Policial civil de Brusque completa 50 anos de carreira; conheça sua história
Américo Aurino Ferreira iniciou trabalho na polícia em março de 1972
Américo Aurino Ferreira, hoje com 70 anos, é nascido e criado em Florianópolis. Casado e pai de quatro filhos, o policial atua em Brusque desde 2013. Américo iniciou na academia de polícia em 1971, e foi efetivado no dia 2 de março de 1972. Neste ano, portanto, ele completa 50 anos de atuação como policial civil.
A Câmara de Brusque aprovou na semana passada a concessão de comenda de mérito profissional a Américo. O requerimento do vereador Alessandro Simas destaca que o profissional atua em serviços de trânsito no município de Brusque, acumulando histórico de “retidão e probidade”.
Em 2019, ele já havia sido homenageados pelos 47 anos prestados à polícia. Na ocasião, recebeu uma placa do então prefeito de Brusque, Jonas Paegle. “Fico muito feliz por ter sido reconhecido como nunca tinha sido”, declarou, na época.
Carreira
“Comecei em 1972 e, de lá para cá, percorri várias cidades do estado como Itajaí, Brusque, Leoberto Leal, Major Gercino, São João Batista, Governador Celso Ramos, sempre trabalhando em Delegacia de Polícia Civil, mas em funções diferentes”, lembra Américo.
Anos depois, o policial trabalhou na Delegacia de Proteção à Mulher, Adolescente e Idoso em Balneário Camboriú. Após breve período no litoral, foi para Guabiruba, onde atuou por quatro anos. Depois foi convidado para assumir o setor de penalidade jurídica na delegacia de Brusque, onde também assumiu funções como expedições de alvarás e supervisor de carteiras de motorista, em 2017.
“Em 2019, me tornei responsável por ser o supervisor do trânsito de Brusque, que também cobria outras cidades como Nova Trento, São João Batista, Guabiruba, Botuverá, entre outras. Essa função é a mesma que eu desempenho até aqui na cidade de Brusque”, afirma.
Histórias marcantes
Como policial, Américo já atuou em milhares de casos, cada um com o seu tamanho e importância na profissão. Segundo o oficial, há três casos que marcaram sua carreira, ambos com finais felizes.
Sequestro
O primeiro que ele se recorda se trata de um sequestro que ocorreu em 1999, quando ela ainda trabalhava na delegacia de Governador Celso Ramos. Na ocasião, uma garota já havia sido sequestrada por um homem há três dias. Ela foi sequestrada na cidade, mas foi levada para a cidade de Biguaçu. As informações era de que eles estavam em uma área de mata.
“Começamos a fazer a investigação com uma equipe boa e bem treinada. Fizemos uma varredura durante três dias. Me recordo de que, acompanhado de uns colegas, me aproximei desse mato na cidade de Biguaçu quando, de repente, ouvimos um gemido e encontramos uma lona preta e em cima dela, estava a menina com a boca tampada pela mão do sequestrador para que ela não gritasse”, relembra.
Após a localização do criminoso, Américo diz que o homem sacou um revólver e apontou para os policiais.
“Estávamos em três ou quatro oficiais, não lembro exatamente. Na época, nós ficamos na dúvida com relação a revidar e abater o criminoso pois a garota estava em perigo. A conversa foi para que ele abaixasse a arma, mas ele era irredutível. Fomos nos aproximando e ele deixou chegarmos perto dele. Daí claro, utilizamos a tática da arma em movimento e conseguimos abordá-lo sem dar um tiro se quer. Ele foi dominado e a garota foi libertada. Ela ficou feliz da vida pois já estava há dias três com ele” diz o oficial.
Tráfico de drogas
O catarinense afirma que, durante toda a sua longa carreira, já passou por várias situações no mundo da criminalidade e claro, ele já atuou em vários casos de tráfico de drogas.
“Em função do meu cargo, essas funções são arriscadas. Porém, graças a Deus nunca fui alvejado, ou sofri alguma coisa grave nas ocorrências”, diz.
Um caso relacionado ao tráfico de drogas e que ele se lembra muito bem aconteceu em Itajaí, em 1974. Segundo ele, o caso envolvia um grande traficante da região na época.
