Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Religiosidade da aparência

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Religiosidade da aparência

Pe. Adilson José Colombi

Quem se serviu dessa expressão foi o Papa Francisco, em uma de suas falas ou catequese, audiência tradicional das quartas feiras (29/08/2021). Foi um alerta que fez a todos os cristãos e cristãs. E apontou para essa realidade como um perigo, sempre presente na vida da vivência do Evangelho. Hoje, porém, parece se tornar um modo de expressar a fé, se não se toma certas precauções. O Papa Francisco explicou, também, em que consiste essa forma de religiosidade: “aparecer bem por fora, esquecendo da purificação do coração”.

Observando, com um pouco de atenção, algumas celebrações, igrejas ou lugares de reuniões religiosas, nota-se essa tendência. Muito barulho, coreografias, fumaças, vestes litúrgicas vistosas, algumas rebuscadas e até exóticas, cânticos e instrumentos musicais, por vezes, inadequados para tais eventos…. Enfim, aparências, visual, o exterior, o visível. Privilegia-se a exterioridade, a aparência. Ou, como ele afirmou, essa forma de religiosidade consiste em “aparecer bem por fora, esquecendo da purificação do coração”.

Seguindo sua fala, emendou essa reflexão, desse modo: “Há sempre a tentação de sistematizar Deus com alguma devoção exterior, mas Jesus não se contenta com esse culto. Jesus não quer exterioridade. Ele quer uma fé que chegue ao coração”. Acrescentou ainda: “Também nós muitas vezes disfarçamos o coração”.

Pessoalmente, concordo, plenamente, com essa advertência. De fato, o ser humano atual, pós-moderno, bombardeado dia e noite, por tudo o que é possível, hoje, com a Ciência e Técnica, em casa, no trabalho, nas ruas e avenidas, sempre com muitas cores, luzes, dizeres, barulho, movimentos, ritmos, rumores… não tem espaço para um silêncio, uma pausa restauradora, silenciosa, que apela para o interior, para o que não aparece, mas “fala” para a nossa “interioridade.

Tudo isso, certamente, não é o alimento, necessário para a vida de fé, para a espiritualidade, que o fiel busca e que não encontra, no ambiente apresentado acima. Procura um ambiente celebrativo, diverso de outros que frequenta, no dia a dia. Se não estivermos atentos, repetimos o mesmo ambiente, com aparências simuladas, mas similares.

Penso que as pessoas saem de casa para a igreja ou para uma celebração litúrgica, para se abastecer de um alimento espiritual que, nem sempre, é encontrado em outros ambientes que frequentam. Querem encontrar, nesse ambiente de fé, de escuta da Palavra de Deus, de oração, de irmãos (ãs), um “oásis espiritual”, com “algo” que a Sociedade e Cultura pós-moderna, não oferecem porque têm outros interesses e objetivos. O fiel quer sair do encontro de fé com novo ânimo, nova disposição de viver a sua fé, num ambiente sociocultural, frequentemente hostil ou concorrente.

“Se olharmos dentro de nós, encontraremos quase tudo aquilo que detestamos fora. E se com sinceridade pedirmos a Deus para purificar o coração, aí sim, começaremos a tornar o mundo mais limpo. Porque há um modo infalível para vencer o mal: começar a derrotá-lo dentro de nós”, disse o papa.

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