Não se fabrica profeta
Hoje, com frequência se fala em profeta, profetismo. Muitos padres, pastores e leigos se auto intitulam de profetas. Tem profeta para todos os gostos e ocasião. Alguns com intuito velada ou abertamente político. Até se escoram em passagens bíblicas. Será que é bem assim a missão do profeta. Penso que não. Basta dar uma olhada, […]
Hoje, com frequência se fala em profeta, profetismo. Muitos padres, pastores e leigos se auto intitulam de profetas. Tem profeta para todos os gostos e ocasião. Alguns com intuito velada ou abertamente político. Até se escoram em passagens bíblicas. Será que é bem assim a missão do profeta. Penso que não. Basta dar uma olhada, com um pouco de atenção, na própria História do Povo Eleito. O povo escolhido por Deus para ser o depositário das promessas da vinda do Messias libertador. Não havia proliferação de profetas. Poucos, até certos momentos históricos, nenhum. Outros momentos, um pouco mais.
Mas, sempre com a mesma missão: animar a esperança do povo, a partir das promessas feitas de libertação por um Messias que seria enviado por Deus. Portanto, suscitar alimentar a esperança. Assim foram os profetas de Israel que continuam sendo o paradigma da missão do profeta. Evidente, hoje, já com a promessa de libertação realizada por Jesus, o Filho de Deus, que “armou sua tenda entre nós”, como nos diz João no prólogo de seu Evangelho.
Quem é cristão/ã sabe que o batismo lhe confere o sacerdócio comum dos fiéis que inclui a missão de ser profeta. Isso equivale dizer que temos a missão de anunciar e testemunhar pelo estilo de vida a Proposta de libertação da Boa Nova do Reino. Nesse sentido, todos os batizados/as são profetas. Todavia, nem sempre todos vivam autenticamente essa proposta de vida.
A situação e as circunstâncias da vida pessoal e sociocultural, muitas vezes, o povo de Deus se afasta desse caminho. Então, surge o profeta ou profetas suscitados por Deus para lembrar ao povo de Deus sua vocação de ser parceiro na construção do mundo. O profeta lembra que a vocação do povo de Deus é a esperança na realização da libertação, da salvação que Jesus operou com sua Morte e Ressurreição e que quer que nos associemos a ela. Assim, o profeta lembra ao povo de Deus que, mesmo num mundo consumista e hedonista, como o nosso, é possível outro mundo, o mundo da liberdade dos filhos de Deus, segundo São Paulo.
Portanto, não se trata de qualquer anúncio, menos ainda de cunho meramente político ou ideológico, seja qual for o colorido desta ideologia ou política. O profeta de verdade está a serviço da libertação total da pessoa e do povo, que esqueceu de trabalhar para a libertação de todos, abrigando desvios que impedem esse projeto de vida. O profeta é aquele que denuncia esses descaminhos e clama para voltar a trabalhar para a construção do bem comum. Buscando motivação sempre para a libertação de todas as escravidões socioculturais, sem jamais perder de vista a libertação, a salvação definitiva na Casa do Pai.
Jesus será sempre o modelo de profeta. Ele realizou com perfeição a sua vocação profética. Foi profeta por excelência. Veio lembrar com sua palavra, gestos e testemunho a vocação verdadeira de seu povo. Denunciou os desvios, mas mostrou com seu exemplo e estilo de vida o caminho da verdadeira libertação. Nele todos somos chamados a segui-lo, individual e coletivamente, a nos deixarmos impulsionar por essa esperança e trabalhar para criação condições da efetivação dessa esperança na libertação para todos, sem exceção. Por isso quer que seu discípulo/a ou seguidor/a seja “sal da terra” e “luz do mundo”, para dar gosto a vida e iluminar todo o ambiente. Essa é a missão do verdadeiro profeta e da própria Igreja.