“Descobrimos que ele estava recebendo uma carga. Quando o abordamos em sua residência, ele tinha um quilo e meio de maconha em cima da mesa. Ao decidirmos invadir a casa ele se escondeu no quarto. Fomos até lá e conseguimos abrir o cômodo e, quando fizemos isso, ele estava com a arma apontada para mim”, lembra.
Américo diz que a mãe do traficante tentou impedir os policiais de entrarem, mas de nada valeu.
“Quando entramos ele tentou fugir pela janela, não conseguiu e tentou atirar no meu peito. O tiro não deu certo e eu até podia revidar e alvejá-lo, mas não quis fazer isso, pois sabia que do outro lado da janela ele já estava cercado. Neste dia o prendemos sem usar um tiro sequer”, conta.
Milagre em acidente
Enquanto ainda trabalhava na delegacia de Governador Celso Ramos, o policial lembra de um caso em especial. Na ocasião, era um acidente de trânsito envolvendo três veículos em uma das curvas que percorriam os cantos das praias da região.
Ao chegar com a equipe no local, Américo percebeu que haviam três vítimas no interior dos veículos. Dentre elas, uma jovem com perfuração no pescoço. Quando colou os dedos na jugular dela, percebeu que não haviam sinais vitais, porém, sentia que a jovem ainda tentava respirar.
“Avisei aos colegas que ela poderia estar viva e iniciamos o atendimento. O helicóptero do Corpo de Bombeiros a levou para o hospital, mas nunca fiquei sabendo se ela havia sobrevivido”, disse.
Porém, anos depois, Américo teve uma surpresa. Enquanto estava com a família na praia aproveitando um dia de sol, foi surpreendido por uma mulher que, de primeiro momento, o policial não reconheceu.
“Ela veio mancando e perguntou se eu a conhecia e eu disse que não, mas ela disse que me conhecia. Eu não podia acreditar, ela era a mulher que estava naquele acidente. No momento em que eu fui verificar se ela estava viva, ela disse que não via nada, mas falou que podia ouvir minha voz pedindo para que os bombeiros atendessem ela. Ela me agradeceu pois, se eu não tivesse notado ela dentro do carro, ela com certeza estaria morta. Na época ela já tinha filhos e tudo isso me deixou muito emocionado”, relembra.
Aposentadoria
Os agentes da Polícia Civil costumam se aposentar cerca de 30 anos de serviços completos, estatística já ultrapassada por Américo. Além de ter completado os 30 anos previstos, já cumpriu 20 anos adicionais.
“Todos perguntam se eu vou parar por causa da minha idade e eu respondo que enquanto Deus me permitir ser útil eu vou trabalhar. Eu gosto de trabalhar na polícia, isso me dá coerência. Sempre digo aos colegas que faço e trabalho com aquilo que eu gosto e ainda sou pago pra isso”, conta o oficial.
Perguntado se mudaria alguma coisa se pudesse voltar atrás, o policial afirma que, se tivesse a experiência e a técnica que possui hoje lá no início da carreira, tudo seria mais fácil, mas afirma que faria tudo do mesmo jeito.
“Todo o final do dia, quando vou pra casa, eu costumo fazer uma análise de tudo que fiz durante o dia. Se eu deixei algo a desejar ou errei em algo, eu utilizo o dia seguinte para melhorar e fazer o certo. Não faço isso porque sou o melhor ou mais ‘santo’, mas é uma técnica minha. Confesso que, se tivesse que voltar no tempo, eu faria tudo de novo, exatamente como eu fiz. Claro que o conhecimento e a prática que tenho hoje me ajudariam, mas faria tudo de novo. O que eu faço é uma dádiva, é um sacerdócio”, afirma.
“O ser humano ele sempre deixa um histórico, um legado quando ele deixa essa vida. O que eu quero deixar para quem um dia assumir o meu lugar é a imagem certa de como é ser um policial, ser um agente de segurança pública. Quero que saibam que a polícia é ordeira, investigativa e técnica como nunca foi antes”, conclui Américo.
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