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Frattelli Tutti: a Pessoa inserida na Comunidade

No artigo anterior, notamos que o Papa Francisco, põe a Pessoa Humana como foco fundamental da Sociedade e da Cultura. Não se trata, porém, da pessoa humana, isolada, à parte. Portanto, o indivíduo, formado ao longo da Modernidade: racional, individualista, egoísta, materialista, agnóstico, alheio aos valores espirituais, pós-moderno. Não é do seu interesse “salvar” esse […]

No artigo anterior, notamos que o Papa Francisco, põe a Pessoa Humana como foco fundamental da Sociedade e da Cultura. Não se trata, porém, da pessoa humana, isolada, à parte. Portanto, o indivíduo, formado ao longo da Modernidade: racional, individualista, egoísta, materialista, agnóstico, alheio aos valores espirituais, pós-moderno. Não é do seu interesse “salvar” esse indivíduo (moldado pela Modernidade) centro de direitos privados, voltado para si mesmo, alheio ao “outro”.

A fraternidade entendida, segundo a Frattelli Tutti, inverte a lógica de boa parte, senão toda, da Humanidade com tanta violência, guerras, agressões, fome, miséria, desrespeito à vida, à pessoa humana, etc, etc…. Pelo contrário, cria um estilo novo de vida com outros relacionamentos pessoais e socioculturais. Outras maneiras de encontros, de comunicação, de amizades, de pertença a grupos e comunidades. A fraternidade permite que os iguais sejam pessoas diferentes. O ódio elimina o diferente. A fraternidade constrói uma Sociedade e Cultura diferentes da atuais.

Da mesma maneira, percebo que o Papa Francisco não quer, apenas, acentuar a defesa da pessoa humana contra a opressão das estruturas o que facilmente poderia insinuar uma volta às velhas reações individualistas ou socialistas comunitárias ditatoriais reavivadas. Pelo contrário, mas, quer considerar a pessoa humana na sua imersão (inserção) na comunidade e na realidade humana global. Sem esses inserimentos na comunidade seria trair o próprio fundamento da proposta da Carta Encíclica Fratelli Tutti: os valores do Evangelho ou Boa Nova do Reino. Daí a ligação imprescindível entre pessoa humana e comunidade. Impossível separar.

A Encíclica papal parece-me propor ou repropor a construção de um grande “Nós”, a fim superar a equação “nós e os outros”. Os “outros”, na Sociedade e Cultura atuais, não fariam parte do “nós”: são os excluídos, marginalizados. O Papa começa por apresentar, de maneira bem viva, a situação e a condição atual: um “nós” dilacerado e dividido, ferido e desfigurado. Isto se verifica, sobretudo, nos momentos de maior crise, como agora com a pandemia. Os nacionalismos fechados e agressivos (cf. Fratelli tutti, 11) e o individualismo radical (cf. ibid., 105) que desagregam ou dividem o “nós” tanto no mundo como dentro da Igreja. E o preço mais alto é pago por aqueles que mais facilmente se podem tornar os outros: os estrangeiros, os migrantes, os marginalizados, que habitam as periferias existenciais.

A pandemia, no momento presente nos colocou no mesmo barco e somos chamados a empenhar-nos, se quisermos um estilo de vida diverso para o “nós”, portanto, um novo amanhã para a Humanidade, temos que lutar para que não existam mais muros que nos separem, nem existam mais os outros, mas só um “nós”, do tamanho da Humanidade inteira.

O remédio contra o egoísmo e o individualismo são a “fraternidade e a amizade social”. A comunidade, seja familiar ou outra que congregue num pequeno “nós”. São “porções do Grande Nós, a Humanidade, com justiça, paz, alegria de viver, amor…