Pernas fortes, saúde de ferro
Correr uma maratona é sempre um desafio, fazê-lo após 30 anos de sedentarismo é uma grande conquista e se além disso essa pessoa, um ano antes, tinha perdido 80% da força de suas pernas devido a uma doença neurológica, a Síndrome de Guillain-Barré, é uma façanha. César, 42, anos é o realizador dessa conquista.
Nossos membros inferiores detêm mais de 60% da massa muscular total, nenhuma outra espécie de primatas chega a isso. Nas últimas décadas a ciência tem confirmado que a prática de atividade física é imprescindível para ter um bom estado de saúde. Quanto menor é a resistência aeróbica maior é a frequência cardíaca em repouso (FCR). Um estudo indica que um aumento de 10 batimentos da FCR significa um aumento de 16% de risco de mortalidade.
Se fossemos obrigados a escolher um grupo muscular específico para conseguir esse objetivo não há dúvidas que o escolhido seria a musculatura dos membros inferiores.
Há milhões de anos os humanos tiveram que desenvolver a habilidade de correr para poder caçar e fugir dos seus predadores. Caminhar e correr é algo que está em nossos genes. Antes de adquirir a postura bípede, algo que se inicia com os Australopitecos, a locomoção de primatas primariamente arborícolas era dividida com os membros superiores.
A antropologia explica que a postura bípede se desenvolve muito antes do aumento significativo do volume cerebral nos hominídeos. Não está descartada a hipótese que ao longo de milhões de anos o fato de poder correr devido à bipedestação possa ter influenciado o aumento de volume cerebral.
Embora se acredite que o aumento do volume cerebral ao longo da evolução tenha uma relação direta com o aumento da complexidade social do gênero homo. Esta expansão do cérebro e da inteligência seria resultado de uma adaptação a uma vida social na qual os indivíduos têm que colaborar ao mesmo tempo que competir.
Nessas duas tarefas as habilidades para obter alimentos depende muito da força, resistência e habilidades físicas, onde predominantemente as pernas representam o papel principal.
Estudos recentes têm mostrado os benefícios que a atividade física envolvendo os membros inferiores trazem para a saúde física e mental. Estes benefícios são mais evidentes na população idosa, surgem novos neurônios no hipocampo e córtex cerebral e principalmente formação de novas sinapses (comunicação entre neurônios).
Muitos parâmetros fisiológicos sofrem deterioração natural com a idade, por exemplo uma pessoa de 80 anos tem apenas 40% da capacidade respiratória que tinha aos 30 anos e a velocidade de transmissão do impulso através dos nervos cai 20%. Dos 25 aos 80 anos há uma perda de 50% da massa muscular, essa perda se acelera perto dos 60 anos de idade.
Ao manter-nos ativos fisicamente podemos diminuir essas perdas naturais.
Idosos que praticam atividade física regular com fortalecimento da musculatura das pernas tem melhor desempenho cognitivo e podem atrasar o início de sintomas de demência em vários anos.
Olhamos com tristeza que sempre que se debate sobre saúde pública o foco é o atendimento médico seja primário ou especializado e esquecemos a prevenção.
Países com os melhores indicadores em saúde são aqueles que investem muito em atividades preventivas como o estímulo à prática de atividade física em todas as idades.
Isso tem um grande impacto na redução de muitas doenças crônicas, melhora dos indicadores de saúde mental e de eventos cardiovasculares agudos como infartos e derrames.
Infelizmente nossa cidade está bastante carente de espaços públicos para a prática de atividades físicas ao ar livre e nossos idosos não dispõem de ações concretas que os estimulem a sair de casa e tenham uma vida fisicamente ativa. O grande segredo do envelhecimento bem-sucedido é a prática de atividade física regular e manter as pernas fortes e resistentes. César sabe disso e promete não parar com seus treinos de corrida.