Laicismo, uma presença forte em nossa Cultura
Certamente, você, caro leitor e estimada leitora, já leu ou escutou muitas vezes esta palavra: laicismo. É um modo de ver e de querer construir a realidade sociocultural. É claro que como quase tudo, na Cultura, vem da Filosofia. Não poderia ser de outro modo. Mas, já parou para refletir de onde vem essa maneira de ver e de construir a Sociedade e a Cultura. Só para começar a reflexão, depois quem sabe compulsar um bom autor de História da Filosofia Moderna ajuda bastante.
As sementes ou as ideias básicas do Laicismo foram semeadas, de modo mais explícito, nos últimos séculos da chamada Idade Média. Depois, se tornaram mais presentes e atuantes na Renascença e Humanismo do século XVI, sobretudo na Itália. Mais presente nas Artes que na própria Filosofia. Procurou-se ressaltar os valores naturais e humanos, mais do que os valores sobrenaturais ou espirituais
Todavia, esses valores naturais e humanos foram mais exaltados e apresentados, por pensadores franceses (René Descartes, Baruch Spinoza, por exemplo) e por pensadores ingleses (Por exemplo, Francis Bacon, Thomas Hume e John Locke). A Razão humana como único meio de chegar ao conhecimento da verdade e a Ciência e Técnica (com seu método científico) único caminho para conhecer e analisar a realidade total. Esses pensadores franceses e ingleses são, sem dúvida, os grandes mentores do Racionalismo e o Empirismo. Outros depois, como o alemão Emmanuel Kant vão dar sua substancial contribuição para, principalmente, no século XVIII.
A França do século XVIII foi a grande incentivadora da proposta filosófica e cultural do Iluminismo. O Iluminismo tem seu fundamento básico no Racionalismo e no Empirismo. O Iluminismo é um sistema filosófico que se faz presente em todos os setores da sociedade e da cultura. Sua maior característica é a crença no poder quase ilimitado da racionalidade humana. A razão humana é capaz de buscar as respostas para os problemas humanos, por meio da Ciência e da Técnica. Dispensa qualquer manifestação espiritual ou abertura para a Transcendência. Trouxe para a Humanidade muitos avanços científicos e técnicos. Mas, também posicionamentos sociais, políticos, religiosos e culturais que favoreceram uma laicidade exacerbada. O Iluminismo considera todas as religiões como subculturas.
Esse Iluminismo entrou na Sociedade e Cultura Brasileiras já no século XVIII com a Inconfidência Mineira e pela influência do Marquês de Pombal. Contudo, foi no século XIX, com a Campanha da Abolição da Escravatura e pela difusão das ideias republicanas, por um grupo preparado e quase fanáticos das Ideias de Auguste Comte, filósofo/sociólogo francês e Fundador do Iluminismo que nasceu a nossa República.
Proclamada a República, nossa educação pública, sobretudo, começou sua orientação iluminista. Dessa forma, pouco a pouco, foi entrando em nossa Cultura a visão mais iluminista, portanto, mais laical. Os valores judeu-cristãos foram, gradativamente, minados ao longo dos anos. Não só minados, mas substituídos por outros laicos. Da secularização passou-se a um Secularismo e a um Ateísmo Prático.
Para isso acontecer, contribuiu grandemente a linguagem, habilmente utilizada por certos grupos ideológico-políticos que foram permeando o meio cultural, em todos as suas manifestações, anestesiando o poder de reflexão de muitos. E o laicismo associado a um ateísmo prático se estabeleceu e está aí dando as cartas.
P. Adilson José Colombi scj, prof. de Filosofia.