Farattelli Tutti: uma visão inclusiva
O Papa Francisco, dentro do fenômeno da globalização, propõe a Parábola do Bom Samaritano como um exemplo de superação dessa realidade sociocultural de banalização da Vida, sobretudo a humana, e da desvalorização do ser humano, da pessoa humana, como caminho para gerar um mundo hospitaleiro. Nossa cultura atual, resultado em grande parte, da globalização reduziu o ser humano a um consumidor encerrado no seu individualismo e um espectador passivo do mundo circunstante.
Para essa superação, é necessário descobrir ou redescobrir o valor da existência humana, nos rostos concretos de seres humanos. Estar abertos a criar relações humanas fundadas no amor que permite o surgimento da amizade social e da fraternidade (nº 86 e seguintes). Acolhendo as diversidades de vários matizes e trabalhando para o surgimento de unidade, que não vise a homogeneizar, uniformizar, dominar.
A proteção das diferenças é o critério da verdadeira fraternidade. Amizade social e fraternidade não excluem as diferenças, mas as incluem (nº 95), na “comunhão universal” para “uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros” (nº. 96). Somos irmãos porque, ao mesmo tempo, somos iguais e diferentes: “É preciso se libertar da obrigação de ser iguais”.
Francisco também fala dos desafios a serem enfrentados para que a fraternidade não permaneça somente como uma abstração, mas ganhe corpo. Entre a proteção às diferenças, Francisco se ocupa principalmente com os migrantes. Sugere uma reflexão e ação, servindo-se dos quatro verbos: Acolher, proteger, promover e integrar. Com efeito, não se trata de “impor do alto programas assistenciais, mas de percorrer unidos um caminho através destas quatro ações” (n. 129).
Francisco oferece indicações muito precisas (cf. n. 130). Mas, em particular, detém-se sobre o tema da cidadania. Falar em “cidadania” afasta a ideia de “minoria”, que carrega consigo as sementes do tribalismo e da hostilidade, e que vê no rosto do outro a máscara do inimigo.
Por outro lado, o papa evidencia o fato de que a chegada de pessoas que provêm de um contexto vital e cultural diferente se transforma em um dom para quem as acolhe: é um encontro entre pessoas e culturas que constitui uma oportunidade de enriquecimento e de desenvolvimento. E isso pode ocorrer se se permite que o outro seja ele mesmo.