“Dai-lhes vós mesmos de comer”
Em outro artigo, escrevi que diante da fome de alguém não é possível ficar tranquilo, sem ação. A fome de alguém questiona, interroga. Impele a agir. Trata-se de um apelo pessoal a tomar posição diante do faminto. Mas, será que é suficiente essa atitude? Segundo a Proposta de Jesus Cristo, não. Ele foi enfático em sua proposição: “Dai-lhes vós mesmo de comer”! Portanto, um questionamento e um apelo à Comunidade, representada pelos discípulos. O que e como a Comunidade e, sobretudo, a Comunidade Cristã vai realizar ou pode realizar diante do problema da fome de um irmão é o grande desafio e apelo feito, na vivência da fé.
Mais uma vez, entra em cena a dimensão social, comunitária da fé cristã. A fé verdadeira impulsiona a viver a caridade. Se o ser discípulo de Jesus, é renunciar a si mesmo, tomar a cruz e segui-lo, não pode faltar essa dimensão do amor-caridade. Principalmente, diante de situação inadiável e angustiante, como é a situação de um faminto. Os primeiros cristãos entenderam e viveram essa dimensão social da fé que se tornou um modelo de vida comunitária até hoje. O autor do livro dos Atos dos Apóstolos nos mostra, com clareza, ao relatar a vivência dessas comunidades: “não havia necessitados entre eles”.
O Texto-Base da CF23 nos indica algumas sugestões para as Comunidades Cristãs, apresentando várias propostas de ação comunitário-eclesiais que podem ser feitas. Vejamos algumas. Mas, quem estiver interessado pode consultar o Texto-Base da CF23, no seu número 167. Aí, vai encontrar essas sugestões. Darei alguns exemplos, sem citá-los textualmente.
Fazer um levantamento, com participação ativa das pessoas e grupos da comunidade, das pessoas e famílias que passam fome ou necessidade. O conhecimento da realidade sociocultural é sempre útil e até necessário para se planejar e executar os projetos pastorais da Comunidade. Sempre é bom também observar as condições de vida. Questionar-se a respeito dos motivos ou razões que levou a essa situação e ver o que pode ser feito para modificar a realidade à luz da Palavra de Deus.
Articular os Meios de Comunicação e as mídias digitais de inspiração católica para divulgar ações inspiradoras que já estão sendo feitas na superação da miséria e da fome.
Acolher, valorizar e incrementar a prática de hortas comunitárias e outras iniciativas em favor de uma alimentação saudável e compartilhada. Por outro lado, conscientizar as pessoas a evitar todo desperdício de alimentos e saber aproveitar certas partes dos alimentos que são dispensadas e que poderiam ser perfeitamente utilizadas e servidas sem nenhum prejuízo para a saúde e até poderiam enriquecer o cardápio.
Promover, por meio de investimento financeiro e pessoal, o Serviço da Caridade e as Pastorais Sociais que atuam diretamente na superação da desigualdade social e da fome. Em nossa Arquidiocese e, sobretudo, em nossa paróquia há a Ação Social Arquidiocesana que dá assistência e promoção a uma clientela significativa de pessoas carentes. Muitas, de fato, passando por sérias necessidades, inclusive fome.
A Campanha da Fraternidade propõe anualmente em gesto comum a todas as comunidades. É a Coleta Nacional da Solidariedade, realizada no Domingo de Ramos. Parte fica na Diocese e parte vai para CNBB, fazendo parte do Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) que, por meio de um conselho gestor, cuida para que a oferta de pessoas e comunidades seja partilhada entre os que precisam. A cada ano são recebidos e analisados projetos ligados ao tema da Campanha da Fraternidade.
São algumas sugestões. Mas, há outras também exequíveis e viáveis. Basta ser alguém ou ser uma comunidade criativa e inventiva para encontrar possíveis caminhos para somar-se aos que já estão engajados em iniciativas que auxiliam na multiplicação dos pães para saciar a fome dos famintos. “Dai-lhes vós mesmos de comer! ”.