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A Ciência e a Verdade

Durante esse tempo de pandemia da Covid-19, se escutou de tudo a respeito destas duas palavras, tão presentes em nossa vida diária – Ciência e Verdade. O que, de fato, sobrou e sobressaiu desse discurso todo foi a grande ignorância, quase generalizada a respeito tanto da Verdade, quanto da Ciência. Dessas conversas por meio da […]

Durante esse tempo de pandemia da Covid-19, se escutou de tudo a respeito destas duas palavras, tão presentes em nossa vida diária – Ciência e Verdade. O que, de fato, sobrou e sobressaiu desse discurso todo foi a grande ignorância, quase generalizada a respeito tanto da Verdade, quanto da Ciência. Dessas conversas por meio da mídia, como também das redes sociais ou de bar ou cozinha, nota-se o que é ensinado em nossas escolas. Ou, não é ensinado nelas. Ou estamos com uma visão de Ciência do século XIX.

De modo geral, o que aparece, em grande parte, é a visão ainda iluminista-positivista dos fundadores de nossa República. Como sabemos, foi um reduzido grupo de Positivistas ligados ao chefe do Positivismo Francês, Auguste Comte (1798-1857). Ele propôs o Positivismo que, além de ser uma filosofia de vida era também uma Religião Positivista, com Templos e Cultos próprios. Uma religião natural, sem qualquer abertura para o Infinito, o Absoluto, o Transcendente. Tudo se resolve no âmbito terreno, no natural.

Boa parte de nossas escolas, senão todas, seguem grosso modo essa visão cientificista. Onde o único conhecimento possível é o científico, só é verdadeiro (verdade) o que for provado pela Ciência. Todos os outros modos de conhecimentos (conhecimento popular, senso comum, filosófico, teológico…) não passam de “opiniões” ou superstições. Claro que há belas e boas exceções, em nosso conjunto de escolas.

O brasileiro assimilou bem isso, até em suas compras. Por exemplo, se a propaganda diz ou está escrito no produto: “pode usar porque é cientificamente comprovado…”. Isso soa como um dogma. E dá uma certeza e passa a usá-lo sem constrangimento porque tem o aval da Ciência.

Nesse ambiente sociocultural, torna-se difícil um diálogo franco e sincero. A razão, a meu ver, é simples faltam as bases de como se faz a Ciência. Em outras palavras, falta o mínimo de conhecimento dos princípios que regem a feitura da Ciência ou simplesmente um pouco de Filosofia da Ciência Isso senti em demasia, quando lecionava essa disciplina Filosofia da Ciência, no Curso de Filosofia.

Quem desses todos que falam tanto de Verdade e Ciência tem conhecimento a respeito de: os fundamentos filosóficos da Ciência; Lógica Dedutiva e Lógica Indutiva; Teorias e fatos; Paradigmas; Influência do Meio Social; a Feitura da Ciência; limitações e poderes da Ciência; enfim, o que é Verdade Científica? Sem ter algum conhecimento dessa realidade, não é possível sustentar um diálogo produtivo.

Por fim, lembro que o problema central, nuclear da Ciência é a verdade, que não é um problema científico, mas filosófico. Apesar do objetivo ou fim último da investigação científica ser o encontro da verdade, esta infelizmente escapa a sua percepção. Deixaria de ser Ciência, para ser Filosofia ou Teologia.