A Paracopa Sesc foi aberta oficialmente na noite desta quarta-feira, 25, com uma palestra da ex-ginasta olímpica Laís Souza no auditório da Uniasselvi, no Centro de Brusque. O evento inclui uma programação de competições esportivas e também de workshops e palestras, com o 1º Fórum Paracopa Sesc de Atividade Física Adaptada. A programação se estende até domingo, 29.
Laís Souza foi recebida por um auditório da Uniasselvi praticamente lotado. Em um bate-papo com a plateia, fez um relato de sua carreira como ginasta e também do acidente sofrido enquanto treinava esqui aéreo em 28 de janeiro de 2014, às vésperas das Olimpíadas de Inverno de Sochi, na Rússia. O tempo restante foi destinado às perguntas dos espectadores.
Atualmente residindo em Vila Velha (ES), ela estuda História na Universidade Estácio de Sá. “Cheguei a fazer psicologia quando morava em São Paulo, faço História há alguns meses. Às vezes chega a ser revoltante ver como a História se repete, em tantos aspectos. Espero me apaixonar mais (risos).”
Acessibilidade
A ex-atleta de 30 anos, adaptando-se à enorme mudança em sua vida, fez duras críticas à questão da acessibilidade no Brasil. “O Brasil é difícil, precário. Claro que vem melhorando, as pessoas vêm acordando, mas é pouco, quase nada. Não se trata de ter ônibus adaptados. Não é bem isso. Porque você sai do ônibus, e ao redor? É buraco, Vi pouco no exterior, mas deu para sentir a diferença. A questão de acessibilidade não é só em relação a cadeirantes, é para todos: cegos, surdos, às vezes até idosos. Já estive do outro lado, quando andava. Não conhecia nenhum cadeirante, e não fazia ideia da dificuldade.”
Respaldo e custos
Laís Souza contou também à plateia que teve todo o respaldo da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) após o acidente. Com patrocínio e o apoio de vários amigos, ela citou o nome de Neymar, como um amigo que a ajudou financeiramente. Também mencionou os desafios para manter uma estrutura necessária, com cuidadores. “Tenho sorte, não faço ideia de como é a vida de um cadeirante em alguma periferia, porque dependo de alguém para tudo, e não é barato.”
Acidente
Após se aposentar na ginástica olímpica, Laís Souza passou por momentos depressivos na busca por um novo ofício. Com o convite da CBDN para se tornar uma atleta do esqui aéreo, ela treinou para o novo esporte e conseguiu resultados relevantes, a ponto de se classificar para as Olimpíadas de Inverno de 2014.
“Era uma semana mais calma, para ir descansando para as Olimpíadas, num treinamento de velocidade e freio. Faltavam 10 minutos para o fim do treino, quando houve o acidente. Não tenho muita lembrança do que aconteceu”, explica.
Laís contou também que não recebeu a notícia sobre a tetraplegia imediatamente. “Fui sentindo o que tava acontecendo. Fui descobrindo essa nova Laís, cooperando com os médicos. Foram muitas mini-vitórias. Minha garra que veio do esporte ajudou com isso. Eu tinha pessoas ao redor. Se não fosse toda a equipe multidisciplinar, poderia ter sido diferente, toda a forma de encarar o que aconteceu.”
A ex-ginasta e esquiadora conta que, quase seis anos depois, ainda vive uma fase de aceitar. “No começo, passei por muitos momentos sem querer aceitar. É complicado, eu sei que não dá para voltar atrás. Sempre tenho oportunidade de falar sobre isso, tenho procurado ouvir muito, quero tentar aprender. Ainda tem muita coisa boa para acontecer comigo.”
Laís Souza chegou a receber um tratamento com células-tronco, e chegou a recuperar um pouco da sensibilidade em alguns pontos da barriga, nas costas e nas pernas.