O ateísmo prático
Na semana passada, embora de maneira sucinta e esquemática, vimos o itinerário da formação da trajetória do desligamento e afastamento do ser humano ocidental da fé cristã e da própria crença religiosa em geral. E alertava, na ocasião, que nós, brusquenses, somos ocidentais e não estamos imunes à mentalidade sociocultural que respiramos todos os dias. E, que muitas pessoas e famílias já estão vivendo.
Esse clima reinante da Modernidade, fruto dessa combinação de ideias que vicejaram a partir da Renascença, está atuante sempre mais em nossos ambientes familiares e socioculturais. A Sociedade e a Cultura que estamos inseridos favorece esse desligamento e afastamento de Deus. Isso não é fruto de um raciocínio, mas de um estilo de vida que não quer mais refletir sobre sua relação com Deus. Deus é considerado como um obstáculo à sua vontade de autonomia e de liberdade. Como alguém que limita as decisões e as opções. O ser humano, formado na mentalidade moderna, é cioso de sua liberdade e cultiva seu individualismo exacerbado. Então, de modo quase instintivo, afasta toda relação com Deus ou a põe entre parêntese, e se faz senhor de sua própria história. Vive como se Deus não existisse.
Por outro lado, não é um ateu confesso. De jeito nenhum. Se for questionado se crê em Deus, afirma positivamente sem qualquer aceno de incredulidade. Não é questão de reflexão, de uma decisão refletida, mas de praticidade. Sua vida é vivida como se tudo dependesse, apenas, dele. Ele pensa que se basta a si mesmo. A esse individualismo soma uma busca permanente e sempre mais intensa de acúmulo de “coisas” (materialismo), a busca incessante do “ter”. Está feita a combinação perfeita para o ateísmo prático. Esse pode ser traduzido na expressão: “para que colocar Deus na minha vida, se eu posso sozinho realizar e ter tudo o que desejo e quero”. Deus, então, é supérfluo. Não soma nada para a minha vida. A praticidade dispensa Deus!
No plano ético e moral, nesse clima de ateísmo prático, aspira sempre mais a uma autonomia ou independência absolutas. Tende progressivamente a rejeição de toda norma ou lei moral que venha de fora (da moral cristã, por exemplo). O individualismo cultivado e vivido não admite qualquer constrangimento moral. Seria cercear sua sede de autonomia e independência individuais. Deus se torna um adversário, mais até, um inimigo da sua liberdade. Pouco a pouco, vai dispensando toda a observância dos preceitos e normas, que fluem da vivência da fé cristã.
Mas, como tem ainda alguma consciência cristã inconscientemente presente, procura apaziguar sua consciência, buscando aqui e ali, em filosofias ou até experiências religiosas, muitas exóticas, alguma “religiosidade” estritamente individual, desligada de qualquer instituição. Assim, vai formando sua religião e também seu “deus”, com seu rosto e com seu jeito, presta um culto típico dele. Uma crença e uma vivência religiosa, poderíamos até chamar de “laica”, mas que para esse ser humano que vive o ateísmo prático lhe dá uma satisfação de vida interior e até a sensação de estar quites com sua consciência que ainda traz, ainda que, palidamente, a marca de uma Cultura cristã.