Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

A arte de dialogar

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

A arte de dialogar

Pe. Adilson José Colombi

Há poucas semanas, escrevi o artigo: A Arte de cuidar. Aquele era, de certa forma, relacionado à temática da CF2020 que apresentou a reflexão e a ação do cuidado. Para encontrar caminhos para superar a lógica da indiferença e construir inter-relações pessoais e socioculturais, fundadas no cuidado. Visto que somos todos corresponsáveis uns pelos outros.

Neste ano, a CF2021 convida-nos a refletir e agir em favor do diálogo e do amor. Para cuidar, de verdade, implica o reconhecimento da presença do outro, em minha vida. Significa saber acolhê-lo e auxiliá-lo, sobretudo, na sua vulnerabilidade e deficiências. Percebe-se, então, que cuidar não se esgota na dimensão material. Sem dúvida, em casos mais severos, é indispensável. Mas, não é a única. Como acontece com alguém, que está numa situação extrema de miséria, sem qualquer recurso disponível. Todavia, a arte de cuidar exige mais do que isso. Pede a doação de si em forma de escuta, de atenção, de carinho, de amor fraterno… São atitudes humanas que abrem a janela de um possível diálogo que valoriza o ser humano; que o resgata para uma existência que lhe pode dar um novo rumo em sua vida, com um sentido novo, devolvendo-lhe a dignidade humana.

Dialogar, então, não se confunde com uma conversa. Não é, apenas, uma conversa. Por melhor que seja. Essa pode acontecer entre pessoas que não tem uma abertura para o outro. Pode até continuar a vê-lo e tratá-lo como objeto, como coisa. Como disse acima, o diálogo começa com uma boa conversa. Essa, muitas vezes, é a porta ou janela que abre as duas pessoas para um diálogo. Para, aos poucos, uma partilha de vida, pondo em comum o modo de pensar, de sentir e de agir, sem ter grandes receios de expor seus pensamentos e sentimentos. Há um enriquecimento não só do conteúdo do encontro, mas das próprias pessoas que, dele, participam. A postura dialogal é sempre enriquecedora e renovadora da pessoa como um todo.

O diálogo franco e sincero é talvez uma das grandes carências de nossa atual Cultura que forma seres humanos famintos, tanto de pão material, mas principalmente de famintos de escuta, de atenção, de valorização, de carinho, de amor… São seres que perambulam tentando encontrar sucedâneos que a própria Cultura oferece. Mas, com o tempo, aumentam a fome de ser escutado, de ser tratado como gente e não como objeto, número, coisa. Não são muitas as pessoas que são educadas, desde casa pelos pais, para serem pessoas equilibradas, maduras e capazes de estabelecer um diálogo libertante.

Nossa Sociedade e nossa Cultura, com todos os meios de comunicação social, não ajuda a educar para a escuta, para o diálogo. Pelo contrário, dispersa, favorece o isolamento, a distância física. O calor humano quase desaparece. A impessoalidade dos meios de comunicação gera ambientes distantes, frios, sem a presença existencial que transpira os mais diversos sentimentos que jamais um meio eletrônico, ao menos hoje, consegue captar e comunicar. Por enquanto, nada substitui uma presença amiga, acolhedora.

Para quem crê e aceita, adere e segue a Boa Nova do Reino de Deus que Jesus de Nazaré trouxe da parte do Pai, tem um paradigma a seguir. Não se trata de imitar, porque jamais saberemos e temos condições de imitar. Somos, apenas, seres humanos limitados, situados e condicionados de todos os modos. Todos, porém, não só os que vivem a fé são convidados sempre a contemplar a Pessoa e a Proposta de Vida de Jesus. Ali, todos podemos encontrar o que vem a ser um diálogo; como se dialoga; qual é o significado e o sentido do diálogo; quais as suas consequências; o que ele produz na pessoa e nas comunidades dialogantes…É só buscar! E começar a construir! Não há nada de mágico. É pura parceria com ele, nessa árdua educação para a Arte do Diálogo.

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