Tempo de olhar para o eterno
No domingo passado, começou o Advento. Para a Igreja Católica, é o início de um novo Ano Litúrgico. Advento, palavra derivada do latim “adventus”, que significa “chegada” ou “vinda”. Para os romanos, era o tempo em que se aguardava a chegada de alguém importante a uma aldeia ou cidade. Tempo de preparação, de expectativa. A Igreja se serve desta palavra para designar, justamente, o tempo de preparação e de expectativa do Natal, Memorial do nascimento do Menino Jesus, em Belém de Judá.
Não há liturgicamente a data precisa de quando se iniciou esta prática litúrgico-pastoral. Todavia, desde o século IV temos notícias, de sua presença como tempo de abertura do Ciclo Natalino e, sobretudo, preparando a solene celebração litúrgica do Natal do Senhor Jesus. São quatro semanas de expectativa pela vinda do Senhor com sua proposta redentora, onde a esperança de libertação é renovada e atualizada nas celebrações e na vida cristã de cada cristão (ã) e da comunidade eclesial.
O Advento é celebrado em duas dimensões. Nas duas primeiras semanas, o “Advento Escatológico” (Escatologia= referimento a consumação de todas as coisas no final dos tempos) que celebra a vinda gloriosa de Cristo no fim dos tempos e o “Advento Natalino” que visa à celebração do Natal histórico na gruta de Belém.
Este Natal histórico não é a mera celebração do fato histórico de Belém, como se fosse a comemoração do aniversário de nascimento de Jesus. Mas aqui, vai além do fato histórico. Por isso, não se leva em conta, apenas, o fato histórico em si, mas a contínua atualização do conteúdo do acontecimento de Belém: a efetivação real da promessa de libertação do Pai, na Pessoa de seu Filho Jesus, do Povo de Deus. É esta atualização da libertação, da redenção, da salvação que Jesus conquistou que é celebrada para ser vivida, hoje, por todos os que, com fé, acolhem e seguem o Deus\Menino, nascido em Belém. “E o Verbo se fez carne e armou sua tenda entre nós” (Jo 1,14).
Esta é a verdade de fé que o Advento nos recorda e nos apresenta para vivê-la sempre mais intensamente. Verdade que, como seguidores (as) de Cristo, somos chamados a traduzi-la em gestos e atitudes de justiça, de acolhida misericordiosa, de perdão, de amor. Pois, seremos julgados, no final de nossos dias, pelo amor misericordioso do Senhor, por estas atitudes e gestos efetivos que praticamos em vida ou deixamos de praticá-los, omitindo-nos. Este será o nosso Natal verdadeiro: nascemos para o Senhor para sempre.
Hoje, vivemos em sociedade e cultura do consumismo, do imediato, do descartável. Não há tempo para espera, expectativa. Não há mais muita paciência em esperar. Cultiva-se o “já\agora”. O Advento perde-se no meio dos interesses comerciais de presentes, de comidas e bebidas, de comemorações de fim de ano. Mesmo católicos/as, boa parte não sabe e outros não dão a mínima para o conteúdo espiritual do Advento, tempo forte litúrgico para melhorar a qualidade da vivência da fé.
Cuidado para não “envernizamos” a preparação do Natal, apenas, com alguns gestos magnânimos em favor de “algum natal dos pobres”. Seria uma “pobre preparação” da Vinda do Menino/pobre de Belém. Embora já seja alguma coisa bastante interessante e boa, mas… seria baratear o Advento. Podemos realizar mais… Como? Cada um/uma veja como viver, com maturidade e responsabilidade, seu Advento olhando para o Eterno.