Reino de amor e serviço
No domingo passado, a Igreja Católica celebrava a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Claro que não é um rei como os que nós, seres humanos, temos em nossa história político-social. Até hoje, muitos povos e Nações têm, na condução de seus Estados ou Nações, reis ou rainhas. Muitos exercem esse reinado em benefício próprio ou de sua família ou seu grupo privilegiado. É evidente que o Reinado de Jesus de Nazaré não é desse naipe. Tem outro conteúdo e outro modo muitíssimo diverso dos reinos puramente humanos.
Sim, a liturgia da Solenidade de Cristo, Rei do Universo deixa claro, no entanto, que essa realeza não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma realeza que se exerce no amor, no serviço, no perdão, no dom da vida. E o trono desse Rei é a Cruz, sinal de doação e de entrega ao Pai e aos irmãos/ãs. A diferença, portanto, está no Amor. Esse é o conteúdo fundamental e imprescindível na vida e no exercício do ato de reinar, segundo Jesus. O modo de reinar está no serviço desinteressado e gratuito. Foi assim que Jesus de Nazaré se tornou Rei do Universo.
A cruz – ponto de chegada de uma vida gasta a construir o “Reino de Deus” – é o trono de um Deus que recusa qualquer poder e escolhe reinar no coração dos seres humanos, por meio do amor e do dom da vida. A Cruz, então, não é somente, como alguns pensam, um símbolo de sofrimento e de dor. Não, ela é, antes de tudo, sinal de vida de entrega e de amor, vivendo os compromissos próprios da missão de cada um/a. Portanto, viver os compromissos de Cristão/ã e de Cidadão/ã, com maturidade e responsabilidade.
Em termos pessoais, a Solenidade de Cristo Rei convida-nos, também, a repensar a nossa existência e os nossos valores. Diante deste “rei” despojado de tudo e pregado numa cruz, não nos parecem completamente ridículas as nossas pretensões de honras, de glórias, de títulos, de aplausos, de reconhecimentos? Diante deste “rei” que dá a vida por amor, não nos parecem completamente sem sentido as nossas manias de grandeza, as lutas para conseguirmos mais poder, as invejas mesquinhas, as rivalidades que nos magoam e separam dos irmãos/ãs? Diante deste “rei” que se dá sem guardar nada para si, não nos sentimos convidados a fazer da vida um dom?
O Evangelho, a Boa Nova do Reino, apresenta-nos a realização dessa promessa: Jesus é o Messias/Rei enviado por Deus, que veio tornar realidade o velho sonho do Povo de Deus e apresentar aos homens e mulheres o “Reino”; no entanto, o “Reino” que Jesus propôs não é um Reino construído sobre a força, a violência, a imposição, mas sobre o amor, o perdão, o dom da vida.
A Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo a todos/as nos interroga e nos questiona a respeito de nosso estilo de vida. Questiona profundamente, sobretudo, os que detém o poder, em nossa Sociedade e Cultura. Não importa qual seja esse poder. Creio, porém, que deveriam prestar mais atenção a essa proposta de realeza de Jesus, as pessoas que têm envolvimento direto com o poder e a autoridade que afetam considerável porção do povo, em sua vida diária.