Outro dia perguntei: se você fosse o/a Prefeito/a, que ações estariam contempladas no seu plano de governo? E o que você faria se fosse eleito/a Vereador/a? Fiz perguntas consistentes, para as quais não havia espaço para respostas do tipo: acabar com a corrupção, dispensar todos os funcionários públicos ou fechar a Câmara de Vereadores. As respostas deviam ser factíveis e considerar a legislação vigente. A resposta foi uma só: um unânime silêncio sepulcral. E não foi aquele tipo de silêncio com o qual nos defrontamos enquanto uma pessoa reflete a respeito…. Foi um silêncio de quem não sabe a resposta. Um silêncio que dizia mais do que palavras, um silêncio fundador que acusava nossa falta de envolvimento com um dos pontos mais preciosos de uma Nação: a causa pública. Uma resposta sem palavras que denunciava um recuo silencioso. Um recuo de um país que está sendo condicionado para não pensar, não analisar, não interpretar, não questionar, não participar e não agir.
Talvez você se pergunte: como isso, se o celular que mais de 75% dos brasileiros usa é mais avançado do que os computadores usados pela NASA em 1969? Como isso, se é possível acessar quase tudo pelo celular e a quantidade de notícias a que se tem acesso é enorme e flui aos borbulhões?
A todo instante somos bombardeados de notícias que, numa alegre irresponsabilidade, declaram algo sobre uma realidade. São tantas as informações que já não paramos para desenvolver uma análise crítica. E pior: nos acostumamos a repetir as notícias feito papagaio – sejam elas verídicas ou não. E aí, é como diz o ditado: “uma mentira contada muitas vezes torna-se verdade”… Para reforçar o recuo silencioso, faz anos que nosso ensino é incapaz de desenvolver uma consciência crítica e na maioria dos casos não tem conseguido formar cidadãos pensantes. Enquanto isso, as coisas aqui acontecem, mas como estamos tão “ocupados” com o que querem que nos ocupemos, deixamos de ver o aqui e o agora, e vamos abrindo mão de ser os atores da nossa própria história.
A comunicação é uma das ferramentas mais importante para o ser humano e é fato que a imprensa, ao proliferar notícias, tem sido a grande porta voz do discurso dos atores sociais. Logo, tem grande impacto na formação do senso crítico da sociedade. Mas quanto à informação de base – aquela que fornece subsídios para a formulação de opiniões e contextualização dos dados – o que tem sido produzido? Ao que tudo indica, há grande dificuldade em conciliar o efeito do imediatismo da notícia com a necessária contribuição para a construção do conhecimento e, embora acreditemos ter poder de escolha, na verdade somos continuamente influenciados. Enquanto nos permitirmos receber muita informação de pouca ou nenhuma utilidade prática, vamos sendo condicionados para não analisar, não questionar, não participar, não agir…
Diz-se que a comunicação foi eficaz quando transformou a atitude das pessoas e Michel Bongrand, considerado um dos pais da comunicação política na França, já dizia que “para chegar ao poder, assim como para o exercer ou prestar contas ao cidadão, a política é comunicação”. Política e comunicação são interdependentes, e os resultados de uma refletem-se na eficácia da outra. No Brasil, podemos concluir que a comunicação tem sido eficaz, pois já é possível constatar que alcançou resultados: conseguiu produzir a inércia de um povo, gerações inteiras condicionadas a não pensar, não analisar, não interpretar, não questionar, não participar e não agir.
Mudou a atitude do brasileiro, num recuo silencioso e aniquilador.
Enquanto isso, novas eleições vem aí…