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Poder e autoridade

As reflexões a respeito da crise atual de nosso país e que se manifesta com muitas faces, com frequência aparecem essas duas palavras: poder e autoridade. Será que todos sabem o que estão dizendo? E como os leitores as entendem? Será que essas duas palavras estão dizendo a mesma coisa? Estão encobrindo a mesma realidade? […]

As reflexões a respeito da crise atual de nosso país e que se manifesta com muitas faces, com frequência aparecem essas duas palavras: poder e autoridade. Será que todos sabem o que estão dizendo? E como os leitores as entendem? Será que essas duas palavras estão dizendo a mesma coisa? Estão encobrindo a mesma realidade? Será que elas têm algo em comum? Estão acenando para realidades diferentes?

Primeiramente, é bom ter presente o que cada termo ou palavra pretende dizer. Sem querer esgotar o assunto. Vejamos algumas noções básicas. Quando falamos em poder, estamos expressando ou se referindo a algo ou alguém que tem a capacidade ou habilidade de influenciar no comportamento de outros. Inclusive, de transformar ou modificar o comportamento de outrem. Já, quando falamos em autoridade é o direito de influir sobre os outros. Normalmente, o poder é o resultado de uma conquista. Enquanto a autoridade resulta quase sempre de uma delegação. Por isso, pode acontecer que alguém tenha até grande poder sem autoridade como também pode existir autoridade sem poder.

Como o poder é fruto de conquista, pode ocorrer que quando alguém tem o poder sem conquistá-lo encontre muita dificuldade em exercê-lo. Certamente, não se dará bem, pois o próprio processo da conquista do poder lhe dará a força para exercê-lo.
Uma das relações mais difícil de administrar é certamente a relação entre liberdade, autoridade e poder. Isto acontece em todos os tempos. Isso acontece porque estão em jogo valores fundamentais da própria convivência social. Com efeito, não pode existir uma convivência equilibrada e harmônica, sem um justo jogo dessas três realidade – liberdade-autoridade-poder – imprescindíveis na construção de uma sociedade democrática, onde tem que reinar a justiça.

Sem dúvida, quem deu os balizamentos fundamentais para conjugação desses valores foi o Mestre da Justiça, Jesus de Nazaré. E o fez, por meio de sua proposta de vida que chamou de Boa Nova do Reino de Deus. Jesus tem consciência clara que não se pode fugir do poder e não se pode escapar do poder. O poder, portanto, está relacionado intimamente ao nosso ato de existir. Nós somos poder. A vida é poder. O problema todo está no exercício do poder. E, aqui, está a grande diferença de concepção de poder e também das consequências de seu exercício. Sim, porque alguém pode exercer o poder com autoritarismo ou participação (partilha do poder); concentrando, centralizando ou delegando responsabilidades; dominando, subjugando, oprimindo ou buscando a promoção dos outros; impondo, ao invés de buscar consenso.

Jesus foi muito claro, por palavras e exemplos, ao apresentar sua proposta de poder. Para Ele só tem um modo de exercer o poder: é o poder-serviço. Essa é a única maneira ou único jeito de exercer o poder, segundo a Proposta de Vida de Jesus. O verdadeiro poder está em servir e que não deveria existir a luta pelo poder em seus seguidores. Foi por isso que ele afirmou e viveu: “… o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos” (Mt 20,28). Em outra ocasião, quando os discípulos discutiam quem seria o maior, Jesus dá essa orientação: “Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça servo” (Mt 20, 25-26).

Seja na vida civil ou na vida de fé, o verdadeiro poder é o serviço. Serviço que exige humildade, doação de si, entrega de si mesmo, em vista do bem comum.