Paralisação de obra no Jardim Maluche é contestada por advogado de construtor
Ele vê embargo como desnecessário, pois Ibplan havia permitido continuidade dos trabalhos, desde que reparo fosse feito
Ele vê embargo como desnecessário, pois Ibplan havia permitido continuidade dos trabalhos, desde que reparo fosse feito
O prédio que está sendo construído na rua Osnildo Silva, bairro Jardim Maluche, segue com as obras paralisadas após determinação da Prefeitura de Brusque, e o advogado do responsável pela construção do prédio, Leônidas Pereira, contesta a interdição. Ele explica que o pé-direito (altura do piso ao teto) do subsolo, que ultrapassava o nível do solo em 19,8 centímetros, já foi devidamente rebaixado e que, com o projeto adaptado, não há motivo para que os trabalhos não continuem.
Pereira vê o embargo como desnecessário, pois o Instituto Brusquense de Planejamento (Ibplan) já havia autorizado a continuidade da obra com os devidos reparos para adequação ao Plano Diretor. “Eu duvido qual juiz que, vendo um prédio de quatro andares, com um erro de 20 cm, embargaria a obra. Mandaria ter uma compensação na parte de cima, na última laje, com compensação da altura. É um excesso de zelo.”
As obras foram embargadas em agosto, após fiscalização do Ibplan. A notificação preliminar e auto de embargo datam de 13 de agosto. Três meses depois, em 26 de novembro, foi emitido o parecer do Ibplan, afirmando que o desnível final da obra era de 19,8 cm, e que esta medida deveria ser, portanto, rebaixada. Pereira afirma que até a emissão deste parecer, os trabalhos estiveram paralisados, pois não era possível fazer reparos sem que o órgão estipulasse o que de fato estava irregular. “Até então, a prefeitura fez o papel dela, fazendo a fiscalização com rigor”, comenta Pereira.
Em 10 de dezembro, o responsável pela obra, engenheiro civil Carlos Fernando Mueller, encaminhou um requerimento à prefeitura, no qual se comprometia a rebaixar a obra na medida necessária e pedia para que as atividades fossem retomadas. O pedido foi aceito pelo diretor-presidente do Ibplan, Rogério dos Santos, e o procedimento para a adaptação da obra foi iniciado. Em vez de 19,8 cm, o prédio, que até 10 de dezembro havia sido construído até o terceiro andar, foi rebaixado em 25 cm, na tentativa de evitar novas contestações. Os reparos custaram cerca de R$ 100 mil.
Em 22 de janeiro, um fiscal do Ibplan foi ao local afirmando ter recebido ordens para multar o responsável pelo prédio, amparado pela denúncia de vizinhos que alegavam que o embargo não estava sendo respeitado.
Pereira se reuniu com o prefeito de Brusque, Jonas Paegle, o vice-prefeito, Ari Vequi, e com o diretor-presidente do Ibplan, Rogério dos Santos, na quinta-feira, 23. O advogado apresentou documentos e fotografias comprovando que não havia mais irregularidades e que não houve desrespeito ao que havia sido acordado. De acordo com Pereira, todos haviam se dado como satisfeitos, afinal o Ibplan havia deferido o pedido de continuidade da obra.
Porém, na sexta-feira, 24, o procurador-geral do município, Edson Ristow, instaurou um procedimento administrativo para averiguar a situação. Ele emitiu um despacho determinando que fosse realizada fiscalização na obra às 10h de segunda-feira, 27, com o objetivo de certificar que as obras não estivessem em andamento.
“Determino que a obra seja paralisada imediatamente até segunda ordem sob pena de cumular o embargo existente com interdição e posteriores procedimentos demolitórios”, comunicou Ristow.
No despacho consta ainda que a edificação, “apesar de embargada, estaria com suas obras em pleno andamento por decorrência de suposta autorização verbal do Ibplan.” Pereira contesta a determinação de Ristow porque o requerimento para continuidade da obra com a adaptação foi deferido pelo presidenter do órgão. Na segunda-feira, 27, Pereira contestou a decisão enviando um ofício a Ristow.
“O reparo não impede a continuação da obra, o que, aliás, já havia sido autorizado pelo diretor do Ibplan”, explica Pereira no documento enviado. O caso está a cargo da Procuradoria e aguarda uma definição.
“Todos este trâmite administrativo que foi instaurado está comigo e não será decidido por mais ninguém. Será decidido pelo procurador-geral. Eu mandei elaborar um auto de constatação sob o ponto de vista técnico e isto foi feito e protocolado na procuradoria. O advogado também já protocolou um pedido, que apenas recepcionamos e não me manifestei sob nem uma nem outra situação. Eu não posso adiantar nenhuma postura de análise no presente momento”, comenta Ristow.
O procurador-geral deverá marcar uma reunião com profissionais da área técnica do Ibplan e solicitar que as partes envolvidas estejam presentes. “Se o que foi exigido pelo órgão técnico foi cumprido pelo proprietário, então vamos numa direção de permissividade. Cumprindo a lei, não há mais o que ser discutido.”
Ristow responde também à contestação Pereira, que vê como desnecessária a intervenção do procurador-geral do município pois o órgão competente na questão, o Ibplan, havia autorizado a continuidade da obra. Na visão de Pereira, Edson Ristow não tem competência legal para assumir a questão.
“Ocorre que o procurador-geral está acima de qualquer outra autoridade na estrutura administrativa, com exceção do prefeito. Nós somos órgão de assessoramento superior em um primeiro instante, mas o procurador-geral possui delegação do prefeito para intervir em qualquer matéria. Então eu não tenho que perguntar a nenhuma outra autoridade o que eu posso ou não posso fazer. A lei me dá esta condição. Se é legítima ou não a avocação que fiz nesta matéria, ela está amparada em delegação de poderes, e não vou discutir isto”, argumenta Ristow.
A presidente da Associação de Moradores do Jardim Maluche (Amasc), Ana Maria Leal, relatou a O Município que o engenheiro responsável pela obra e o dono do prédio foram até sua casa oferecendo uma doação em dinheiro à uma instituição de caridade em contrapartida ao erro de cálculo feito no projeto. O advogado Leônidas Pereira comenta o ocorrido, e diz que não foi uma tentativa de pagamento para que as pressões contra a construção fossem interrompidas.
“Quando começou a pressão de alguns vizinhos do prédio, meu cliente procurou a associação de moradores e explicou que tinha autorização, mas reconheceu os transtornos causados. Portanto, ofereceu R$ 25 mil como compensação financeira. Isto não é incomum e há previsão legal para isto. Pode ser para a associação de bairro, para a prefeitura, alguma instituição.”