Padre Flávio Morelli celebra 62 anos de sacerdócio: conheça sua história
Botuveraense conta detalhes de sua trajetória e da rotina de orações e celebrações
Aos 90 anos, padre Flávio Morelli celebra em 2019 mais de seis décadas de sacerdócio. A trajetória dos últimos 62 anos não foi fácil. Ele foi transferido para 22 locais, como igrejas e orfanatos. Mas o botuveraense filho de Tereza e Luiz Morelli tem um carinho especial pela paróquia São Luís Gonzaga, onde atuou entre 1967 e 1971, retornou em 2011 e permanece até hoje.
O marco de 62 anos de trabalho ocorreu uma semana antes do aniversário de padre Flávio, celebrado no dia 7 de julho. Ele já perdeu as contas de quantas celebrações realizou, mas afirma que enquanto tiver condições pretende continuar na ativa.
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Trajetória
Em 1943 ele entrou no seminário em Pinheiral, que na época pertencia a Nova Trento, para estagiar. Aos 13 anos surgiu a vocação para seguir o caminho de Deus. “Eu fui para estudar por um ano para ter uma opção, abrir horizontes e a partir dali surgiu a vocação”, explica.
Para continuar os estudos, o jovem iria para o Rio Grande do Sul, mas a mãe avisou que o local era longe e, na época, levaria dois dias apenas de viagem. “Ela interveio e foi um recado de Deus, pois eu não iria resistir à saudade, tinha apenas 13 anos”.
A pedido da mãe, em 1944 ele foi estudar em Curupá, no interior de São Paulo. Além dele, outros quatro botuveraenses seguiram o caminho. Segundo padre Flávio, três deles se tornaram padres e apenas dois estão vivos.
Ele recorda até hoje que quando entrou no seminário o pai começou a anotar em uma caderneta todos os gastos com o filho. Como a família era grande e humilde, Luiz Morelli alertou o filho: “se você se tornar padre eu rasgo a caderneta, mas se você não for, eu vou cobrar do dote que darei no seu casamento”, conta.
Quando voltou para Brusque, em 1950, fez o postulantado e noviciado em Filosofia. Em 1954 iniciou os estudos em Teologia, em Taubaté, também no interior de São Paulo. Em 29 de junho de 1957, o jovem botuvaraense foi ordenado padre, na mesma data em que é celebrada a festa de São Pedro e São Paulo.
Ele recorda que a primeira transferência depois da ordenação foi para Formiga, em Minas Gerais, em 1958. Como concluiu os estudos na metade do ano, ele teve que esperar o início do próximo ano para começar a trabalhar.
Atualmente, ele celebra entre uma a duas missas por semana na paróquia São Luís Gonzaga, além de rezar em algumas casas de repouso da cidade como Cagere, Dilony e Vó Adele. “Eu sinto que sou uma pessoa cheia de Deus. A igreja para mim é uma família”, diz.
É inimaginável saber que ainda estou na ativa apesar da idade. É uma grande bondade de Deus
Dia a dia
Mesmo com 90 anos, padre Flávio gosta de seguir uma rotina: acorda às 6h30 e participa da oração com os demais padres às 7h15, depois toma café com eles. Ao finalizar a primeira refeição do dia, lê o jornal O Município para começar o dia bem informado.
Nos sábados, domingos e segundas-feiras a rotina é diferente. Como não são realizadas as orações comunitárias nesses dias, ele aproveita para dormir até as 8h. Após acordar e tomar o café da manhã, segue para a capela localizada na secretaria paroquial.
Aproveita as manhãs para fazer caminhadas pelas instalações da secretaria e da paróquia. Também é costume do padre Flávio rezar quatro ou mais vezes ao dia. “Eu rezo diariamente a Santa Missa e sempre vou à capela fazer uma visita à Santíssima”, explica.
Antes do almoço e no meio da tarde ele tira pequenos cochilos de uma a duas horas. Além disso, todos os dias vai dormir cedo. Às 21h já está deitado.
Laços sanguíneos
Dos 15 filhos de Tereza e Luiz Morelli, apenas três estão vivos e padre Flávio faz questão de conversar com as irmãs sempre que pode. Uma delas é freira e mora em Curitiba.
Ele conta que a família é grande, são mais de 190 sobrinhos, sobrinhos netos e sobrinhos bisnetos. Muitos ele conhece apenas pelo apelido. “Os nomes de todos são coisas que não consigo guardar. As limitações da terceira idade são uma coisa que você tem que saber aceitar”.
O padre recorda com carinho até hoje do pai e das duas mães, a segunda foi Maria Polli. “Meu pai era viúvo. Em 1968, ele veio para mim amassando a aba do chapéu perguntando o que eu achava dele casar. Ele disse que não queria ficar rolando pela casa dos filhos, pois ficava dois meses aqui, dois ali e levava uma vida de cigano”, lembra.
O pai era um juiz de paz e conciliador dos testamentos. Geralmente era o filho quem consultava o pai, mas a troca de papéis deixou padre Flávio emocionado e preocupado por decidir a vida de Luiz.
“Eu aconselhei ele a casar. Não com uma mulher nova para não ter mais filhos. Se fosse uma viúva, só se todos os filhos dela estivessem casados. A terceira opção seria ele casar com uma mulher solteira”, explica. Como Maria Polli se encaixava na terceira opção, ele foi agraciado com uma segunda mãe.
Paróquia São Luís Gonzaga
Em janeiro de 1967 ele começou a atuar em Brusque, onde ficou por cinco anos. Por dois anos e meio trabalhou como auxiliar e mais dois anos e meio como pároco da matriz. O retorno para a paróquia São Luís Gonzaga ocorreu em 2011, onde atua até hoje.
Em 1971, quando ainda era pároco da matriz, padre Flávio decretou o encerramento do cemitério que existia ao lado da paróquia. Após a decisão, ele foi transferido para um orfanato no interior de São Paulo, no início de 1972.
Ele lembra de aconselhar os fiéis para que procurassem outro cemitério. “Esse é o último ano para enterrar aqui, se eu fosse vocês eu não enterrava mais aqui. Comecem a enterrar no Parque da Saudade pois é um local mais espaçoso e barato. Vocês precisam começar a fazer isso, porque depois de cinco anos vamos começar a passar o trator”, conta.
Depois da transferência, o pároco que assumiu no seu lugar transferiu os restos mortais para o Parque da Saudade. “Não foi eu quem passou o trator, mas foi eu quem decretou o fim do cemitério”.
“Fala-se que entre pessoas enterradas e restos mortais levados daqui deve-se ter 25 mil pessoas no cemitério Parque da Saudade”, acrescenta.
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Ele se aposentou em 1985 civilmente e em 2003 eclesiasticamente, quando tinha 75 anos. Segundo ele, é de praxe que bispos, arcebispos e cardeais deixem o cargo quando chegam aos 75 anos, com exceção do papa. Eles continuam com a titulação, porém não efetivos.
Em 2013, pediu para o superior provincial para ficar na paróquia. Apesar do afastamento, padre Flávio faz questão de celebrar as missas.
Para Padre Flávio, ter 90 anos e ainda seguir o caminho que escolheu há 62 anos é indescritível. “É inimaginável saber que ainda estou na ativa apesar da idade. É uma grande bondade de Deus”, finaliza.