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Pais de primeira viagem relatam mudanças na rotina após nascimento dos filhos em Brusque

Dentista e talhador têxtil falam sobre o cotidiano e experiência da paternidade

Quando soube que seria pai, o dentista Rafael Lara Becker, de 31 anos, tinha uma certeza: que ele seria presente e dedicado. Há cinco meses, Luise nasceu e se tornou a primeira filha dele e da arquiteta Ariele Gripa Becker, 27.

Casados desde 2019, os dois já tinham planos de ter filhos. Porém, tanto a gestação quanto o nascimento da bebê causaram mudanças na vida do casal. “Foi algo programado, mas depois que nasce que a gente se adequa à uma nova rotina. Realmente muda bastante. Com um filho, nasce um pai e nasce uma mãe, mas acredito que estamos tirando de letra”, conta ele.

O cotidiano do Rafael, que tem uma clínica com demanda de pacientes, sofreu alterações. Em relação aos horários, ele aponta que já sabia que seria um desafio organizar o tempo para estar presente. Mesmo com a correria, o objetivo sempre foi destinar mais horas para Luise.

Ao falar da experiência, Rafael recorda da presença do pai Renan, que marcou a vida dele | Foto: Luiz Antonello/O Município

“Com a clínica, não consegui deixar a minha agenda como eu gostaria. Mas tenho bastante tempo com ela de manhã, depois ao meio-dia e depois à noite. Eu gostaria de sair um pouco mais cedo do trabalho, mas a gente acaba não conseguindo todos os dias”, detalha.

No tempo ao lado da filha, Rafael se dedica nas brincadeiras e nos cuidados. São nos banhos e na troca de fraldas, por exemplo, e até nas consultas médicas. “Aquela rotina que o pai tem que fazer. A cada tempinho que dá, nós ficamos juntos”, salienta.

Recentemente, o cotidiano do talhador têxtil Esaias Heck, 32, e da esposa, a costureira Suelen Cristina Heck, 30, também foi transformado. Com eles foi após a chegada do primeiro filho Benício, hoje com seis meses.

Esaias relata que é uma pessoa muito ansiosa e, já na gestação, não via a hora do bebê nascer. Além disso, cuidava muito de Suelen e esteve ao lado dela nas consultas médicas e nos exames, mesmo com uma rotina intensa na indústria. “No que eu podia estar junto, eu estava. Eu tinha que acompanhar. Fiquei bem preocupado para não faltar nada, mas a gravidez foi abençoada”, diz.

Atualmente, Esaias trabalha das 5h às 17h, de segunda a sexta-feira, e, às vezes, das 5h às 12h aos sábados. “A rotina é bem puxada. Quando eu entrei na empresa, em outubro, falei da gravidez e das possibilidades de sair em alguns momentos. Eles me falaram que seria tranquilo. Mas, felizmente, não precisei sair, foi tudo bem leve”, recorda.

Próximo da família e dedicado, Esaias se inspira no pai Francisco e no avô Sebastião | Foto: Luiz Antonello/O Município

Com o nascimento do Benício, ele precisou reajustar os afazeres do dia, para lidar com o trabalho e a paternidade. Normalmente, o tempo que ele consegue se dedicar completamente ao filho é à noite e aos fins de semana.

“Quando eu chego em casa, dou toda atenção para ele. O tempo que eu posso ficar com ele, estou com ele. Até a minha sogra e a irmã da Suelen, que é madrinha, pedem para levar ele pra casa e eu digo que não, enquanto ele está comigo, quero estar perto”, completa.

De pai para filho

Ao comparar a presença paterna com a do próprio pai, Francisco de Assis Heck, de 60 anos, Esaias aponta que não vê diferença. “O meu pai foi sempre muito presente. Era mais na dele, uma pessoa que amava, mas que não ficava alisando”, diz, ao relembrar da infância.

O avô, Sebastião Izidoro Heck, de 85 anos, também é citado como exemplo. “Ele também é uma pessoa extraordinária, muito calma e paciente. Eu posso dizer que meu pai e meu avô são dois exemplos de pessoas maravilhosas. Tenho muito orgulho e penso que não posso ser diferente deles com o meu filho”, destaca.

Quatro gerações da família de Esaias, que está com o filho, o pai Francisco e o avô Sebastião | Foto: Esaias Heck/Arquivo pessoal

Para Esaias, Francisco e Sebastião impactaram na forma em como ele lida e vê a paternidade. “Meu pai é o melhor exemplo que tive na minha vida, como pessoa, de caráter, de pessoa fiel, pessoa séria, indiferente da situação. Depois do Benício, olhei para os meus pais com outros olhos. O filho é um ser humano, tem que ter um cuidado e carinho excepcional”, avalia.

Ao falar do pai Renan Bibiano Becker, que faleceu em 2012 aos 46 anos, Rafael observa que uma grande qualidade herdada é a dedicação para a família e o companheirismo. Ele aponta que ambas as características se baseiam através do amor e paciência.

