P2, a polícia invisível, luta contra o crime em Brusque
Setor de Inteligência trabalha nos bastidores das operações da PM de Brusque
Por trás de uma pequena porta em um canto escondido no 18º Batalhão de Polícia Militar funciona uma divisão invisível da polícia: a Agência de Inteligência, ou, como são mais conhecidos, os P2. Estes PMs trabalham infiltrados entre a população e os criminosos para buscar informações para as operações realizadas pelos militares fardados.
O tenente Matheus Perffol, chefe do setor de inteligência do 18º BPM, explica que os P2 foram criados para suprir uma necessidade da corporação de ter mais informações para as operações que são realizadas diariamente pelo ostensivo comum da PM. Estes dados são importantes para que riscos aos militares sejam minimizados, por exemplo, se o local a ser invadido possui homens armados, com qual tipo de armamento entre outras informações.
Perffol conta que há dois tipos de serviços prestados pela Agência de Inteligência. O primeiro é mais administrativo, ele consiste na coleta de dados de ocorrências policiais. “Estes dados são reunidos e enviados para a Agência Central de Inteligência (ACI), em Florianópolis, que com isso pode planejar o policiamento em todas as cidades de Santa Catarina”, diz. Com estas estatísticas, a PM de Brusque pode, por exemplo, determinar quais regiões do município necessitam de mais atenção. O segundo serviço prestado pelos P2 é a coleta de provas em campo, que é a ida dos P2 a campo para conseguir indícios ou provas de uma prática criminosa. Os crimes investigados pelos policiais à paisana são assaltos, tráfico e organizações criminosas.
À moda de Hollywood
Basicamente, a cronologia de uma investigação dos P2 começa com uma denúncia. “Quando nós recebemos uma denúncia de tráfico de drogas no 190, por exemplo, nós vamos até o local para ver se realmente existe”, diz Perffol. Por isso, as ligações para o serviço de emergência são parte fundamental da Inteligência.
Depois disso, os policiais vão a campo averiguar se há a prática o crime denunciado. “Se formos de viatura e com farda, eles (criminosos) jogam tudo fora ou fogem, é mais difícil. Por isso vamos disfarçados, damos uma voltas para analisar a situação”, afirma. Em seguida, a PM informa a Polícia Civil do fato para que uma investigação em conjunto seja aberta. Este não é o caso em todos os lugares, mas aqui em Brusque ocorre devido à parceria entre as duas polícias, diz Perffol.
A Divisão de Investigações Criminais (DIC), comandada pelo delegado Alex Bonfim Reis, é a que mais colabora com os P2, devido aos crimes apurados serem mais graves. O próximo passo da operações é a coleta de provas. É nesta fase que entra a “parte cinematográfica”. Para começar, às vezes, os P2 têm de usar “história-coberta”. Este é o termo utilizado na PM para designar as histórias criadas para caso o infiltrado seja indagado por outras pessoas. Esta parte é particularmente importante porque, caso descoberto, o P2 corre o risco de morte.
É nesta fase da investigação que são usadas câmeras escondidas e outras tecnologias. “Nós fazemos campanas, colocamos lá uma câmera e deixamos filmando a ação de um traficante, por exemplo. Depois de termos provas do comércio de drogas, a Polícia Civil pede os mandados de busca e apreensão”, conta Perffol.
P2 versus Policial Civil
A grosso modo, pode-se afirmar que a atuação dos P2 não difere da dos policiais civis. Eles se disfarçam a fim de conseguir provas de um crime, então repassam para o poder judiciário, que emite os mandados de busca e apreensão para que mais evidências seja coletadas. Embora esta integração entre os trabalhos seja benéfica no combate à criminalidade, em alguns estados, como Paraíba e Minas Gerais, já houve protesto por parte da Polícia Civil porque os P2 realizaram uma investigação.
A reclamação é baseada na Constituição, que determina claramente que a Polícia Militar é responsável pelo ostensivo e a Polícia Judiciária (Civil) cuida de investigar crimes. Há uma briga legal sobre a legitimidade de investigações das agências de inteligência da PM. Em Brusque, este problema é resolvido no momento em que há uma parceria entre as duas corporações. Isso porque uma vez instaurado o inquérito policial, a investigação ganha legitimidade, pois conta com a participação da Polícia Civil.
Operações
A Agência de Inteligência de Brusque realiza diligências de várias tamanhos, no entanto, uma que se sobressaiu nos últimos tempos foi a operação conjunta entre vários municípios da região que resultou na prisão de 11 pessoas por tráfico de drogas. A ação desarticulou a conhecida família Cardoso, que atuava traficando narcóticos no bairro Barracão, limite entre Gaspar e Brusque, e noutros municípios da região.
Foram quase três meses de investigação na qual os P2 colaboraram com o delegado Reis, da DIC, no monitoramento da quadrilha. “Esta operação foi resultado da cooperação entre as Polícias Civil de Brusque e Gaspar e da Inteligência da PM de Brusque e Gaspar”, diz Perffol.
Outra situação que chama a atenção aconteceu nos protestos de junho de 2013. Temerosa da ação de vândalos – os chamados black blocs – a Inteligência da PM infiltrou vários agentes disfarçados entre os manifestantes. Mais de 6 mil reuniram-se em frente à Câmara de Vereadores de Brusque no dia 22 de junho. “Nós tínhamos vários policiais lá no meio para monitorar a situação”, diz o tenente Perffol, e acrescenta em tom bem humorado: “Inclusive participamos, pintamos a cara e levamos bandeiras”. Esta caracterização faz parte da arte “passar despercebido”.
Escolhidos
Os P2 são selecionados pelo comando do batalhão em que atuam. Para entrar para a Inteligência, conta Perffol, é preciso ter um bom histórico como policial e não ter nenhum tipo de mancha no currículo. Depois de analisado currículo e o perfil do PM, ele passa por um curso de capacitação de duas semanas, quando feito na forma presencial, ou de mais tempo quando a distância. “O processo é muito rigoroso”. No curso são passados conceitos da atividade que eles exercerão dali em diante.