E o “Senhor vem”
Estamos terminando um ano e iniciando um novo. Não estou me adiantando, não! Pois, não estou me referindo ao ano civil. Que como todos sabem, termina no dia 31 de dezembro, em nossa Cultura Ocidental. Sempre com muita festa, ruídos de fogos de artifício e outros usos. Alguns, até exóticos. Não estou antecipando essas festividades de fim de ano. Estou me referindo ao Ano Litúrgico da Igreja Católica. Este, de fato, nunca coincidiu com o ano civil. Sempre tem seu início quatro semanas antes do Natal, com a Memória do Nascimento de Jesus de Nazaré (25 de dezembro). Estas são denominadas, liturgicamente, de Advento (palavra de origem latina que significa Vinda).
Advento, portanto, é tempo de preparação, de expectativa, de aguardo de alguma novidade. É, na verdade, a memória de toda aquela vida de espera, de expectativa, de preparação do Povo de Israel, o povo escolhido por Deus, o Povo Eleito, para acolher o Messias, o Libertador, o Redentor, o Salvador que os Profetas anunciaram com suas profecias, inspiradas pelo próprio Deus. Estes eram a “voz” de Deus, no seu do povo. As quatro semanas lembram os “tempos bíblicos” dessa ansiosa e desejada Vinda.
Por isso, os três domingos finais do ano litúrgico que está findando e as duas semanas do próximo celebram a certeza de que “o Senhor vem”. Todo o conjunto das Celebrações Litúrgicas são ricas de elementos que nos conduzem, por orientações concretas, pelo caminho da espera da Vinda do Senhor. Caminho que pede, como pediu ao Povo Eleito da Antiga Aliança, uma mudança de vida, de mentalidade, de estilo de vida. Teológica, litúrgica e pastoralmente tal atitude é chamada de “conversão”. Deixar na vida pessoal, na vida familiar, na vida comunitária e sociocultural um espaço maior para Deus. Não se trata, apenas, de se colocar somente, em clima de mais oração ou reflexão, mas de atitudes efetivas de amor a Deus e de amor ao Próximo. É o exercício prático da vivência das Bem-Aventuranças: portanto, vivência acentuada da simplicidade, da pobreza evangélica, das ações de partilha para os necessitados, do perdão, da reconciliação, da misericórdia, da justiça, de vestir os nus, de visitar enfermos….
Na verdade, não é nada mais, do que aquele pedido que, quem reza a oração, a única que Jesus ensinou, o “Pai Nosso”, quando pedimos: “… seja feita a vossa Vontade, assim na terra como no Céu”. Sim, Deus nos quer todos livres e participando da libertação que Jesus, “seu Filho muito amado”, veio trazer e operar com sua presença e doação de sua vida, entre nós. E Jesus continua “vindo” para todos os que o “esperam” e o “acolhem” com aquele espírito que as ”profecias proclamadas”, em nossas Celebrações Litúrgicas, fazem memória.
Mas, para isso, todos nós temos que nos reconhecer que somos fracos, frágeis, limitados, necessitados de forças, energias que não temos suficientes para nos libertar de nossas imperfeições, irresponsabilidades e deficiências diante de nossa vida, de nossa consciência, de nossos relacionamentos com os outros, com o mundo que nos cerca, sobretudo, nossa Casa Comum, com Deus. A isso tudo nós chamamos, teologicamente, de “pecado”. E a atitude de reconhecimento de nossa condição e situação humanas e vontade de mudar de “conversão”. Sabemos que Deus sempre está pronto a acolher, perdoar, abraçar, fazer festa para o filho/a que “volta” para o encontro com Ele. A “espera do Senhor que vem”, como uma certeza, e a “atitude de mudança de vida” (conversão) são o verdadeiro espírito da vivência efetiva do Advento. Consequentemente, o melhor caminho de preparação para a Celebração, de fato, do Nascimento de Jesus de Nazaré, hoje, para nós.