A subida: do humano ao Divino
A nossa Matriz São Luiz Gonzaga, situada no centro de Brusque, foi concebida pelo engenheiro-arquiteto alemão Gottfried Böhm, protestante, e foi construída pela comunidade católica. Ela também, em seu projeto, contém uma concepção teológico-pastoral-litúrgica de alto valor. Creio que poucos brusquenses conheçam esse conteúdo que serviu como inspiração do arquiteto. Por isso, tentarei, em poucas palavras, tecer algumas considerações que poderão ser acrescidas por outros que, certamente, terão também algo a dizer sobre a temática, aqui, abordada.
Para quem tem, ao menos, uma fotografia da fachada da Matriz, perceberá que ela está no alto do morro, mas tem sua ligação com o que está em baixo (a planície). Isto é, todo o projeto arquitetônico está estruturado no sentido ascensional. Parte, então, do plano bem terra-a-terra, o nível do terreno, do urbano, do profano, numa palavra, do humano (O nível da “cidade dos seres humanos”, homens e mulheres).
Deste plano humano, sobe-se para o divino. Como? Aí, está toda a visão arquitetônica: o ser humano (homem e mulher), sentindo o apelo do Senhor, “sobe” a escadaria bastante ampla e longa. O ser humano sai de sua condição e situação puramente humana (de pecado) e é envolvido pela dimensão do divino (da graça). Esta “subida” simboliza a subida do Calvário do Cristo. O Calvário para o Cristo, representou e representa a doação máxima de sua vida e da obra ao Pai. O Calvário é a plenificação, a realização plena, pelo Cristo, do projeto, do plano de redenção, de salvação, de libertação do ser humano. Em Cristo, na Cruz, se completaram todas a promessas de salvação do Pai. Ninguém vai ao Pai senão pelo Filho, Cristo Jesus. Por outro lado, ninguém chega à Páscoa da Ressurreição (salvação-libertação) sem passar pela Sexta Feira Santa (Calvário). E, Jesus disse e continua dizendo: “Quem quiser ser meu discípulo tome sua cruz e me siga (Mt 16,24).
Como segui-lo? No topo do Calvário, o ser humano, contemplando a Cruz, aderindo à Pessoa e à Proposta de vida de Cristo (a fé) e inserindo-se em uma comunidade de irmãos (ãs) (Cf Lc 9,22), coloca-se no caminho do seguimento do Cristo.. Aqui, se dá a passagem (Batismo) que é dom de Deus (apelo-chamado), mas também resposta humana (aceitação-adesão-entrega). É o mergulho na vida e na morte de Cristo.
Por isso, ao chegar ao topo da escadaria, o peregrino (somos todos peregrinos nesta terra) encontra o Batistério (local onde ocorre o Batismo), elemento arquitetônico que faz a ligação entre a “subida do Calvário” (fé) e a “entrada” na Igreja (a comunidade de fé). É oportuno observar que a entrada, por excelência, na Matriz não são as portas bem amplas, mas a estreita (a menor). É referência a passagem bíblica no evangelho de Mateus 7, 13 “Entrai pela porta estreita. Porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que tomam rumo por ele. Mas é estreita a porta e apertado o caminho que conduz aà vida, e como são poucos os que o encontram”.
A passagem, portanto, da vida puramente humana para a vida da Graça, a vida divina, a vida nova (Cfr. Rom 6,2-3). Recupera-se, desta forma, o rico simbolismo do Batismo, rito de entrada na Igreja, Povo de Deus, peregrino neste mundo em busca da Pátria definitiva. O Batismo introduz e insere o batizado (a) na Comunidade crente e orante, que é alimentada pela Palavra Viva e pelo Pão Vivo descido do Céu. Estamos no interior da Matriz, onde somos envolvidos, sobretudo, pelos símbolos que fazem memória da Instituição da Ceia do Senhor, a Eucaristia. (continua).