Paixão e história: colecionadores de camisas de futebol expõem seus acervos em Brusque
Peças raras, grandes coleções, nostalgia e confraternização marcaram evento na Gevaerd Esportes e Calçados
Peças raras, grandes coleções, nostalgia e confraternização marcaram evento na Gevaerd Esportes e Calçados
O terceiro andar da Gevaerd Esportes e Calçados neste sábado, 9, era de encher os olhos de qualquer apaixonado por futebol: a primeira exposição de camisas de futebol da loja apresentou centenas de peças, com direito a chopp, refrigerantes e petiscos secos. Revistas, álbuns medalhas e faixas também marcaram presença.
Do Brusque ao Chelsea, do Dallas FC ao Íbis-PE, da seleção do Brasil à seleção do Egito, os visitantes puderam conhecer camisas de diversos clubes e seleções, além de conversar com os colecionadores para ouvir e compartilhar histórias.
Leoberto de Souza Júnior, o Fumaça, é presença certa em todos os jogos do Brusque no Augusto Bauer. Mantém a página Museu do Brusque no Instagram, onde exibe sua coleção de camisas, pôsteres, agasalhos e outros itens do Brusque.
“Eu sempre torci para o Brusque, sempre fui no estádio, já fui presidente da torcida [Torcida Força Independente – TFI], e tal. E ano passado eu começava a ver o André [Luiz Westarb] e o Oda [Odair José da Rosa], eles com uma coleção toda formada. Pensei: eu já estava há tanto tempo torcendo, poderia ter uma coleção. E isto foi há um ano e pouco”, relata.
Desde então, o acervo foi se expandindo, com mais de 100 camisas em diferentes modelos. As mais valiosas são presentes de jogadores e torcedores, que reconhecem o amor de Fumaça pelo Bruscão. Sua primeira camisa relacionada ao Brusque foi a da TFI de 1998, e a primeira do clube foi de 1996, um presente dos pais.
Fumaça adoraria organizar um museu do Brusque aberto à visitação, mas também tem a ideia de levar sua coleção às escolas da cidade para incentivar as crianças a serem torcedoras.
“Já falei com o clube, para de repente ceder um jogador para ir junto. O pessoal reclama que não tem ninguém no estádio, que dá 1,5 mil pessoas. Mas não dá para atrair adultos, quem vai é quem vai, pode ser com a propaganda que for. Mas com as crianças torcendo para o Brusque, daqui a 10 ou 15 anos talvez tenhamos 3 mil, 5 mil pessoas todo jogo.”
A camisa mais difícil de conseguir foi a utilizada no chamado jogo das faixas: Brusque 1×2 Vasco, amistoso entre o campeão de Santa Catarina e o Campeão do Rio de Janeiro, em 3 de fevereiro de 1993. O manto era do ex-jogador Vacaria, que atuou pelo quadricolor naquele ano. Um presente de destaque é o do ex-goleiro Binho, que deu a Fumaça um conjunto de camisa e bermuda que usou, também naquele ano.
Algumas camisas foram obtidas de maneiras mais inusitadas, encontrando torcedores estavam na rua ou no estádio vestindo as camisas. Fumaça tenta o contato, explica sobre sua coleção e inicia a negociação. Foi assim que conseguiu uma camisa de 1999, com um torcedor na final do Catarinense de 2023, e uma de 1992, com um senhor que fazia trabalho de jardinagem em um terreno vestindo o manto quadricolor.
Odair José da Rosa começou a focar em sua coleção em 2017. Sua primeira camisa do Bruscão foi adquirida dez anos antes, em 2007. “Todo ano eu comprava uma, mas sem objetivo de ser colecionador. Era para ter o modelo novo. Em 2017, percebi algo diferente. Vi uma matéria com o Richard [Andrietti, outro colecionador], me empolguei e passei a ter a coleção como objetivo.”
Sua aquisição mais difícil foi a camisa de 1992 do goleiro Carlos Alberto, utilizada no Campeonato Catarinense e na Copa Santa Catarina. Foram dois anos desde o primeiro contato até o final de uma longa negociação, que terminou recebendo a camisa branca de 1992 como brinde.
“É o boca-a-boca, o abordar na rua, a conversa, é assim que sai o melhor negócio. E se formam parcerias, amizades [com o colecionismo]. O cara vai criando vínculos, recebendo dicas, dando outras. É bem legal”, comenta.
André Luiz Westarb decidiu ser colecionador quando já tinha quase 100 camisas. “Pensei: cara, acho que sou colecionador [risos]”. Hoje, entre suas mais de 500 camisas, o foco está no Brusque e no Flamengo, as grandes paixões.
Quase metade do acervo estava presente na exposição: Brusque, Flamengo, outros clubes, futebol amador de Brusque, Guabiruba e Botuverá. Até uma camisa do jogo entre amigos do cantor Daniel e amigos de Brusque, realizado em novembro de 2001, esteve exposta. O item mais antigo é uma faixa do Carlos Renaux campeão catarinense de 1953, original.
Westarb tem pesquisado o futebol amador de Guabiruba, e exibe os progressos no perfil Memorial do Futebol e Futsal Guabirubense, no Instagram. Apaixonado pelo Olaria, vive o clube da Guabiruba Sul de perto e reuniu camisas de diversas épocas.
O guabirubense também trouxe revistas antigas, protegidas com embalagens plásticas: são exemplares da Placar dos anos 70 e da Revista do Esporte, publicada de 1959 a 1970.
