Pelas mãos da comunidade
Com edificação atual datada de 1932, colégio Cônsul tem em suas paredes as marcas de diversas famílias
Os corredores internos da edificação, cuja fundação mais antiga data de 1932, recebem diariamente centenas de crianças e adolescentes à procura da formação escolar. Parte delas talvez não saiba o caminho que a instituição trilhou para chegar onde hoje está.
O prédio que abriga o colégio Cônsul Carlos Renaux passou por inúmeras transformações desde que foi fundado; diversas alas foram construídas, sobretudo nos anos 1950 e 1980, mas suas características arquitetônicas originais, em estilo elaborado por arquiteto alemão, não se perderam.
Otto Hermann Grimm, diretor da escola, é quem nos apresenta a história da edificação, a qual ele conhece como a palma da mão. O colégio Cônsul nasceu, com outro nome, no mesmo local, ao lado da Igreja Luterana, em 1872.
“Ele surgiu por interesse da comunidade, diante da necessidade de oportunizar o acesso à leitura, escrita, cultura”, conta o diretor, lembrando que, quando iniciou as atividades, a grandiosa edificação que hoje existe resumia-se a uma pequena casa pastoral, que dividia o espaço entre igreja e escola.
Em 1912, o educandário passou a funcionar – sempre no alto do morro – em um imóvel com três salas. Em 1932, o atual prédio foi inaugurado. Segundo Grimm, a necessidade de ampliação foi constante, devido à demanda se intensificar ao longo do século.
UNIÃO DA COMUNIDADE
Tanto a construção quanto as ampliações da edificação só foram possíveis devido ao associativismo das famílias que ajudaram a fundar o município.
A construção do patrimônio da escola, que é mantida pela Fundação Educacional Evangélica, foi financiada com recursos das famílias tradicionais de Brusque, que tinham condições financeiras mais abastadas e, em virtude disto, patrocinavam a implantação de novas alas.
“A necessidade foi surgindo e a comunidade foi se dando as mãos e fazendo com que a escola pudesse ser construída”, relata Grimm, “pode se dizer que, verdadeiramente, é uma escola comunitária pela sua origem, pela sua concepção”.
O diretor garante que é intenção dos mantenedores do Cônsul conservar a construção histórica em pé, até porque, atualmente, ela está em perfeitas condições de abrigar as atividades do educandário.
Nas portas de algumas salas de aula e nas paredes de blocos, placas indicam, ainda hoje, quem ajudou a financiar a construção. Em uma das salas, por exemplo, a plaquinha mostra o nome de Hugo Schlösser, industrial brusquense e fundador da indústria de tecidos Schlösser.
A parte mais antiga, de 1932, mantém todas as características originais, incluindo os antigos assoalhos de madeira, que foram substituídos por novos por causa da corrosão causada pelos cupins. O padrão, contudo, é idêntico ao patrocinado nos anos 1930.
Outra característica desta ala mais antiga é que as janelas foram posicionadas em local na qual recebem com intensidade a luz do sol da manhã, dispensando a iluminação artificial. No mesmo espaço, uma escada, também datada da década de 1930, dá acesso ao pátio interno do colégio.
ACERVO HISTÓRICO PERDIDO
Otto Grimm relata que boa parte do acervo histórico do colégio foi destruído, à época em que o nacionalismo esteve mais exacerbado perante o governo brasileiro, em meados da década de 1930, e tudo que remetia a estrangeirismos estava sendo duramente “caçado” pelo governo.
“Acabaram com o acervo fotográfico, muitas fotos foram queimadas e eliminadas, as que existem hoje são raras. O nome do educandário, que era Deutsch Evangelische Schule (Escola Evangélica Alemã), teve que ser modificado”, explica o diretor.
A denominação escolhida, então, foi Escola Evangélica Alberto Torres. Otto Grimm relembra o que pessoas que viveram nesta época contaram sobre a situação vivenciada, principalmente em relação ao acervo fotográfico.
“Pelas circunstâncias da época, tu não poderias ter as fotos, ao menos que colocasse num cofre muito bem escondido, que ninguém tivesse acesso”, explica, “para não se comprometer, as pessoas preferiram eliminar, e muito acabou se perdendo”.
Outro elemento que se perdeu foi o campanário, uma torre desenhada para abrigar sinos (campanas), muito comum em edifícios religiosos. Sua destruição, nesse caso, não foi por força política, mas por alegadas questões de segurança.
“O campanário foi retirado, alegaram os antigos diretores, em função da sua deterioração e, infelizmente, tiveram que eliminá-lo”, conta o diretor do colégio.
HISTÓRIA PERPETUADA
Otto reitera que a manutenção deste patrimônio só é possível com intenso e permanente zelo. “É nosso dever zelar para que ele permaneça, a gente vai renovando, vai reformando, mas sem alterar suas características”, afirma o diretor.
“Isso faz parte da nossa história, é obrigação manter esse vínculo com nossos antepassados, até porque ela ainda atende a nossa demanda. Vão surgindo necessidades, nas quais fizemos adequações e a estrutura continua viável ao atendimento aos alunos”, relata Otto Grimm, que também revela preocupação com a manutenção dos registros históricos do Cônsul.
“Se nós não nos preocuparmos em resgatar, vamos perder essa história e as fotos. Vamos perder relatos de épocas e períodos pelos quais nossa cidade passou. Momentos de crescimento, de euforia, de expansão e momentos difíceis”.