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Para políticos da região, impacto de acusações ao governador é incerto

Delação que cita caixa 2 a Raimundo Colombo é vista com cautela por lideranças locais

O nome do governador Raimundo Colombo na famosa lista de delatados pela empreiteira Odebrecht caiu como uma bomba na política catarinense, na semana passada, e gera um clima de incertezas sobre as alianças para as eleições gerais de 2018.

Lideranças políticas da região dizem que ainda não é possível dimensionar que impacto essa delação trará ao pleito do próximo ano, o qual, na prática, já está em andamento.

Entretanto, avaliam que o clima de intolerância ao menor sinal de desvio pela classe política pode colocar o governador – e os outros políticos delatados, – em maus lençóis.

Também consta na lista o deputados estaduais Gelson Merísio e Jean Kuhlmann, ambos do PSD; o conselheiro do TCE-SC, Júlio Garcia; o deputado federal Décio Lima (PT); a deputada estadual Ana Paula Lima (PT); o senador Dalírio Beber (PSDB) e o prefeito de Blumenau, Napoleão Bernardes (PSDB).

Todos eles foram acusados de receber recursos da empreiteira via caixa 2, ou seja, dinheiro não contabilizado, em troca de eventual apoio à Odebrecht, por meio de seus mandatos.

A gente tem que ter muito cuidado porque o fato de serem citados
não imputa uma condenação.
Só que existe o ditado de que
onde há fumaça há fogo”

Matias Kohler, prefeito de Guabiruba

Para o prefeito de Guabiruba, Matias Kohler, a inclusão do nome do governador na lista foi uma surpresa.

“Realmente eu não imaginava, até então são figuras políticas que ensejavam a seriedade. A gente tem que ter muito cuidado porque o fato de serem citados não imputa uma condenação. Só que existe o ditado de que onde há fumaça há fogo”.

Kohler afirma que se surpreendeu também com a dimensão a que chegou o esquema de corrupção delatado pela empreiteira. “Poucas figuras talvez se salvem neste mar de lama. A gente não pode dizer que é culpado ou não, vamos aguardar as investigações”.

Repercussões na campanha eleitoral de 2018

O prefeito de Botuverá, José Luiz Colombi, o Nene, também é cauteloso ao comentar a inserção do nome de Colombo na lista.

“Do ponto de vista político, claro que repercute o nome dele aparecer na lista. Mas falar o que pode ou não acontecer depende muito da atitude dele, como é que vai ser agora”, avalia o prefeito.

Para Nene, a crise política e econômica inverteu a ordem jurídica e, agora, quando aparece alguma coisa negativa, é o agente público que tem que correr atrás de provas de sua inocência.

“Ele [Colombo] estar na lista é claro que surpreende, cabe a ele agora correr atrás. Com tantos nomes que estão sendo colocados nesta lista, cada um tem que correr atrás do prejuízo”, avalia Nene.

Os reflexos políticos da delação no pleito de 2018 são incertos, avalia o prefeito de Guabiruba. Segundo ele, não são raras as situações em que figuras ilustres foram condenadas por desvios e voltaram fortes para participar das eleições.

“As pessoas não têm o hábito de analisar o histórico da vida pública quando votam em seus candidatos”, afirma.

“Do ponto de vista político, o nome dele aparecer na lista claro que repercute. Mas falar o que pode ou não acontecer depende muito da atitude dele,
como é que vai ser agora”

Nene Colombi, prefeito de Botuverá

Ele diz que a investigação também pode se mostrar benéfica a quem por ela for afetado.

“Se no curso da investigação foi provado que o que foi falado não era verdadeiro, a pessoa pode dizer que foi vítima. E isso no aspecto popular acaba gerando uma imagem que até agrega”, explica o prefeito

O secretário-executivo da Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) de Brusque, Ewaldo Ristow Filho, foi convidado a comentar o caso, mas declinou.

Venzon: “onde é que não tem caixa 2?”

O deputado estadual Serafim Venzon (PSDB), representante de Brusque na Assembleia Legislativa, afirma que as acusações que pesam contra o governador, de recebimento de recursos por meio de caixa 2, não devem afetá-lo.

Segundo ele, recursos para a campanha não caem do céu e boa parte dos doadores só aceitam fazer doações fora da contabilidade oficial, para não ter que pagar impostos.

“Até hoje só teve um cara que convenceu o mundo ao dizer que cai coisa do céu, que foi o Moisés. Muita gente tenta demonstrar que é coisa do céu, mas na verdade vem de algum lugar”, disse, referindo-se ao financiamento de campanha.

Segundo ele, Colombo deve sair ileso da investigação porque, em seu governo, nenhum contrato foi assinado com a Odebrecht, diferente de seu colega de partido de Blumenau, o prefeito Napoleão Bernardes.

Para o deputado estadual Serafim Venzon (PSDB), Raimundo Colombo conseguirá se livrar das acusações de corrupção eleitoral – Foto Divulgação

“O que salva o governador é que houve uma conversa de que o governo poderia favorecer a Odebrecht em alguma situação, mas não ocorreu nenhum fato”. avalia.

“Neste sentido, pode-se dizer que houve uma tentativa da Odebrecht de influenciar nas decisões de governo, mas o governo cautelosamente, foi analisando e deu tempo para ser interrompido o processo. O governador não está comprometido, porque não existia nenhuma obra no estado”.

Para o deputado, na situação “não está caracterizado que houve uma troca, ninguém pode demonstrar que existia a intenção por parte do governo. Por parte da empresa havia intenção de criar um ambiente favorável para algum favorecimento”.

Caixa 2 na campanha
Serafim Venzon afirma que o caixa 2 – uma das implicações da delação de Colombo – está impregnado no sistema eleitoral porque é assim que funciona em todas as atividades.

“Onde é que não tem caixa 2? Qual é o caixa que tem na igreja, no hospital? As pessoas que doam para o hospital, doam de que caixa?” questiona o deputado. “70% da nossa economia, no Brasil, é caixa 2. Qual a instituição filantrópica que trabalha só no caixa 1, que a pessoa que doa declara que doou e eles dizem onde gastaram. Eu duvido que se ache uma”.

Numa sociedade onde o caixa 2
impera em todas as atividades,
como vai se exigir que na
política não tenha caixa 2?”.

Serafim Venzon, deputado estadual

Conforme o deputado, “numa sociedade onde o caixa 2 impera em todas as atividades, como vai se exigir que na política não tenha caixa 2?”.

Ele afirma que, na política, “ninguém quer botar no nome como doador, por isso deixa no caixa 2”, e que na eleição majoritária “o candidato não declara tudo que gastou, porque a pessoa que doou não permite que coloque o nome dele”.

“Então o político não pode dizer tudo o que gastou porque tem que dizer de onde veio, daí opera no caixa 2. Se ele ganha no caixa 2, tem que gastar no caixa 2”, resume.

“Tem pouca gente que pode jogar pedra. Acho que toda essa situação vai provocar grandes mudanças, que virão em beneficio de todos”, afirma, referindo-se a mudanças na legislação eleitoral.  

Contraponto
O governo do estado rechaçou as acusações, por meio de nota oficial. “A versão dos delatores da Odebrecht sobre contribuição para campanha que está sendo noticiada é absurda, carregada de mentiras, ódio e revanchismo. Neste momento importante que atravessa o país, é preciso separar o joio do trigo, afim de evitar que sejam cometidas injustiças que se tornem irreparáveis”.