Ministério da Saúde/Divulgação

Otávio Timm
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No complexo cenário da saúde mental, a prescrição e o uso de medicamentos para ansiedade e depressão desempenham um papel significativo. No entanto, a medicação inadequada ou incorreta pode acarretar sérios riscos aos pacientes.

Ambas as condições podem ser influenciadas por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais.

Para discutir o assunto e explorar os perigos associados à administração inadequada desses remédios, o jornal O Município conversou com a Diretora de Atenção Farmacêutica de Brusque, Patricia Bernardi Sassi, e com a médica com pós-graduação em psiquiatria, Giovana Falcão Socoloski.

Os mais procurados

Segundo Patrícia, os medicamentos para saúde mental ‘via SUS’ estão disponíveis apenas na farmácia básica, ou seja, não podem ser encontrados nas Unidades Básicas de Saúde. O motivo é que todos eles são controlados pela Portaria 344/98. Com isso, a retenção da receita é exigida e só podem ser distribuídos com supervisão de um profissional farmacêutico.

“Quando falamos em uso racional de medicamentos para ansiedade e depressão, é importante frisar que o paciente precisa estar atento e entender um pouco sobre seu tratamento, que muitas vezes é a longo prazo. E por ser a longo prazo, muitos pacientes acabam abandonando seus tratamentos, mesmo antes de começarem, ao sentirem que estão melhorando”, alerta a profissional.

Questionada sobre os medicamentos chamados de “tarja preta” (clonazepam, diazepam, entre outros), Patrícia lembra que eles podem causar dependência se não tiverem acompanhamento médico.

Confira a lista dos medicamentos mais retirados na farmácia básica de Brusque:

  • Sertralina 50 mg – 950 pacientes/mês – 80 mil comprimidos/mês;
  • Clonazepam 2,5mg/ml gotas – 200 pacientes/mês – 300 frascos/mês;
  • Clonazepam 2mg – 750 pacientes/mês – 51 mil comprimidos/mês;
  • Fluoxetina 20mg – 500 pacientes/mês – 38 mil comprimidos/mês;
  • Venlafaxina 75mg – 400 pacientes/mês – 37 mil comprimidos/mês;
  • Paroxetina 20mg- 250 pacientes/mês – 18 mil comprimidos/mês.

Perigos do vício

A médica Giovana Falcão Socoloski possui pós-graduação em psiquiatria e trabalha no CAPS 2 de Brusque. Para ela, o principal cuidado com este tipo de medicação é manter o acompanhamento médico com consultas regulares e reavaliação.

“São medicamentos que, de preferência, devem ter uma data estabelecida para parar de tomar. Mas manter o uso, parar ou mesmo trocar é uma decisão que precisa ser tomada junto ao médico que está acompanhando o paciente. Aumentar a dose por conta própria é algo que não indico”, conta.

Questionada sobre os problemas que o vício pode trazer, Giovana argumenta que ele escraviza a pessoa.

“Os chamados ‘faixa preta’ com o tempo podem levar à tolerância, necessitando de doses cada vez maiores para o mesmo benefício, além da dependência de não suportar ficar sem a medicação, apresentando intenso mal-estar físico e mental”.

Diferença entre as condições

A ansiedade e a depressão são duas condições de saúde mental que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Para Giovana, é preciso prestar atenção neste fato, já que, para a médica, os brasileiros estão entre os que mais utilizam ansiolíticos e antidepressivos, embora sejam problemas distintos.

“A ansiedade considerada patológica (que necessita de tratamento) é aquela em que há uma preocupação excessiva e difícil de controlar do indivíduo, que ocorre na maioria dos dias por pelo menos seis meses, causando desconforto e/ou prejudicando os relacionamentos e a rotina. Já a depressão é um estado de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de mudanças que afetam a atenção e a memória, mantido por pelo menos duas semanas”, explica.

A médica enfatiza que o medicamento não é necessário em todos os casos e que este é apenas uma parte do tratamento. “Muitas vezes, a psicoterapia está indicada, além de outras terapias. Se estiver na dúvida ou sofrendo por alguma coisa, procure um médico”, conclui.


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