Rafael com o pai Renan, irmã Maria Eduarda, a mãe Rita e irmão Renan | Foto: Rafael Becker/Arquivo pessoal

“Hoje, pra você ter filho, você precisa ser dedicado a ele e ser muito companheiro da sua esposa para aprender a lidar com todas as situações novas que aparecem”, diz. “Meu pai sempre foi bem presente, desde a nossa infância até a vida adulta, como a minha mãe. Acredito que já vim de casa com esses princípios e tento preservar esse tempo de qualidade com a minha filha”, reforça.

Parceria de amor

Ariele, que é arquiteta e tem escritório, conta que a parceria de Rafael a ajudou a voltar ao trabalho. “Fez eu poder conciliar, para desvincular dessa rotina exaustiva. Se eu não durmo muito bem de noite, ele levanta mais cedo quando ela acorda e me deixa dormir mais um pouco. Vamos conciliando o tempo com ela e também os cuidados da carreira”, diz.

Ela ressalta que a cada dia o casal lida com aprendizados novos e, aos poucos, se adaptam cada vez mais com a nova vida. “O Rafa é um pai muito presente, ainda mais com a rotina dele como dentista. Mas sempre que pode, ele dá banho, faz a bebê dormir, está sempre ajudando. É algo que ele sempre quis, ser pai”, complementa.

Moradores do Centro de Brusque, Rafael e Ariele se dedicam em criar Luise com muito amor | Foto: Luiz Antonello/O Município

“Para nós homens, é puxado pela nova rotina, mas é ainda mais puxado para a mãe. Por mais que eu tente ajudar, às vezes é só o colo dela que vai ajudar. Não tem como deixar só nas costas da esposa”, comenta Rafael.

Mesmo com os desafios, o pai adianta que o casal planeja ter mais dois filhos. “Após um dia de trabalho, é bom chegar em casa e dar um cheiro na pequena. A gente esquece os problemas. Ser pai sempre foi um sonho e, graças a Deus, eu me sinto realizado. Tenho minha família, minha pequena e os próximos que estão por vir. Hoje, eu me sinto completo”, completa.

Já Suelen comenta que a parceria do companheiro no dia a dia torna a experiência da maternidade mais leve e prazerosa. “O Esaias é um excelente pai. Ele nos ajuda muito, principalmente de madrugada, pois não é fácil. Na maioria das noites é bem tranquilo, mas tem vezes que é puxado e eu não dou conta sozinha”, relata.

Esaias e Suelen, moradores do Poço Fundo, são parceiros na hora de cuidar de Benício com amor e carinho | Foto: Luiz Antonello/O Município

Ela adianta que Benício é um bebê muito elétrico e que começou a engatinhar. “Tem dia que consigo fazer os serviços, mas em outros não. De noite, quando o Esaias fica com ele, coloco o serviço em dia. São dias e dias, uns bons e outros não tão bons, ter o apoio dele me traz alívio. Se não tivesse o Esaias, seria bem complicado”, explica.

“Tem algumas coisas que ela não dá conta, até pelo peso da criança. Ela também fica cansada da rotina do dia inteiro. Eu vou lá, acalmo ele, ando pela casa, faço a mamadeira, coloco para ele dormir. E é isso aí, até a próxima acordada. Mais uma luta”, complementa Esaias com bom humor.

Importância da presença

Para Rafael, a parceria e a presença de ambos os pais refletirá na qualidade de vida de Luise. “Vejo que, lá pra frente, vai ser muito bom para ela. A gente sabe que a falta do pai ou da mãe pode refletir em problemas futuros. Acredito que, quanto mais a gente passar amor e carinho neste tempo em que ela está crescendo, a nossa filha verá que nós somos os melhores amigos dela”, diz.

Rafael destaca que a falta deste vínculo afeta a saúde mental das crianças. “A rotina dos pais ficou mais acelerada. Hoje, muitos preferem dar um celular para a criança do que sentar, brincar com ela e perguntar como foi na escola. É um tempo que se passar, não terá volta”, completa.

Para Esaias, é importante que o filho saiba que ele e Suelen estavam juntos cuidando dele. “A gente vê tantas tragédias por aí, o pessoal precisa pensar bem em ter filho, é super sério. Tem muitos que não querem nem saber, acham que é o suficiente pagar a pensão. Mesmo que o casal se separe, o pai não pode deixar para trás, não pode deixar de faltar essa presença”, reforça.

“Acho que a gente tem que se colocar no lugar do nosso pai. O filho dá trabalho da mesma forma que nós demos trabalho também. Vamos pensar nos nossos pais, tudo o que somos hoje é graças a eles. O mesmo carinho e amor que tivemos, precisamos dar aos nossos filhos. O pai precisa ser presente, amoroso, apoiar o filho, pois no futuro seremos nós que vamos precisar deles”, finaliza Esaias.