Pais enfrentam dificuldades na busca pelo diagnóstico do autismo em Brusque
Secretaria de Saúde passou a ter neuropediatra na rede em abril
Secretaria de Saúde passou a ter neuropediatra na rede em abril
Pais que suspeitam que o filho possa ter o Transtorno do Espectro Autista (TEA) passam por dificuldades em conseguir o diagnóstico na rede pública de Saúde em Brusque, aponta a presidente da Associação de Pais, Profissionais e Amigos dos Autistas (Ama) do município, Márcia Faria.
Ela ressalta que apenas o neuropediatra ou psiquiatra infantil pode dar o laudo. “A família pode procurar o postinho e se deparar com profissionais desatualizados e sem conhecimento em TEA, que poderão invalidar as preocupações dos pais. E mesmo se o pediatra concordar e encaminhar para um especialista, a família pode passar anos sem conseguir uma consulta”, conta.
Márcia ainda relata que a maioria das famílias passa muito tempo no aguardo pelo atendimento. Outras, segundo ela, não chegam no diagnóstico e outras pagam por uma consulta particular.
De acordo com a Secretaria de Saúde, atualmente são 19 pacientes na fila pelo diagnóstico e acompanhamento médico em Brusque. Além deles, três estão na fila em Blumenau. A pasta, em nota, afirma que em abril passou a contar com os serviços de um neuropediatra, que realiza os atendimentos e os diagnósticos.
“A demanda é significativa, tendo em vista que por um período a Secretaria ficou sem esse serviço, devido a dificuldade da contratação desse profissional”, explica.
Mesmo após ter um laudo em mãos, segundo Márcia, a UBS não consegue ajudar no atendimento, por falta de profissionais para atender essas crianças.
“O que acontece na prática é que eles acabam encaminhando essas crianças para a Ama ou para a Clínica Uni Duni Tê. A nossa realidade é que a prefeitura nos encaminha essas crianças ao mesmo tempo que não nos fornecem nenhuma ajuda para proporcionar terapias para elas”, comenta.
A Secretaria de Saúde aponta que, em relação ao pós-diagnóstico, nos casos moderados e graves de autismo, os pacientes são encaminhados para o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi), inaugurado em 2021.
“Os casos leves são encaminhados para o município referência que é Blumenau, no Centro Especializado em Reabilitação (CER), onde Brusque tem 32 vagas por mês pactuadas entre primeira vez e retornos, e para a Clínica Uni Duni Tê, que atende crianças até seis anos”, explica em nota.
Segundo a Secretaria, em breve um projeto de manejo de pacientes com autismo leve deve ser discutido, bem como a ampliação de oferta, para suprir essa demanda.
A coordenadora de saúde mental da Prefeitura de Brusque, Inajá Gonçalves de Araújo, explica que a primeira avaliação da criança precisa acontecer através dos pais.
“De eles terem essa sensibilidade e conhecimento de quais são os sintomas. Para que essa percepção ocorra e que possam buscar o quanto antes o atendimento para os seus filhos”, conta.
Inajá explica que o autismo pode ser avaliado com os primeiros sintomas nos primeiros meses de vida. Essa observação não fecha um diagnóstico, mas, caso seja evidenciado algum comportamento diferenciado, ela pode iniciar a ação de prevenção.
“É importante dizer que a porta de entrada do serviço de saúde do nosso município é a Unidade Básica. Então, a criança vai estar em acompanhamento, desde os primeiros meses de vida, com as vacinas, ou acompanhando o puerpério das mulheres. Se identificado alguma alteração pelo médico da unidade ele pode encaminhar ao pediatra”, continua.
Ela relata que o pediatra observa as alterações, que podem ocorrer em três áreas: comunicação, comportamento e interação social. “Uma vez que se percebe uma dessas alterações, o próprio pediatra pode encaminhar para outras especialidades, como a fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia”, diz.
“Após as avaliações desses profissionais, com as gerações dos laudos, em caso de crianças que estejam no colégio, que também podem fazer laudos de observação da escola, podem encaminhar a criança para o neuropediatra que temos no município”, continua.
O profissional, conforme Inajá, embasa o atendimento com os laudos de equipes multidisciplinares e consegue fechar o diagnóstico. “A criança não vai para um neurologista e é identificada como autista na primeira consulta. Ela tem que passar por avaliação para entender quais são os comprometimentos que ela apresenta para ser fechado o diagnóstico”, completa.
Conforme Inajá, depois de um médico fechar o diagnóstico, a criança passa pelo processo de estimulação. “Esse processo é focado na melhoria nos sinais e sintomas. Dependendo do grau do autismo, existem estimulações específicas para os sintomas que a criança apresenta”, explica.
Ela ressalta que o CAPSi atende autistas com transtorno de nível 3, o mais grave. As crianças de nível 1 e nível 2 são acompanhadas pelas equipes da rede.
“Temos ainda necessidades para buscarmos. Estamos lutando para que a gente consiga investimentos do governo federal ou estadual para construirmos um centro qualificado, com uma equipe especializada para atendimento de autistas, principalmente na parte de estimulação. Não é de hoje para amanhã que vai acontecer, mas a Secretaria de Saúde está ciente dessas necessidades e busca a melhoria desse atendimento”, finaliza.
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