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A Matriz São Luis Gonzaga

Vimos em três artigos anteriores que, desde 31 de julho de 1873, dia da ereção da Paróquia São Luis Gonzaga, três igrejas serviram como Igreja Matriz. A primeira de madeira, a segunda de estilo gótico e a atual, verdadeiro monumento artístico, grande marco turístico da cidade e da região. Monumento admirado e apreciado pelo seu […]

Vimos em três artigos anteriores que, desde 31 de julho de 1873, dia da ereção da Paróquia São Luis Gonzaga, três igrejas serviram como Igreja Matriz. A primeira de madeira, a segunda de estilo gótico e a atual, verdadeiro monumento artístico, grande marco turístico da cidade e da região. Monumento admirado e apreciado pelo seu estilo que, com sua imponência e, ao mesmo tempo por sua simplicidade, leva-nos a meditação e contemplação do Infinito. Verdadeira obra de arte.

A igreja católica sempre foi entusiasta e promotora das Artes. Sua história é de uma riqueza sem par, neste particular. Todas as artes sempre foram prestigiadas. Talvez, em alguns períodos históricos, se deu mais ênfase à arquitetura. Em outros, à música ou à pintura e a outras mais. Uma coisa é certa, a arte sempre esteve relacionada à fé, à celebração litúrgica, à pastoral. A arte tentou ser expressão da Boa Nova do Reino de Deus, no tempo e no espaço. Exemplo disso, são as belíssimas catedrais góticas da Europa. Elas são uma catequese visual, onde a Bíblia, Palavra de Deus, é exposta artisticamente, para uma população em sua grande maioria analfabeta. A mensagem bíblica, é exposta com graça e profundidade, por meio da arte!

Basta se posicionar bem no chão da cidade dos homens e mulheres, num ponto da praça Barão de Schneeburg da nossa cidade, e alçar o olhar e contemplar a entrada da Matriz, contemplando a subida da escadaria do campanário-torre para ter a sensação de abertura para o Alto, para o Infinito. O arquiteto, propositalmente, quis aproveitar a configuração do terreno para dar chance ao ser humano de abrir-se para Deus. Sair do ambiente da agitação da cidade, com todas as suas solicitações diárias, para estar, em Comunidade celebrativa, em contato com o Senhor.

O projeto foi concebido e planejado em uma época em que a maioria da população não dispunha de tantos carros como hoje. Por isso, a maioria subia pela escadaria para poder entrar na igreja para as celebrações litúrgicas. De fato, a subida da escadaria lembra, fortemente, a árdua vida dos compromissos da vida na cidade, com suas dificuldades e imprevistos. Ao mesmo tempo, dá a sensação que além da escadaria (subida penosa e cansativa), há a planície do chão da igreja, a presença dos irmãos e irmãs (a família de Deus) e a fala de Deus, um Deus que acolhe, dialoga, escuta (Liturgia da Palavra), alimenta, perdoa, ama a todos (Liturgia da Eucaristia). Portanto, entrar por uma porta lateral ou mesmo pelas portas frontais não se tem a mesma sensação. Não há o “alçar-se” do nível da cidade humana para “adentrar” no clima da cidade celeste para renovar a vida, a fim de voltar ao nível anterior, com outra bagagem.

A própria estrutura da Matriz deixa entrever essa visão teológico-litúrgico-pastoral. Essa visão tentarei detalhar em artigos subsequentes. Já em 2010, nesse mesmo espaço jornalístico, publiquei três artigos para tentar auxiliar na compreensão do conjunto arquitetônico, em sua concepção religiosa, não tanto artística.

É bom lembrar que o Arquiteto Böhm é alguém que vivia a fé protestante, luterana. E, além disso, também convém ter presente que o projeto foi elaborado bem antes do anúncio e realização do Concílio Vaticano II (1962-1965). Sabemos que esse Concílio trouxe uma renovação teológica, litúrgica e pastoral que “mexeram” com a vida da Igreja. Tudo isso engrandece ainda mais a concepção e o conteúdo do projeto que serviu de fundamento para toda a visão de vida espiritual que subjaz em sua elegante e imponente arquitetura.

Cada detalhe tem seu valor celebrativo na vida pessoal e comunitária do fiel. Para poder já se colocar, nesse clima e acompanhar a intuição do arquiteto em tentar expressar por meio de símbolos e até do material utilizado, é bom ter presente sempre a visão de conjunto de toda a Matriz. (continua).