Panificadoras de Brusque devem segurar aumento no preço do pão
Quebra na safra nacional do cereal faz Brasil importar maior quantidade de trigo
O excesso de chuva na safra 2015 prejudicou as lavouras de trigo no Sul do Brasil. Em Santa Catarina as perdas foram de 100 mil toneladas. Com a queda na produção, o pãozinho e produtos derivados do trigo, como massas e biscoitos, sofrerão aumento. No entanto, as padarias do Núcleo de Panificadoras e Confeitarias de Brusque e Região têm optado em não repassar o acréscimo ao consumidor.
O proprietário da panificadora Zen e coordenador do núcleo, Fernando Zen, diz que além do trigo, as matérias primas, insumos e energia elétrica têm crescido gradativamente. Ele diz que desde junho do ano passado os estabelecimentos sentem essa variação. “Se fala do trigo, mas é um conjunto de custos, que vai desde a mão de obra, manutenção de prédio, hora de um eletricista e por aí vai”, diz.
Zen afirma que existe uma dificuldade para manter o preço de itens das panificadoras estáveis, e que o aumento de determinados produtos é o reflexo do mercado, assim como acontece, por exemplo, com os constantes acréscimos no valor da gasolina. Porém, ele ressalta que os associados do núcleo têm optado em não repassar o aumento ao consumidor, já que segundo Zen, busca-se vender mais barato para que haja giro no mercado. “Nosso objetivo sempre é de conseguir absorver ao máximo para então passar ao consumidor. Precisamos sobreviver, mas temos que saber o que o cliente está disposto a pagar”.
O coordenador do núcleo ainda faz uma projeção otimista sobre o aumento no valor do pão e dos derivados de trigo. A avaliação é baseada na sua panificadora. Segundo ele, atualmente o valor do quilo do pão varia de R$ 8 a 10,90 e a estimativa é de que ocorra um incremento de 5%.
A proprietária da panificadora Wegner, Renate Wegner Tromm, afirma que desde o começo de dezembro do ano passado teve um aumento nos custos de produção, principalmente de trigo, manteiga e nata. Ela lembra que é comum o empresário ter mais gastos neste período, mas afirma que o consumidor não é afetado. “Como o trigo é a principal matéria-prima, o impacto é grande, porém, é preferível não aumentar para que possamos vender para o consumidor final”.
Renate atesta que poderá ter um acréscimo nos produtos derivados do cereal na panificadora e prevê que a variação seja até abril de 10% a 20%. Hoje, o valor do quilo do pão é vendido a R$ 10 e dos bolos R$ 28 o quilo.
Na panificadora Sodepan, não houve incremento nos custos de produção até agora. A auxiliar administrativo e de compras, Camila Carneiro, explica que o maior aumento foi do açúcar (em média houve acréscimo de R$ 80 para R$ 120 no valor de 50 quilos) e que baseado em outros anos, o trigo é um dos que menos influencia no valor. “Neste momento não prevemos aumentar os nossos produtos. Vamos analisar como o mercado vai se encaminhar”, diz.
Safra do trigo
O excesso de chuva na temporada 2015 prejudicou as lavouras de trigo dos três estados do Sul, responsáveis por mais de 90% da produção brasileira. A pior situação aconteceu no Rio Grande do Sul, em que a quebra na colheita chegou a 1,4 milhão de toneladas. No Paraná, foi de 700 mil e em Santa Catarina as perdas totalizaram 100 mil toneladas.
O diretor executivo da Associação dos Produtores de Sementes e Mudas do Estado de Santa Catarina (Aprose-SC), Darci Cavalheiro Júnior, afirma que a safra não foi favorável para a produção da semente do trigo e consequentemente para a produção de farinha utilizada na confeitaria. Ele explica que a condição climática, de chuva intensas, foi o principal fator, que deverá influenciar no aumento do preço do pão e dos derivados do trigo. “Não se pode afirmar que a fraca safra vai interferir significativamente no acréscimo, mas certamente terá um reflexo”.
Cavelheiro diz que a alternativa é que o Brasil importe o trigo de outros países, como Argentina e Canadá. “Para atender a exigência do mercado e oferecer mais qualidade ao consumidor se faz necessário a importação. A mistura das farinhas é uma alternativa”.
O aumento
O Sindicato da Indústria da Panificação e Confeitaria do Paraná (SipCep) não prevê um aumento no preço do pão ao consumidor final em abril. O presidente da entidade, Vilson Felipe Borgmann, avalia que inúmeras variáveis podem influenciar, como a planilha de custos de cada padaria e os estoques de trigo de cada loja. “Existem estoques para bastante tempo. Os moinhos trabalham com compra antecipada de seis meses. O dólar já vem a mais de R$ 4 desde o ano passado e o aumento ficou abaixo da inflação”, explica.