O vascaíno Paulo Colzani tem 76 camisas na coleção, que inclui peças raras de seu clube de coração e de diversos clubes do futebol europeu. Há, por exemplo, uma camisa do Vasco de 1997 autografada por Edmundo, outra de 1998 autografada por Mauro Galvão, e Feyenoord-HOL e Sporting-POR, dois de seus clubes preferidos, também têm espaço. Uma xadrez azul clara de destaca nos cabides: é um modelo especial do Munique 1860, feita para a Oktoberfest da cidade em 2015. Apenas 2 mil unidades foram fabricadas.
A mais cara de sua coleção é do Sporting, utilizada pelo zagueiro André Cruz. “Paguei R$ 700. É de 2002, temporada do que foi o último título por muito tempo, até 2021”, relata. Contudo, há um carinho especial por sua primeira camisa, do Vasco, autografada por Edmundo anos depois, quando o craque esteve em Brusque. “Ele já estava indo embora e voltou para autografar a camisa. Tirei foto, tudo. Até me arrepio, chorei como um moleque logo depois.”
A coleção possui duas camisas do guabirubense Eder Tormena, que fez carreira no Velho Continente. As peças são do Atromitos, da Grécia, e do extinto Germinal Beerschot, da Bélgica. Itens raríssimos.
Entre uma maioria de Vasco e Europa, também há uma avulsa do Figueirense, de 2006, com história curiosa. Ela foi ganha há muitos anos em um sorteio na TV do programa Linha de Passe, da ESPN Brasil.
Em meio a coleções do Bruscão, Tiago da Silva Campos, o Tiagão, demarcava o espaço do Avaí. O torcedor azurra possui um vasto acervo, que inclui uma medalha do título da Série C do Campeonato Brasileiro em 1998, entre outros artigos. A coleção começou a ser reforçada com mais dedicação em 2017, com a criação da página Acervo Avaiano.
A camisa mais antiga foi também a mais difícil de conseguir: 1971, de jogo, número 9. Foram dois anos e meio de negociação.
“Tenho mais de 400 camisas. São cerca de 400 de Avaí, fora de alguns outros times, de amigos que mandam, e eu guardo com muito carinho. De 1988 até 2023, só não tenho nenhuma de 1991. Dos outros anos, tenho pelo menos uma”, explica.
Junto às camisas do Leão da Ilha, Tiagão também expôs chuteiras antigas de marcas como Kichute, Drible e Montréal.
Álvaro Siemsen possui mais de 350 camisas, das quais separou cerca de 180 para a exposição. Dentro de sua coleção, há um enorme acervo de camisas do Flamengo. Entre tantas raridades e camisas das mais diversas épocas, sua preferida é a camisa comprada em dezembro de 1987, em uma loja de Itajaí, com o número 8, do meio-campista Adílio.
“Eu ainda não tinha nenhuma camisa do Flamengo. Esta, pra mim, representa o início da coleção, o ser Flamengo. Fui especificamente para comprar esta camisa. Representa muito para mim.”
O flamenguista também é fã da Major League Soccer, a principal liga dos Estados Unidos. Viajando ao país em diversas oportunidades, comprou diversas camisas para complementar sua coleção. Na exposição, estavam os mantos do Kansas City Wizards (atual Sporting Kansas City) e do Dallas FC.
“Devo ter em casa umas 10 da MLS. Gosto muito do Los Angeles Galaxy e do Dallas. Também quero comprar uma do Atlanta, que é vermelho e preto como o Flamengo. Ainda não tenho, mas ainda vou ter.”
Gabriel Mestre também tem sua coleção, mas com foco mais específico: camisas relacionadas a jogos que assistiu com seu pai. Sua preferida é a do Corinthians de 2022, quando levou seu pai para conhecer a Neo Química Arena.
Na exposição, levou as camisas originais de época que vende em sua loja online, a Kloppism, há cinco anos. Eram estas, entre toda a exposição, que estavam abertas a negociação, com diversos clubes europeus, brasileiros e seleções, dos anos 90 e 2000.
Durante o evento, ele conseguiu uma troca importante com Paulo Colzani: uma camisa do Manchester United de 2007-08, quando Cristiano Ronaldo decolava e conquistava seu primeiro prêmio de melhor jogador do mundo.
“Foi a temporada em que assisti todos os jogos com meus amigos lá em casa. Eu queria muito esta camisa. Até dei um abraço no Paulo quando consegui. Vou personalizar com nome Ronaldo, número 7, o patch da Champions League, e esta camisa vai para um quadro.”
Ariel da Luz Silva começou a colecionar em 2015, com uma camisa do Brusque que ganhou de seu pai. “Tenho família em Chapecó. Meus pais iam visitar às vezes e traziam camisas da Chapecoense. Comecei a comprar camisas do Flamengo, meu pai era avaiano e me deu três. Comecei a participar de grupos e a comprar algumas mais aleatórias”, relata.
Entre suas 220 camisas, há suas preferidas, e entre elas, está a inegociável: a camisa do Avaí, com o patch de campeão da Série C de 1998. O flamenguista tem diversas camisas de seu clube de coração.
O acervo de Ariel mistura camisas de diversos clubes nacionais. Seleções e clubes estrangeiros também estão presentes, mas são minoria. A ideia é diversificar. Entre as de Santa Catarina, há mantos de clubes como Blumenau, Concórdia e Metropolitano. “Vou pelo preço. Camisas de R$ 100, R$ 120, eu vou comprando. Acho que minha coleção é a mais aleatória daqui.” Camisas de Ponte Preta, CSA, Cascavel-PR, Íbis-PE e Aparecidense-GO estão inclusos. Até futebol 7 feminino do Vasco e times de futsal estão contemplados na coleção.
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