Valor quase esquecido
Vivemos, em uma Sociedade e Cultura aceleradas, barulhentas, agitadas, fragmentadas. Somos constantemente distraídos com propagandas faladas, cantadas, visuais, virtuais, chamando-nos para compras, participações em eventos de todos os naipes, normalmente, com rumores, agitação, ritmos, alguns alucinantes. Estamos, gradativamente nos habituando a esse estilo vida. Quando permanecemos sem sua presença, parece nos faltar algo, como se […]
Vivemos, em uma Sociedade e Cultura aceleradas, barulhentas, agitadas, fragmentadas. Somos constantemente distraídos com propagandas faladas, cantadas, visuais, virtuais, chamando-nos para compras, participações em eventos de todos os naipes, normalmente, com rumores, agitação, ritmos, alguns alucinantes.
Estamos, gradativamente nos habituando a esse estilo vida. Quando permanecemos sem sua presença, parece nos faltar algo, como se fosse uma lacuna ou um vazio que nos causa estranhezas. Muitos correm para encontrar sucedâneos, alimentando os ouvidos e seu interior com o alimento do mundo contemporâneo: o barulho, o rumor. Não é difícil encontrar jovens, também outros nem tão jovens, com celular com fone de ouvido perfeitamente audível para os circunstantes, carros transitando com volume tão alto que todos, a longas distâncias possam escutar, etc.
O silêncio foi “silenciado”, reduzido, confinado a poucas “ilhas de silêncio”, não tão abundantes. Ilhas que se reduzem aos mosteiros católicos, budistas, xintoístas… espalhados pelo mundo. O silêncio deixou de ser um alimento para o nosso interior. Perdeu o lugar por uma “concorrência desleal”, em nossas Sociedades e Culturas.
Preferem outros valores que, aparentemente, rendem mais e dão mais satisfação e prazer de viver. Somos constantemente educados e reduzidos a números, a seres que sentem prazer experimentando “novidades” apresentadas pelo consumo de produtos materiais e culturais, estamos dentro da cadeia produtiva, consumista. Quando não podemos mais acompanhá-la somos descartados, porque damos prejuízos.
Tudo isso se sucede porque nos convenceram, pouco a pouco, que ler, pensar, refletir, meditar, avaliar, julgar, fazer opções, comprometer-se com os “sins” e “nãos”. Tudo isso não rende, não produz, não contribui para criar condições de satisfação, de prazer de viver. Prefere-se seguir o que os outros pensam, quem sabe até a maioria, formada e manipulada pelos hábeis formadores de opinião, teleguiados por ideologias, bem boladas e preparadas para as grandes massas que não sabem pensar e se conduzir por si mesmas, porque não foram educadas e formadas para avaliar com critérios com os valores elencados acima.
Não é possível cultivar, satisfatoriamente, esse critério seletivo de nossa vida pessoal, familiar, sociocultural sem abrir espaços significativos ao silêncio em nossa existência. Sem ele, somos, com frequência, arrastados, engolidos, devorados pelo ambiente sociocultural reinante que tem o encanto e o poder de sufocar nosso gosto e a necessidade do silêncio, em nossa vida humana. Sem ele, é difícil, quase impossível atravessar esse mar de barulhos, rumores, imagens reais e virtuais que nos desviam dos critérios de saber parar diante do que está acontecendo, refletir, avaliar, ponderar, para poder tomar decisões, fazer opções que não sejam, simplesmente, seguir “o que tudo mundo pensa” ou “o que todo mundo faz”.
Boa parte das pessoas, esqueceu-se do valor do silêncio; outros nunca sentiram o seu valor porque não foram educados para desfrutar de seu sabor em sua existência; outros ainda, estão tão inseridos no estilo implantado pela Cultura e pela Sociedade contemporâneas, que se tornaram reféns delas. Muito difícil seu resgate. Qual o valor do silêncio em sua existência? Já tem seu espaço garantido?