, foram diagnosticados cerca de 66.280 casos novos de câncer de mama em 2021, com um risco estimado de 61,61 casos a cada 100 mil mulheres.
O câncer de mama também ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer entre as mulheres no Brasil, com taxa de mortalidade ajustada por idade, pela população mundial, para 2021, de 11,71/100 mil. As regiões Sul e Sudeste têm as maiores taxas (12,69 e 12,43 óbitos/100.000 mulheres).
Na região de Brusque, o panorama não é diferente. O médico Guilherme Gamba, mastologista da Rede Feminina de Combate ao Câncer, coordenador do Programa de Saúde da Mulher da Unimed e coordenador do Internato de Saúde de Mulher do curso de Medicina da Unifebe, destaca que em Brusque, o câncer de mama também é o mais comum, excluídos os tumores de pele não melanoma.
Para aumentar as chances de cura e a qualidade de vida das pacientes, o especialista destaca que a conscientização em relação à prevenção, a melhora do rastreamento e a agilidade no diagnóstico são os três pilares cruciais.
Foco nos fatores não modificáveis
De acordo com Guilherme, os fatores de risco para os câncer de mama podem ser separados em duas categorias: os modificáveis e os não modificáveis. Em relação à prevenção, o primeiro deles é o foco.
Entre os não modificáveis, estão histórico familiar, menopausa, histórico ginecológico (quando a mulher teve filhos) e tratamento anterior com radioterapia torácica antes dos 35 anos de idade.
Guilherme desmistifica, porém, que a maioria dos tumores são causados por fatores não modificáveis. “A questão do histórico familiar, do câncer genético, é a minoria dos casos. Representa menos de 10% dos cânceres de mama. A grande maioria está ligado a fatores modificáveis, que é onde a gente consegue atuar, que são os fatores que eu consigo realmente intervir e que seriam os principais”.
Entre os fatores modificáveis que aumentam o risco de desenvolvimento de câncer de mama está a utilização indiscriminada de hormônios, sedentarismo, o abuso da ingestão de bebida alcoólica, tabagismo e ganha de peso pós-menopausa, que também influenciam o surgimento de diversas outras doenças.
“O exercício físico vai diminuir esse risco. Além do ganho de peso, a questão de cessar tabagismo, menos bebida alcoólica possível, tudo isso reduz a chance de câncer. Anular não tem como, a gente ainda não sabe como anular. Não é possível apontar no caso de cada mulher, em específico, qual foi o fator. Normalmente é um grupo de fatores que está atuando. Então é importante a gente atuar em todos para reduzir o máximo que a gente puder”, resume.
Rastreamento de lesões não palpáveis
Um exame só serve para rastreamento quando ele consegue detectar algo precocemente, antes de trazer qualquer sintoma clínico. Guilherme destaca que, para o câncer de mama, o rastreamento, através das mamografias, é capaz de detectar lesões que não são palpáveis. Ele destaca que esses exames localizam achados clínicos que já são considerados cânceres até dois anos antes deles se tornarem perceptíveis, como um nódulo ou uma secreção.
“Esse é o benefício da mamografia. É o único exame que mostrou a possibilidade de rastreamento e detecção precoce. Lá na frente isso aumenta a taxa de cura das pacientes e dá mais tempo de vida para elas. O tratamento também, nesse cenário, é menos agressivo e as pacientes vivem com uma melhor qualidade de vida”.
Guilherme destaca que, no dia a dia, costuma conversar com as mulheres destacando a importância do rastreamento. A descoberta do câncer ainda em estágio inicial, quando nem ainda é palpável, por exemplo, diminui consideravelmente a necessidade de tratamento com quimioterapia.
“Às vezes elas nem precisam de quimioterapia. Enquanto que, em doenças mais avançadas, lesões maiores, a gente não consegue ficar sem a quimio. Por isso que a gente fala que o tratamento é melhor, é menos agressivo, a cirurgia é menor, tira só aquela área pequena da lesão, às vezes não precisa tirar a mama toda. São inúmeros os benefícios do rastreamento precoce”.
Infelizmente, porém, de acordo com Guilherme, no Brasil, o diagnóstico precoce, que é de lesões iniciais, é mais raro do que o diagnóstico avançado.
Como acelerar diagnóstico e tratamento?
Hoje, o serviço público responsável por realizar as mamografias das pacientes da Rede Feminina é o Hospital Azambuja, que possui um equipamento moderno e com ótima acurácia. A Rede, através de doações e de todo o programa de rastreamento que desenvolve, consegue alguns exames patrocinados na rede particular e ainda financia outros.
O especialista acredita que há uma abrangência boa na cidade em relação às mamografias, porém, acredita que ainda falta agilidade. Em média, um exame de mamografia no Sistema Único de Saúde (SUS) leva de dois a três meses para ser realizado. Para Guilherme, o ideal era que o médico tivesse acesso ao resultado cerca de duas semanas após a solicitação.
“Temos um grande volume de exames de rastreamento e em casos de diagnóstico o exame precisa ser mais rápido. O exame de rastreamento, para quem não tem queixa,
pode atrasar um pouco mais. Agora o exame diagnóstico, que é quando a paciente tem
uma queixa, tem que ser mais rápido. Mas às vezes não é o que acontece. Se a paciente
tem um nódulo palpável, eu preciso dizer o que esse nódulo é em um tempo curto. O
câncer, quanto mais o tempo passa, mais ele avança. E a partir do momento em que ele
passa de 2 para 4 centímetros, a taxa de cura diminui”.
Por conta disso, Guilherme ressalta a importância dos exames de rotina e preventivos, que aceleram o diagnóstico.
“Hoje o câncer de mama é o que mais mata no Brasil. Falta procura das pacientes no serviço de rastreamento. Na maioria das vezes, elas não vão fazer os exames de rotina porque acham que está tudo bem. Quando elas descobrem essas lesões, já estão mais avançadas do que deveriam”.
A legislação brasileira define que os pacientes de câncer iniciem seus tratamentos em até 60 dias, apesar de que, em vários casos, essa não é a realidade. Os brusquenses que precisam tratar a doença são atendidos pelo SUS em hospitais de referência em Blumenau.
Para Guilherme, o rastreamento e a prevenção acabam sendo as melhores formas de agilizar o tratamento das pessoas que são acometidas com a doença.
“Se for descoberto cedo, conseguimos um tratamento menos agressivo, aumentar a qualidade de vida e aumentar os anos vividos. Isso é estatística. Para cada mês que a mulher passa com a doença, quatro mulheres morrem. Temos que cobrar do sistema público, mas também nos cuidar. É do interesse do sistema público que as pessoas descubram cedo. Oferecendo uma cirurgia e um tratamento menos agressivo, se gasta menos. Quimioterapia, internação, radioterapia, cirurgia agressiva são bem mais caros. Diagnóstico precoce é um benefício para a paciente, mas também para a saúde do sistema”, completa.
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