Faça essa experiência: seja voluntário
Na semana passada, aqui mesmo nesse espaço jornalístico, escrevi a respeito das fomes do ser humano. A sua atitude constante em busca de sua realização pessoal, vida plena, felicidade, paz, amor…. E dizia que essa fome é saciada pelo encontro do caminho do amor. Assumir esse caminho, mas para isso é necessário esvaziar-se de si mesmo para dar espaço interior para acolher o outro (próximo) e a Deus. Seguindo o rumo apresentado por Jesus de Nazaré, por palavras e pelo testemunho: “Eu vim não para ser servido, mas para servir”. Disse e fez. Fazei isso e tereis vida e vida em abundância.
Certamente, há muitas maneiras de servir. São múltiplas as possibilidades de experienciar, vivenciar, na prática, essa dimensão de serviço em nossa existência. Hoje, gostaria de fazer refletir sobre uma delas. Creio que seja possível e acessível, quase para todos: ser voluntário. Trata-se de uma escolha consciente e livre. Porque é uma decisão de nossa vontade (voluntas – em latim), depois de examinar bem com a nossa razão. Voluntariado, portanto, é ser voluntário. É saber usar sua vontade, consciente e livremente, em favor de outrem ou de algo. É colocar-se numa atitude efetiva de exercício da gratuidade. É o testemunho concreto da solidariedade, da fraternidade.
Ser voluntário, no dizer do Papa Francisco “é vestir o avental e se inclinar para servir os irmãos em dificuldade, particularmente, os pobres”. Ser voluntário é seguir o exemplo do bom samaritano do Evangelho. É ser capaz de não só ver, ou menos ainda criticar apenas, mas arregaçar as mangas e buscar, com outros, possíveis soluções para os problemas que a vida põe em nosso caminho. Ser voluntário é a maneira mais prática de não ser omisso. Omissão é o grande pecado do crente e do não-crente. De uma ou de outra forma, todos nós a vivenciamos, quase todos os dias. Talvez, todos os dias.
Ser voluntário não pode resultar, apenas, de um impulso cheio de “boa vontade”. De um momento de inspiração ou de emoção diante de certas circunstâncias. Pelo contrário, como foi já acenado acima, tem que ser fruto de escolha, de opção, de decisão livre e consciente. Portanto, resultante de reflexão, de discernimento. Talvez até, de aconselhamento. Porque empenha a vida pessoal e, muitas das vezes, implica o consentimento de outros, aos quais estamos relacionados. Além disso, não bastam, como se costuma dizer, “da cara e coragem”. Ser voluntário exige uma série de virtudes que nem sempre são naturais. Normalmente, exige preparo, desprendimento, paciência, compreensão, amor, generosidade, capacidade de lidar com o diferente, abnegação, crer no ser humano, além de Deus.
Ser voluntário é um modo de ser grato a Deus por tudo o que somos e possuímos. Por isso, é o exercício efetivo da gratuidade. Não foi à toa que o próprio Jesus de Nazaré disse: “tudo o que fizeres a um desses pequeninos é a mim que o fizeste”. É uma maneira de devolver a Deus o que é de Deus. Pois, como nos assevera são João, em sua carta, “Deus é amor”. Portanto, fomos criados “imagem e semelhança” dele. Somos agraciados com o amor de Deus. Amar o “irmão, sobretudo, o mais necessitado” é a maneira humana de dizer a Deus que somos gratos, “por nos ter amado primeiro”.
Ser voluntário é, sem dúvida, excelente modo de seguir o Mestre Jesus, o Voluntário do Pai. É colocar nossa pessoa, nossa cultura, nosso tempo, parte de nossos bens materiais se necessário, a serviço dos irmãos (ãs). Tudo isso, evidente, de maneira totalmente desinteressada. Por isso, o gesto do voluntário, em hipótese alguma, pode visar interesse de qualquer ordem. Menos ainda, lucro, vantagem de qualquer tipo. Tem que ser, necessariamente, pura doação, entrega, generosidade, gratuidade, amor.