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Papo cabeludo

O primeiro mês do ano passa tão rápido que, se a gente piscar, deixa passar essa preciosidade que é o Januhairy – e não estou sendo irônica. Muito pelo contrário.

A ideia de criar um movimento, uma hashtag, uma onda de imagens postadas nas redes sociais, mundialmente, com mulheres mostrando “sovacos peludos” e pernas sem depilação é, no mínimo, necessária. Afinal, são esses mesmos pelos que são usados para tentar desqualificar feministas, não é verdade? “Como confiar nessas porcas?” “Quem quer ouvir essas barangas?” “Isso é falta de…”

É mais do que necessário mostrar que toda mulher pode fazer o que quiser com seu próprio corpo, em termos estéticos. Seja por opção pessoal, seja por não querer ser a “boneca de pele lisa” que muitos homens idealizam, seja por falta de tempo ou falta de vontade, cada mulher tem o direito de manter ou não os seus pelos corporais. E nem venha com o argumento da higiene, porque todo mundo sabe que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Ou, se fosse assim, a quase totalidade dos homens teria que ser considerada suja.

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A questão é basicamente de padrão estético. Pelo nas axilas femininas é feio. Nas dos homens, é parte do pacote macho. Ninguém estranha, ninguém acha feio ou bonito. É apenas natural.

Aliás, naturalizar os pelos é algo que já foi feito nos anos 70. Seria de se imaginar que uma afirmação, uma vez realizada, pudesse ser deixada para lá. Mas não é assim que as coisas acontecem. Tudo, especialmente nas lutas femininas e de outras minorias, com ou sem aspas, precisa ser reafirmado sempre. Não existe conquista definitiva.

As hippies dos anos 70, se a gente pensar bem, já eram a minoria de uma minoria, mesmo na época. O Grande Padrão de Beleza que as mulheres precisam seguir para conseguir um mínimo de respeito nunca deixou de exercer sua pressão sobre todas nós. Não podemos relaxar, para que não nos rotulem de relaxadas. Se a sua escolha diverge desse padrão, prepare-se para, sutil ou explicitamente, ser mantida à margem. Profissionalmente, pessoalmente, em qualquer campo.

Para marcar e explicar o movimento, a revista Glamour Brasil publicou, bem no comecinho do mês, esta foto em seu perfil no Instagram, acompanhada do seguinte texto: “A ideia da campanha é celebrar a liberdade e os pelos femininos, passando o primeiro mês do ano sem se depilar – e depois contando detalhes da experiência no Instagram“. Nos comentários, a maioria feitos por mulheres, a rejeição reinou. De “nojinho” a “macaca”, a foto ganhou todos aqueles tipos de ofensa que parece estar cada vez mais liberada e estimulada na vida online. Pena. O mais importante, a celebração da liberdade e do rompimento dos padrões, é mais uma vez recusada por quem teria interesse em sustentá-la.

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Quer mais? A revista Marie Claire foi além do virtual e colocou a axila peluda da atriz global Bruna Linzmeyer na capa da sua edição deste janeiro. Que se declarou “muito contente de começar esse ano de braços abertos na grama e no sol e na capa da @marieclairebr”. As reações? De novo, na maioria, contrárias. Os pelos incomodam muita, muita gente…

“Ah, mas eu não quero ter pelos embaixo do braço!”. Ótimo, não tenha. Eu também fui condicionada a preferir dar fim neles. Mas, como sempre, a questão não deveria ser de obrigatoriedade. O que queremos, em todos os campos, não prejudicando ninguém, é ter direito à opção. É pedir muito?

Claudia Bia – jornalista