Para José e Maria
Prezados José e Maria. Resolvi escrever-lhes algumas linhas nesta semana, em que vamos comemorar o aniversário do menino de vocês (e nosso!). Por aqui, como é de costume, há intensos preparativos e festejos para a data. Mas faz tempo que tais festejos e preparativos estão distantes do propósito original da festa. Na verdade, quem tem roubado a cena é um velhinho de barbas brancas, uma tradição que parece ter começado com São Nicolau, e que virou febre. É uma figura bastante simpática, que eu também admiro, mas me preocupa que ele esteja se tornando o centro das atenções.
Resolvi escrever-lhes porque estive pensando em vocês dois e nas circunstâncias complicadas em que vocês estavam à época do grandioso acontecimento. Eu sempre olhei para vocês como modelos de homem e mulher, mas as coisas por aqui andam tão estranhas que, se esta carta se tornasse pública, provavelmente seria motivo de riso para muita gente. E se o menino anda esquecido, vocês mais ainda.
Mas quanto mais nos distanciamos do seu modelo, mais ficamos necessitados dele. Veja você, Maria, por exemplo. Penso que tinha treze anos quando o anjo lhe visitou, mas já era uma mulher plena, de corpo e espírito. Você já era madura e responsável o suficiente para assumir tão nobre (e difícil!) encargo. Sua alma era alimentada pela simplicidade e estava em perfeita sintonia com a lei natural, expressa nos Mandamentos, que você cumpria com tanto zelo e carinho. Você nem imagina o descaso com que os Mandamentos são tratados hoje.
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A maioria sequer os conhece. Aliás, faz tempo que começou por aqui uma tal “revolução cultural”, cujo objetivo de fundo é negar e distorcer, item por item, o conteúdo dos Mandamentos. Até pega mal que pessoas “inteligentes” insistam no assunto. Você ficaria estarrecida com a vulgaridade de tantas mulheres e meninas daqui. Sua forma de vestir, os assuntos que comentam, as músicas que ouvem, os programas que assistem. É uma imensa máquina montada para desviar do caminho das virtudes que você viveu de maneira tão intensa. Nossas meninas estão custando a amadurecer e colocando nos prazeres e na futilidade a finalidade da vida.
E você, José. Como o seu modelo de ser homem está em falta por aqui! Nossos meninos e homens estão tão perdidos em algum ponto da nebulosa, que é difícil trazê-los de volta à Terra. São seduzidos desde muito cedo por todo tipo de prazer, e por quase nenhuma responsabilidade. Você não faz ideia do que são as festas por aqui. Deixaram de ser as celebrações que havia aí em Israel, e estão ficando cada vez mais parecidas com os festins pagãos do império romano. Mas isso também é estratégia da tal “revolução cultural” de que falei antes. Não é de se admirar que, no meio dessa balbúrdia, a família esteja sendo massacrada. E os Herodes daqui estão a todo vapor. Acabaram de descriminalizar o aborto, mas se alguém mexer num ninho de quero-quero pode ser preso por crime ambiental. Dá pra entender?
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Mas ainda tem muita gente boa, e conheço famílias especiais, que vocês também iriam admirar. Aliás, muitos jovens estão percebendo, pelo simples uso da razão natural, a profundidade dessa loucura toda, e estão buscando alternativas, mesmo que às apalpadelas. Eu sonho que eles voltem a descobrir os Mandamentos e as coisas possam ser reconstruídas. Por isso me lembrei de vocês e do seu modelo. De onde estiverem, deem uma olhada para cá e nos ajudem a reencontrar o rumo perdido. Um abraço carinhoso em vocês e no menino, e Feliz Natal!!!