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Outubro Rosa: Fé em Deus dá forças para Maria Ivone vencer o câncer

Ela luta contra a doença há 15 anos, com determinação e confiança

Há quase 15 anos, Maria Ivone Dutra, de 62 anos, enfrenta uma luta contra o câncer. Do fim de 2001 até agora já foram dois nódulos na mama direita, um na mama esquerda, e dois no pulmão, sendo que num destes ela perdeu cerca de 30% do órgão. O que faz ela ter fé e acreditar na recuperação é “viver o hoje, pois ontem já passou e o amanhã a Deus pertence”.

A história é longa e começou quando ela tinha 48 anos e morava em Campo Grande (MS). Em 2000, por meio do autoexame, Maria Ivone identificou um caroço embaixo do braço direito e procurou uma ginecologista que disse que não era nada. Mesmo assim, ela foi em outro médico, que também atestou que o nódulo não lhe causaria problemas.

Um tempo depois, no fim de 2001, com a permanência do caroço e a inquietação diante da situação, Maria Ivone procurou o Hospital do Câncer de Campo Grande. E lá, após uma mamografia, o diagnóstico que ela já imaginava se confirmou: estava com carcinoma ductal invasor (CDI), o câncer de mama. A cirurgia foi marcada imediatamente e a mama direita foi retirada. Neste período, foi intenso o tratamento: ao todo foram seis quimioterapias de 21 em 21 dias e 30 sessões diárias de radioterapia. O forte tratamento gerou impactos na vida e no corpo de Maria, mas não fez com que ela perdesse o cabelo. “Eu tinha tanta certeza que tinha a doença, que não me abalei e logo decidi que encararia com força. Se Deus permitiu que isso acontecesse, me daria forças para enfrentar”, conta.

Porém, o começo, mesmo sem dor, foi difícil. Ela abandonou o trabalho de vendedora de automóveis e viu o marido com quem estava casada há 25 anos ir embora. “O câncer afetou bastante. Eu contribuía financeiramente em casa e parei de ajudar e meu marido, que foi sempre problemático, achou um motivo para nos abandonar”, diz.

Mas essas perdas, dolorosas, não deixaram Maria Ivone desanimada. Ela fazia o tratamento e também ganhava na época um salário mínimo fazendo artesanatos e cuidando da casa e dos dois filhos. “Eles eram adolescentes e me ajudavam muito. O meu filho, inclusive, que fazia a minha comida”, lembra. De 2001 a 2009, a mulher continuou fazendo exames periodicamente e nenhum outro sinal negativo foi detectado. Ela considerava que estava curada.

Mudança para Brusque

Em 2007, ela e os filhos mudaram-se do Mato Grosso do Sul para Brusque. No primeiro momento, ela trabalhou numa confecção e depois, já com o sonho de abrir uma creche infantil, foi estudar Pedagogia na Uniasselvi. “Minha filha é pós-graduada na área e resolvemos ter uma creche”, conta. Durante dois anos, este era o ofício de Maria.

Foi então, no fim de 2009, novamente por meio de autoexame, que ela descobriu um caroço no lado direito da mama, em cima do ombro, um pouco abaixo de onde retirou o primeiro nódulo. “Eu fui no posto de saúde, fiz uma ultrassonografia e identifiquei que estava com o câncer de novo”. Um mês depois do diagnóstico, foi feita a cirurgia, onde foi raspado nesta região, que já não existia a mama, e retirado o nódulo. E mais uma vez ela passou pelo processo de quimioterapia. Ao todo foram seis. Porém, desta vez, ela perdeu os cabelos. “Mesmo sem uma mama e sem o cabelo, não fiquei afetada. Deus continuava me dando forças para eu seguir e não desistir. E foi o que aconteceu. Colocava lenços na cabeça e me sentia bem”, afirma.

Momento mais difícil

Tudo corria normalmente. Maria Ivone se recuperava, e de seis em seis meses fazia o preventivo. Até que em 2010 uma surpresa desagradável: um nódulo no pulmão. Foi necessário remover cerca de 30% do órgão.

E depois, em meados de 2013, o diagnóstico que estava com outro câncer, mas desta vez na mama esquerda – embaixo do braço. Este, segundo ela, foi o momento mais triste. “Aí eu fiquei abalada. Quando eu achava que tinha me curado, que estava bem, apareceu estes dois. De todo o período da doença, foi o mais difícil. Eu não sabia se eram os meus últimos dias, mas decidi novamente que viveria bem e alegre”, diz.

Por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), ela fez a cirurgia e retirou a mama esquerda. E novamente, o processo que ela já conhecia bem – radioterapia – 30 sessões, uma por dia. Hoje em dia, ela usa o sutiã de silicone, disponibilizado pela Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brusque.

Mas a luta de Maria Ivone ainda não havia chegado ao fim. No fim de 2013, outro diagnóstico crucial – o câncer do pulmão havia voltado. “Com quatro meses depois do primeiro câncer eu fiz a tomografia e tinha melhorado, mas com um ano ele voltou a crescer”. No entanto, ela não poderia fazer cirurgia, pois o câncer está espalhado no órgão. Assim, ela realizou três quimioterapias por mês. Atualmente toma dois remédios – Aromasin e Afinitor – que ajudam a tratar a doença. Porém, o segundo remédio, importante para o tratamento, que ela recebia pelo SUS, parou de vir e precisou entrar na Justiça para conseguir. Ele custa aproximadamente R$ 7 mil e ela não tem condições de comprar. “O Estado tem que dar condições de vida e eu preciso do medicamento, porque não adianta tomar uma caixa e parar”.

A vida é só uma

As adversidades e os transtornos não impedem Maria Ivone de continuar lutando. “Eu acordo e agradeço a Deus pela vida. Aprendi a confiar nele e hoje vejo que alguns problemas não são nada. Eu tenho muitos sonhos ainda e acredito que terei muito tempo pra viver”, diz. Um dos seus sonhos é casar de novo, encontrar um homem que lhe ame “Ter dor é normal. Mas quem faz esse tratamento precisa aprender a conviver com isso e não se entregar. Nunca se desesperar e encarar com alegria. É assim que tenho vivido”.

Maria Ivone também aconselha as mulheres mais jovens a fazer o autoexame e a nem sempre confiar somente no primeiro diagnóstico médico. “O autoexame é fundamental. Qualquer coisa estranha no corpo a mulher precisa saber o que é, ir atrás, se preocupar. O doutor tem mil pacientes, mas a nossa vida é só uma”, afirma.