Para que as Cinzas?
Após o Carnaval, os católicos celebram a Quarta Feira de Cinzas. É um rito simples, imposição das cinzas durante a celebração eucarística, mas significativo. Abre o tempo da Quaresma. Tempo forte liturgicamente. Tempo de conversão, de mudança de vida, de penitência, de caridade mais intensa. Aqui no Brasil, também acontece a abertura da Campanha da Fraternidade.
Não é um sacramento. Mas um sacramental, ou seja, um sinal sagrado que, de alguma maneira, significa, comunica a vida da Graça. O que equivale dizer que a vida de Jesus, vivo e ressuscitado, que circula na vida de comunhão e unidade dos que, nele, creem é derramada no fiel penitente.
Nas comunidades cristãs primitivas, a imposição das cinzas era um sinal imposto aos penitentes públicos, como sinal de penitência pelos pecados públicos. O papa Urbano II, nos século XI estendeu para toda a Igreja e o transformou em símbolo para todos os fiéis se reconhecerem pecadores, manifestando sua fragilidade e mortalidade.
A Quarta Feira de Cinzas, atualmente, abre o tempo da Quaresma e, aqui no Brasil, o tempo da Campanha da Fraternidade, em preparação da celebração da Páscoa, a Ressurreição do Senhor Jesus. Centro e fundamento da fé e da vida do fiel, seguidor (a) do Mestre Jesus. Hoje, entre nós brasileiros, a Quarta Feira de Cinzas é bastante prejudicada, pelos exageros do Carnaval.
No gesto da imposição das cinzas sobre a cabeça dos fiéis, o ministro diz: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Dois verbos fundamentais na vida do seguidor (a) de Jesus: converter-se e crer. Conversão é mudar de vida, mudar de rumo, de caminho e assumir o caminho de Cristo. Fé é, antes de tudo, dom de Deus e encontro pessoal com Cristo. Encontro que gera aceitação, adesão e entrega de vida pela Boa Nova do Reino de Deus. A fé em Jesus Cristo ressuscitado faz brotar vida nova das cinzas, simbolizando a condição de criatura fraca, frágil, pecadora, pó necessitada da ação de Deus.
Desta forma, a imposição das cinzas não é um mero rito repetido a cada ano, na Quarta Feira de Cinzas. É, principalmente, a celebração do reconhecimento pelo ser humano de sua condição criatural de mortal, mas chamado por Deus à imortalidade, desde que siga a proposta de vida trazida pelo Cristo da parte do Pai. É, portanto, o reconhecimento consciente e público que somos todos peregrinos, estamos de passagem neste mundo e procuramos viver de agora em diante com a firme esperança que nossa Pátria futura e definitiva é a plenitude de vida na Casa do Pai.
Para você que se considera um fiel, seguidor (a) de Jesus, que sentido tem o sacramental das cinzas? Com que disposição você o celebra e como pretende prolonga-lo ao longo da Quaresma? Você é daqueles que crê que “o inferno ou o céu a gente constrói aqui mesmo, nesta terra” e para por aí? Tudo termina, por aqui mesmo. Outros ainda vivem como se jamais vão deixar de viver aqui. Não se põem e até fogem de qualquer reflexão a respeito da possiblidade da morte. Ou pior ainda, é alguém que se acha perfeito, sem pecado, portanto, não necessitado de conversão, de penitência, da graça de Deus…? Só os outros precisam!
São algumas perguntas que certamente podem e devem nos acompanhar nesta Quaresma. Por mais que sejam incômodas, elas precisam de uma resposta consciente e pessoal, se quisermos construir uma vida com sentido que leve a plenitude de vida.