Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Diálogo é mais que conversa

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Diálogo é mais que conversa

Pe. Adilson José Colombi

Trabalho na orientação de casais há muitos anos. Muitas vezes perguntei se conseguiam dialogar. A resposta quase sempre se resumia em: “sim, sim nós conversamos muito. A toda hora”. Bem, já é melhor do que nada. Mas, dialogar é mais que conversar. Para um diálogo de verdade, é necessário que as duas pessoas estejam querendo colocar a vida em comum. Em outras palavras, que saibam reconhecer a alteridade, ou seja, considerar o outro (a) como diferente. E saber respeitar essa diferença, inclusive sua individualidade e sua liberdade. Respeitá-la como pessoa humana que tem suas diferenças, que se bem conduzidas, podem e quase sempre enriquecem o diálogo.

Sem dúvida, o diálogo se inicia com uma conversa franca e amiga. Não pode, porém, permanecer nesse patamar. Porque essa também pode ocorrer até entre pessoas estranhas que, pouco ou quase nada tem em comum a não ser o fato de se terem encontrado e o assunto em pauta ser interessante e atraente. Mas, nada mais do que isso. Terminada a conversa, volta tudo no mesmo estágio.

O diálogo vai além, não é apenas um encontro e companhia com conversa agradável, amistosa e interessante. É troca de pessoas que já se conhecem e sentem uma amizade significativa. Conseguem expor-se e expor sua interioridade. Não é troca de intimidade, mas troca de interioridade. Daquilo que é próprio de cada um. Mas, que é posto livre e conscientemente em comum. É troca de experiências, de sentimentos íntimos em busca de um maior e melhor conhecimento mútuo, em vista do progresso e crescimento como pessoas e como união, gerando mais amor entre ambos. A conversa pode abrir para o diálogo que, por sua vez, se for conduzido com sabedoria e discernimento mútuo, suscita o amadurecimento do amor.

Dialogar, então, é mais do que se encontrar, do que conversar. É compartilhar a vida na sua totalidade. Partilhar o que pensamos, o que sentimos e condividir as aspirações e projetos de vida. Conversamos, sim, mas não tanto sobre coisas, dialogamos sobre pessoas com pessoas humanas. Mais precisamente sobre nós mesmos, sobre nossa vida, sobre nosso ideal de vida, sobre o sentido da vida, com suas vitórias e também a respeito das derrotas, das decepções, das alegrias e tristezas, não olvidando os limites e defeitos. Diálogo é troca de vidas humanas que se querem bem, ou melhor, que querem o bem do outro (a). Pessoas que querem caminhar juntas para crescer e amadurecer juntas, construindo um projeto de vida com rumo e sentido. Diálogo cria um estilo de vida próprio.

Diálogo, portanto, não é um momento de discussão, de esgrima de duas pessoas que querem “acertar as contas” ou impor suas ideias ou opiniões. Derrubar o outro (a) ou um interrogatório ao estilo policial, com intuito de intimidar ou suplantar a outra pessoa a fim de vencer a “parada” e até silenciá-la ou criar um ambiente de submissão ou medo. Pelo contrário, o diálogo verdadeiro é para criar elos, conexões de vida para gerar sempre mais condições de vida mais rica de sentido, de alegrias, de energias e forças comuns para encontrar possíveis soluções para os eventuais problemas que toda e qualquer vida está sujeita a tê-los. O diálogo não tira os problemas da vida, mas é um excelente instrumento eficaz para encontrar possíveis saídas para eles e que, sem ele, com muita frequência, tornam-se mais devastadores e destroem o que restava de respeito, amizade e possibilidade de convívio social.

O diálogo sincero e franco é sempre transformador, purificador, libertador e gerador de uma vida entre pessoas que querem crescer, amadurecer e construir juntos um projeto de vida, onde a fraternidade, a solidariedade e amor sejam o chão comum na estrada da vida. Vida que sem o diálogo não teria rumo certo e sentido. O diálogo nos torna sempre mais próximos e semelhante a Jesus de Nazaré. Ele é a Palavra que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14). Nosso Deus é um Deus dialogante, que fala e transmite vida. Jesus é o Diálogo Vivo. Com Ele, aprendemos a dialogar, se o seguirmos.

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