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Cinzas

A palavra “cinza”, hoje, em nossas casas e em nossa cultura atual quase não aparece mais, em nossa comunicação cotidiana. Bem diferente era a situação, na área rural em outros tempos. Ali havia abundância de lugares onde aparecia a cinza. Basta lembrar que quase toda a comida era preparada em um fogão que era aquecido […]

A palavra “cinza”, hoje, em nossas casas e em nossa cultura atual quase não aparece mais, em nossa comunicação cotidiana. Bem diferente era a situação, na área rural em outros tempos. Ali havia abundância de lugares onde aparecia a cinza. Basta lembrar que quase toda a comida era preparada em um fogão que era aquecido com a queima de lenha que produzia cinzas continuamente. Além de fogão, normalmente, fora da casa que se faziam os pães e outras variedades de alimentos (bolos, cucas, até batatas assadas, etc.). A cinza era uma presença permanente na vida da família.

Mais ainda, desde a mais tenra infância todos podiam ver e perceber que a cinza era resultado de uma transformação da lenha pelo fogo. De fato, o fogo por sua ação direta sobre a lenha produz a cinza. A cinza é, portanto, produto de uma mudança, de uma transformação. Isso acontece com todo tipo de lenha, sem exceção. Basta estar em contado com a fonte da transformação, o fogo, para acontecer a mudança.

Sabemos que a liturgia da Igreja Católica é essencialmente simbólica. Aliás, como toda a nossa Cultura o é. De fato, uma das teorias mais corroboradas é que o ser humano se percebeu diferente dos objetos que o cercava, quando inventou ou criou o primeiro símbolo. O ser humano é um ser simbólico. E toda a nossa comunicação humana é simbólica.

Deus, na Bíblia, Palavra de Deus, mostra-nos continuamente essa verdade. Deus para se comunicar, portanto, dialogar com o ser humano se serve de símbolos. E não poderia ser de maneira diversa, pois se usasse uma linguagem puramente divina, não seria entendido e compreendido. A Igreja, sendo o prolongamento do Cristo, na História e no espaço, não poderia fazer de modo diverso. Por isso, a sua comunicação tem que ser simbólica. Reitero, então, que, sobretudo, sua liturgia e essencialmente simbólica.

Um desses símbolos são as Cinzas, daí Quarta Feira de Cinzas. É o início da Quaresma, quarenta dias para refletir, discernir o que pode ser diferente em nossa vida, em todas as dimensões vividas. As cinzas nos lembram, de maneira simbólica, que como a lenha em contato com fogo é transformada, muda não só de aparência, mas o seu modo de ser, assim, o ser humano na Quaresma, em contato mais íntimo com Jesus Cristo e sua proposta de vida, vai causar uma mudança de vida, uma transformação, uma libertação das possíveis amarras (teologicamente denominadas de pecado) que nos escravizam ou limitam nossa possibilidade de fazer o bem, sobretudo, o bem comum.

As cinzas nos ensinam que é o Cristo, Filho de Deus, (simbolizado pelo fogo) que transforma, muda, liberta, desde que o ser humano entre em contado direto, num encontro pessoal, fraterno, franco com ele. A quaresma é esse tempo litúrgico que a Igreja, cada ano, põe à disposição de todos os que desejam viver em união com Jesus Cristo e viver sua Proposta de vida, a Boa Nova do Reino.

Quaresma, portanto, não pode ser, apenas, um tempo proposto por um calendário. Mas é um tempo de reflexão profunda a respeito da vida, para ver o está bom e tem que ser conservado e até melhorado, possivelmente, e o que está completamente distorcido e até contrário ao Projeto de Deus para a minha vida, em direção a felicidade, nesta e na outra vida que nunca acaba, na Casa do Pai.