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Superação do olhar de indiferença

A CF2020 nos faz refletir a respeito do olhar humano. Para tanto, apresenta-nos o olhar do samaritano da Parábola do Evangelho de Lucas (Lc 10, 25-37), como inspiração e iluminação. Um olhar descrito dessa forma: “Ele viu, teve compaixão e cuidou dele”. Um olhar muito diferente do olhar humano do comum dos mortais, hoje. Sente-se […]

A CF2020 nos faz refletir a respeito do olhar humano. Para tanto, apresenta-nos o olhar do samaritano da Parábola do Evangelho de Lucas (Lc 10, 25-37), como inspiração e iluminação. Um olhar descrito dessa forma: “Ele viu, teve compaixão e cuidou dele”. Um olhar muito diferente do olhar humano do comum dos mortais, hoje. Sente-se uma necessidade premente: uma conversão radical. Portanto, uma mudança nesse olhar que se tornou corriqueiro. Olhar indiferente. Quem está gritando por essa mudança é a própria vida, em todas as suas dimensões: pessoal, sociocultural, socioambiental e espiritual.

A Campanha quer nos ensinar, educar-nos a fim de começar a deixar de lado, quanto antes, o olhar de ódio, de vingança, de indiferença e assumir efetivamente um olhar de amor, de compaixão e de cuidado. Aprender a enfrentar as causas da violência e da morte e a assumir a defesa e a promoção da vida em todas as suas instâncias, desde a fecundação até a morte natural. Por isso, a Campanha apresenta a vida como “dom e compromisso”. Dom porque ninguém se deu a vida a si mesmo e compromisso consigo, com o outro, com mundo (nossa Casa Comum) e com Deus. Ninguém é uma ilha. Nossa vida é essencialmente relacional, dialógica, comunicativa e aberta. Ninguém se basta a si mesmo isoladamente. Somos todos dependentes, uns mais outros menos. Mas, todos.

A vida real do dia a dia, porém, ocorre justamente o contrário. O que se vê e se observa, com relativa frequência ao nosso redor, é ameaça constante a vida. Pobreza e exclusões, devastação ambiental, desprezo e banalização da vida, violência e morte (assaltos, trânsito, drogas…), isolamento, individualismo…. Tudo passou a ser tão “natural”. A sensação que parece prevalecer que se perdeu sensibilidade para com a dor, sofrimento que acontecem ao nosso lado, nas portas de nossas casas. Grassa sempre mais e fortemente a indiferença. Às vezes, nota-se mais “compaixão ou cuidado” com cãozinhos e gatos maltratados, machucados e mortos que com seres humanos, na mesma situação. (Por favor, não deduza que seja a favor de maltratos aos animais).

Contra essa anestesia bem generalizada, ocorre, porém, uma reação saudável a favor da vida em todas as suas dimensões. Ainda é bastante tímida. Penso que a CF2020 é um belo exemplo no esforço de superar a indiferença diante da vida e tentar abrir pistas para um olhar acolhedor, fraterno, solidário. Um olhar de samaritano. Sem dúvida, é um forte apelo a todos os seres humanos que ainda acreditam, prezam e querem lutar para que a vida tenha mais condições favoráveis para as suas várias manifestações.

Para isso é preciso criar condições para o surgimento de uma “Cultura do olhar compassivo e do cuidado efetivo”. Trata-se da superação do olhar de ódio, de vingança e de indiferença, criando a mentalidade de fraternidade, de solidariedade e de amor. É preciso dizer e mostrar que a pessoa humana é capaz disso e que é capaz também de criar estruturas socioculturais, aptas para implementar tal mentalidade. Claro que tudo isso exige um estilo de educação familiar, escolar, sociopolítica, espiritual com parâmetros muito diferente dos atuais. É necessário rever a nossa escala de valores pessoais, socioculturais até religiosos e espirituais e começar a exercitar efetivamente atitudes que evidenciam outro modo de olhar, que o da indiferença.