Pilotos de Brusque sofrem para seguir carreira no automobilismo
Altos valores que envolvem as principais competições de velocidade atrapalham a busca de destaque
No Brasil, ser piloto profissional é para poucos. Entre um jovem cheio de sonhos e um competidor dos principais eventos de automobilismo do país há um abismo. Mais do que em qualquer outro tipo de esporte, por vezes não é o talento que conta para a evolução nas pistas, e sim o quanto se é capaz de investir, muitas vezes do próprio bolso, para se equipar cada vez melhor.
Já há décadas, Brusque é um reconhecido celeiro de bons pilotos, principalmente saídos do kart. Contudo, dar um passo a mais em busca de espaço nas variadas vertentes da velocidade – como Stock Car, fórmulas de montadoras e Fórmula Truck – ainda é difícil, e o principal motivo é a quantidade de dinheiro que envolve estas competições.
Busca de reconhecimento
Dedicação, trabalho e muita habilidade fizeram com que o piloto brusquense Bruno Albino, de 18 anos, surpreendesse a todos e conquistasse o título da categoria NP na RA Racing, dentro do Kartódromo do Beto Carrero. Isso porque era a primeira vez que o piloto participava da categoria em uma competição repleta de etapas durante o ano, para que enfim se sagrasse campeão.
Que Albino tem futuro no automobilismo, isso é comprovado. As barreiras para que ele busque um futuro profissional, no entanto, são muitas. “Hoje não tenho nenhum patrocinador. A gente se vira e se desdobra para colocar o kart na pista”, diz o piloto. Segundo o jovem brusquense, o problema não é uma exclusividade da região. “Ser piloto no Brasil é difícil, porque não há incentivo. A gente pode observar o Vettel que hoje é um reconhecido campeão e teve um grande suporte do governo alemão”, explica.
Mesmo diante da realidade nada positiva, ele não desiste de tentar subir nos degraus do automobilismo. “É o sonho de todo iniciante do esporte, ter uma oportunidade de mostrar meu talento, entrar em uma categoria de base, quem sabe na Fórmula 3 brasileira, no Brasileiro de Turismo ou mesmo na Fórmula 1600”, diz.
“O Brasil não tem projetos”
Presidente da equipe Automóvel Kart Clube de Brusque (AKCB), Aknaton Camargo acompanhou muitos talentos surgirem no kartódromo municipal. Para ele, o Brasil só voltará a ter pilotos competitivos nos principais eventos mundiais de velocidade a partir de uma mudança de comportamento na gestão esportiva do país. “Precisaria de um bom projeto para o automobilismo, com bolsas para os pilotos dependendo de seus resultados, com um ranking bem elaborado. Só assim um competidor irá avançar na carreira por seus próprios méritos”.
Ele vai além ao citar um caso local de desperdício de talento. “O Rick Rosin, brusquense que começou aqui pilotando desde os cinco anos, teve um grande momento na carreira. Chegou a participar da Fórmula Mazda, reconhecida competição norte-americana, mas precisou abandonar por falta de recursos”, diz.
O investimento necessário para o piloto brasileiro também é ainda maior do que em outros países devido a alta tributação sobre peças importadas que ocorre no país. De acordo com a publicação especializada Motor Show, um competidor no Brasil não gasta menos do que R$ 50 mil por temporada.
Para exemplificar a dificuldade, Aknaton cita sua área de conhecimento, o kartismo. “A maioria das peças de kart são importadas, e algumas peças que são feitas no Brasil também são vendidas lá fora. Um jogo de pneus MG, empresa daqui, custa mais barato lá fora, porque aqui a taxação é muito alta”, completa.
Opinião de quem chegou lá
Com muito custo, o cirurgião dentista brusquense Joel Mendes Júnior alcançou o cobiçado sonho de ser piloto profissional de uma reconhecida competição de velocidade. Ele defende a equipe Fábio Fogaça Motorsport na Fórmula Truck, a mais reconhecida disputa entre caminhões do mundo.
Mesmo assim, a luta continua. Em cada etapa, o piloto precisa não apenas se provar competente na ‘boleia’, mas também correr atrás dos patrocinadores para poder botar o caminhão na pista. “Nós conseguimos o nono lugar na última etapa com uma equipe de orçamento bem baixo. Foi difícil, porque para nossos adversários se o turbo quebrasse eles colocavam um novo, o meu quando quebra é remanufaturado, só pra dar um exemplo. A diferença é exorbitante”.
Ele explica, contudo, que o processo de busca de patrocínio não pode parecer um simples pedido. “Se o competidor vai na empresa e pede patrocínio ele vai parecer um mendigo. É preciso mostrar um projeto, provando que a marca do empresário vai ganhar destaque, como uma espécie de troca”, diz. Apesar de ciente dos meios para se adquirir o apoio necessário, Mendes Junior lamenta a ausência de empresas do estado fazendo parte do seu caminhão. “Hoje não tenho nenhuma empresa catarinense parceira, o que é uma pena”, completa.
Mendes Junior, que se destaca dentro da própria equipe apesar de estar no seu primeiro ano na Truck, participa no próximo mês da última etapa da competição, em Londrina, Paraná.