Pastor Lindolfo Weingärtner: De alma para alma – Parte IV
Dando continuidade à série de artigos em homenagem ao Pastor Lindolfo, a coluna de hoje tem como tema um marco da sua carreira em Brusque: o enterro do Cônsul Carlos Renaux
Era 1945. Tempos difíceis na precoce trajetória profissional de Lindolfo Weingärtner e é exatamente ali que ele experimentaria o momento que marcaria sua relação com Brusque para sempre ao ser chamado para realizar o sepultamento do velho Cônsul Carlos Renaux.
O Pastor Lindolfo trabalhava numa comunidade do interior de Ibirama, e nos contou como foi aquela experiência única:
O Cônsul era uma pessoa muito relacionada e para o seu sepultamento viriam pessoas muito importantes. Viriam muitas autoridades, inclusive Nereu Ramos, Governador do Estado de Santa Catarina. Viria o arcebispo metropolitano Dom Joaquim Domingues de Oliveira, de Florianópolis, porque a segunda esposa do Cônsul, bem como um filho, eram católicos. Também viriam muitos parceiros de negócios espalhados pelo Estado.
Não se achou, num raio de 100 quilômetros, nenhum pastor que soubesse português suficiente para fazer o sepultamento do Cônsul. Então foram me buscar para realizar o sepultamento do Cônsul, pois eu era dos poucos pastores da Igreja Luterana que falava o português. Eram dois homens de Brusque, um deles Walter Appel e o outro Alfredo Koehler, proprietário da conceituada Confeitaria Koehler e membro da IECLB de Brusque. Chegaram num carro, por volta das 16h. Era fim de tarde de domingo, e eu estava numa comunidade no interior de Ibirama (SC), numa localidade então chamada de Scharlach, onde dirigia o segundo culto do dia. Eles disseram: não podemos voltar sem o senhor. O senhor tem que ir conosco. Fui sequestrado (risos). Viajamos a noite toda e, chegando a Brusque, dormi algumas poucas horas na casa do Cônsul. Na manhã seguinte, tive uma surpresa quando subi o morro da Igreja Luterana do Centro de Brusque. Eu vi que a igreja estava cheia de brasileiros. Era a primeira vez que isso tinha acontecido, pois até então lugar de brasileiro não germânico não era lá.
O enterro do cônsul foi um evento espetacular. Foi declarado feriado na cidade. Calculou-se que umas 10 mil pessoas participaram de alguma maneira do sepultamento, alinhando-se ao longo das ruas pelas quais o féretro deveria passar. Aí pensei comigo mesmo: será que eu posso pregar a minha mensagem simples, de ser do centro do rio e não da margem esquerda ou direita, que uso no sepultamento de um colono? Decidi que sim. Então primeiro eu falei um pouco sobre os benefícios que o velho Cônsul tinha deixado na cidade. E eram muitos, pois ele era mão-aberta mesmo. E depois eu disse: ‘mas isso tudo agora é passado. Ele agora está perante Deus como um pecador que necessita da graça do Senhor e nada mais o pode salvar. Nada do que ele foi ou fez o distingue de um pobre mendigo que igualmente chegou ao fim da vida. Perante Deus contam outros valores, não contam nossos méritos humanos’. E fiquei abismado quando depois do sepultamento o Governador pediu para falar algumas palavras comigo e disse que, intimamente, ele pensava assim também.”
Após o término da guerra, Lindolfo Weingärtner ingressou na Escola de Teologia de São Leopoldo. Formou-se em 1948. Dedicou- se ao magistério e ao ministério em várias comunidades da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. A partir da década de 1970, passou a dedicar-se a atividades literárias e publicou 36 livros, sete dos quais na Alemanha.
“É isto que significa reconhecer Deus de forma apropriada: apreendê-lo não pelo seu poder ou por sua sabedoria, mas pela bondade e pelo amor. Então, a fé e a confiança podem subsistir e, então, a pessoa é verdadeiramente renascida em Deus”. (Martin Luther)