Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Cultura e Descarte

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Cultura e Descarte

Pe. Adilson José Colombi

A Modernidade, como sabemos, trouxe grandes avanços em se tratando de Ciência e Técnica. Muitas realidades que eram muito trabalhosas e perigosas foram substituídas por instrumentos, inventados e criados pelo ser humano. Em muitos setores, não resta a menor dúvida, a máquina e outros inventos trouxeram economia de tempo e comodidades, inclusive no ambiente laboral. Aparentemente, houve uma “humanização” do trabalho e do ambiente de trabalho. Certamente, também vieram outros problemas que afetaram e afetam a vida do ser humano, no seu ambiente de trabalho. Muitas coisas começaram a ser descartadas. Porque não serviam mais.

A ideia do descarte, aos poucos foi se tornando uma presença bastante frequente, em todas as Culturas. Todas aquelas realidades que tinham algum defeito, desgastes ou começaram a ser estorvo e outras motivações eram simplesmente descartadas. Eram destinados ao lixo. Pouco a pouco foi se criando a “Cultura do Descarte”. Uma realidade que com o caminhar da História foi se tornado uma presença muito forte em todas as Culturas. Claro, na brasileira também. Por sinal muito presente em muitos aspectos.

Dizia acima que com o avanço da Ciência e da Técnica foram se criando muitos instrumentos e manufaturas que depois de certo tempo de uso, são descartadas. O montante foi crescendo acentuando mais problema para a cultura atual: o grande volume dos descartes. Onde encontrar espaço para acomodá-los. Boa parte, é possível reciclar. Mas, creio que as sobras dessa reciclagem são bem mais volumosas. Atualmente, o próprio descarte se tornou um enorme problema, em quase todas as Culturas. Além do mais, certos descartes necessitam de um cuidado particular e dispendioso. Nem sempre se tem as condições adequadas para seu armazenamento, criando mais problemas.

Hoje, porém, gostaria, apenas de salientar dois descartes que, a meu ver, estão cada dia mais presentes e volumosos em nossos ambientes. O descarte de alimentos e de pessoas humanas. Neste ponto, o Papa Francisco com frequência volta a esse assunto da Cultura do Descarte. De fato, numa Sociedade tão avançada em tantos setores, inclusive, no cultivo e colheita de alimentos, ter em seu seio um percentual tão alto de pessoas passando fome ou comendo alimentos, recolhidos em descartes. Infelizmente, a porcentagem, medida em números (toneladas) de alimentos que são perdidos, descartados, mal armazenados, etc. é impressionante. Começando em nossas casas mesmo. Basta prestar atenção no desperdício que acontece em nossas geladeiras ou freeser, na despensa. Quanta coisa descartada que vai para a lixeira. Tudo isso vai faltar na mesa de um faminto.

Como acontece todos os anos, em janeiro, o papa preside uma reunião de todo o corpo diplomático credenciado no Vaticano. Em sua fala, serviu-se de uma expressão – “cultura do descarte” – que caracteriza bem certas atitudes que se tornaram quase corriqueiras em muitas sociedades e culturas contemporâneas.

Nesta expressão, o papa incluiu, sobretudo, duas categorias bem conhecidas: a “cultura do descarte, tanto de alimentos quanto de pessoas”. Ao referir-se ao descarte de pessoas, salientou de modo veemente: “Infelizmente, não são apenas objeto de descarte alimentos e bens supérfluos, mas com frequência os próprios seres humanos, que são descartados como se fossem coisas desnecessárias”. E disse mais: “Causa horror pensar nas crianças que nunca poderão ver a luz, vítimas do aborto, naquelas que são utilizadas como soldados, violentadas ou assassinadas nos conflitos armados, ou naquelas feitas de objetos do tráfico humano, essa tremenda forma de escravidão, que é um crime contra a humanidade”.

É bom, com frequência, refletir a respeito desta atitude nossa.

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