Para além da doença: grupo Mulheres Polivalentes reúne diagnosticadas com câncer em Brusque
Encontros mensais promovem educação em saúde e atividades diversas com pacientes com câncer de mama e de colo do útero
Uma vez por mês, um grupo de mulheres que estão diagnosticadas ou que já tiveram câncer de mama ou de colo de útero se reúne em Brusque. Nos encontros, elas trocam experiências e recebem educação em saúde. Trata-se do grupo Mulheres Polivalentes, desenvolvido na Secretaria de Saúde, por meio da Clínica da Mulher.
Além das conversas, as integrantes participam de atividades, como bingos e passeios externos, como na Oktoberfest, em Blumenau, na Osterfest, em Pomerode, e no parque Leopoldo Moritz, em Brusque.
Entre as integrantes, está a artesã Marcia Regina da Silva de Souza, de 55 anos, que participa desde 2018, ano que o grupo foi criado. A moradora do Planalto foi diagnosticada com câncer de mama há 12 anos.
“Aqui a gente tem experiências e trocamos ideias. Se uma está mal, outra conta a história dela e dá uma animada. Fazemos cafés e tortas de ideias. Para mim está sendo ótimo, porque eu consegui sair de casa. Na pandemia [da Covid-19] o grupo parou e eu fiquei com saudade de vir. Às vezes você acha que está sozinho, mas você não está só”, conta.
O câncer de Marcia voltou em 2020 com metástase na costela, na parte de baixo do braço e pulmão, onde estava o tumor. Apesar da notícia ter abalado a participante, ela conta que a força da fé, apoio da família e a união do grupo a fortaleceu.
“Eu agradeço todos os dias a Deus pela vida. A família é muito importante e encontrei um novo amor, que está junto comigo 24 horas por dia. Às vezes, o câncer te ensina um pouco sobre a vida, a dar valor a ela. Você se preocupa tanto se o cachorro do vizinho foi na tua calçada e fez sujeita, por exemplo, que você vai lá e briga com o vizinho. Não precisa, é só limpar e voltar para dentro. Tem outras coisas mais importantes”, comenta.
Antes de entrar no Mulheres Polivalente, Marcia participou dos encontros da Rede Feminina de Combate ao Câncer em 2009, ela foi acolhida. Porém, pelos horários, o grupo da Clínica da Mulher se encaixou melhor no dia a dia da artesã.
“Aqui tem menos pessoas, mas acredito que o grupo vai crescer, eu espero que cresça. Tem muitas mulheres escondidas por aí, com câncer e com vergonha. A gente não deve ter vergonha, precisamos lutar, porque há esperança. Os tratamentos são difíceis, mas não há nada que você não possa suportar. A quimioterapia pode ser terrível, mas ela tá ali para te ajudar”, completa.
União faz a força
O grupo é coordenado pela enfermeira Thaisi da Cunha. Ela destaca que o Mulheres Polivalentes se tornou um espaço confortável para as integrantes desabafarem e trocar ideias.
Além de fortalecer o grupo, o ambiente também afeta os idealizadores. “A gente aprende muito com essas mulheres. Nós acabamos nos surpreendendo com a devolutiva delas, com os ensinamentos que elas trazem sobre superação, fé e otimismo. São experiências e histórias de vida de cada uma, com uma importância e valor. A gente não trata só a doença em si, mas as particularidades de cada uma”, diz.
Além dos encontros, a conversa continua no grupo de WhatsApp das integrantes. “A gente sente elas fortalecidas, com a volta do grupo após a pandemia elas estão mobilizadas. Elas trocam receitas, dicas de beleza e práticas saudáveis”, relata.
A coordenadora planeja cada vez mais trazer profissionais para acrescentar temas, de forma prática, como médicos, nutricionistas e instrutores de yoga. Em outros encontros, o grupo promoveu um dia de maquiagem e fotos, e uma psicóloga também participou para falar sobre sexualidade.
Desde julho, o mastologista Guilherme Gamba participa dos encontros. A experiência foi diferente do que ele habitualmente vive na clínica. No grupo, o médico ressalta que tenta diferenciar o momento, sendo ao mesmo tempo um especialista e um participante.
“Cada mulher ali tem sua história, com situações específicas e sonhos. Nas consultas, elas vêm muito focadas no tratamento e não se dão a liberdade de falar sobre as outras questões. Quando você sai desse meio, do consultório, você vê tudo isso. Você vê o quanto elas são grandes e fortes por tudo o que passam e enfrentam”, completa.
Passando pelo tratamento
Na primeira vez que teve câncer, Marcia passou por radioterapias, quimioterapias e fez a cirurgia de retirada do quadrante e esvaziou as axilas. Com o retorno do câncer, já fez 30 radioterapias e oito quimioterapias.
“Quando há o tratamento, tem esperança. São dias difíceis, de choro, mas não fiquei focada na doença. É difícil, pois você acorda todos os dias com a arma apontada para você”, conta.
Marcia conta que uma integrante que convive com metástase óssea há dez anos. “As pessoas tem uma ideia que se a metástase aparecer você vai morrer. Quando eu peguei a biópsia e fui pesquisar no Google. Olhei que uma pessoa com metástase pulmonar vive de um ano e meio a dois anos, pensei ‘pronto, tô morta’. Larguei o celular e comecei a chorar. Já estou com a metástase há dois anos”, comenta, ao falar que é possível sobreviver.
Para Guilherme, a fé e a força de vontade impactam na melhora de cada uma. “Quando a gente fala de tratamento, trabalhamos muito com resultados e eles são científicos. Se pergunta porcentagem, chance de vida, tempo de vida, são dados científicos e a gente traz o que é embasado e estudado. Só que, agora, o caminho de cada um é diferente de qualquer trabalho. Cada pessoa tem a sua batalha e a sua fé, e isso responde ao longo do tratamento”, conta.
“É uma doença grave, que tem altos e baixos. Independente do diagnóstico, não existe sentença de morte. É uma doença que precisa ser enfrentada. O amanhã é incerto para qualquer um, independente da condição que se tenha”, finaliza Guilherme.
O próximo encontro será no dia 29 de setembro e o cronograma está disponível na Clínica da Mulher. Para mais informações, é possível entrar em contato pelo WhatsApp e telefone 47 3255-6840, para falar com a Thaisi ou outro profissional da clínica.
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