Por que a iniciativa privada deixou de executar obras públicas em Brusque e região
Empresários que protagonizaram parcerias com o governo relembram casos; Secretaria de Estado da Fazenda comenta situação
Empresários que protagonizaram parcerias com o governo relembram casos; Secretaria de Estado da Fazenda comenta situação
Na última década, obras como a duplicação da Antônio Heil no trecho brusquense e o acesso a Guabiruba no bairro Imigrantes foram executadas pela iniciativa privada, em acordos com o governo de Santa Catarina. A contrapartida às empresas foi a dedução parcelada do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
No entanto, parcerias do tipo não têm mais sido realizadas há alguns anos. A Secretaria de Estado da Fazenda afirma não têm como contabilizar quantas obras anteriores à gestão de Carlos Moisés foram realizadas por meio deste tipo de acordo no estado.
Em contato com O Município, O governo do estado não firma mais este tipo de convênio por falta de legislação específica. A falta de contrapartida ao estado em parcerias anteriores também foi listada como obstáculo.
Conforme relata o empresário Ingo Fischer, o governo de Santa Catarina admitiu a possibilidade da duplicação da rodovia Antônio Heil, contanto que a empresa pudesse realizar a obra no trecho brusquense, de cerca de quatro quilômetros. A intenção de Ingo Fischer era estender a obra até a rótula da Limeira, mas o trecho restante não foi aprovado, porque possui jurisdição municipal, e não estadual.
“Eu disse que iria me comprometer com a duplicação, desde que fosse firmada uma parceria com a recíproca do ICMS”, comenta.
Após negociações com o Departamento Estadual de Infraestrutura do Estado de Santa Catarina (Deinfra) e a Secretaria de Estado da Fazenda, a parceria foi firmada. o Deinfra realizou o projeto, e a obra começou em setembro de 2013, sendo finalizada em outubro de 2018. As licitações foram feitas pela própria Fischer, que realizou o acompanhamento da obra e realizou as desapropriações necessárias.
“Foi uma obra muito importante para a cidade de Brusque, muito bem feita, de presente ao município. A rodovia é desfrutada pela população brusquense, e isto deu uma nova imagem, uma nova entrada”, afirma. Fischer diz que a obra acabou se pagando, sem prejuízos. O custo total foi em torno de R$ 45 milhões.
O empresário lamenta o fim deste tipo de acordo e afirma que, se fosse possível, projetaria novas iniciativas do tipo, como uma duplicação da rodovia Ivo Silveira, no limite entre Brusque e Gaspar.
O acesso a Guabiruba, no limite com Brusque, foi uma obra executada pela Guabifios, em parceria consolidada em 2012. O custo estimado à época era de R$ 7 milhões. “Era uma reivindicação antiga de Guabiruba e dos empresários da região”, comenta o empresário Júlio Schumacher, proprietário da Guabifios.
Schumacher relata que pediu diversas vezes pela execução da obra ao poder público, especialmente antes de 2010, durante o governo de Luiz Henrique da Silveira. A insistência chegou ao ponto de o empresário propor que a própria Guabifios executasse a obra, em troca de dedução tributária.
“A primeira empresa a executar uma obra nesta modalidade foi a Votorantin, em Vidal Ramos, e a nossa foi a primeira a ficar pronta”, comenta.
Os trabalhos não foram concluídos de maneira exatamente tranquila. Arcando com todas as responsabilidades da obra, o ICMS foi deduzido gradativamente, com o valor investido sendo recuperado ao longo dos anos. Mas ainda assim, algumas despesas acabaram ficando a cargo da Guabifios.
“A Guabifios bancou parte, porque algumas despesas e ônus ultrapassaram o valor contratado. A empresa contratada quebrou e sobraram algumas contas a pagar e compromissos que não conseguiram honrar”, comenta Schumacher.
O empresário palpita que a dedução do ICMS não era vista como benéfica ao Judiciário e ao Legislativo, que recebem repasses importantes deste tributo.
“Estas partes se sentiram prejudicadas e passaram a questionar a legalidade desta modalidade de parceria. Por isso não tem mais sido feita”, opina.
Em retrospectiva, a empresa avalia como uma experiência, no geral, positiva, por ter atendido a uma reivindicação antiga. O episódio é considerado “página virada, apesar dos incômodos proporcionados com tempo e prejuízos. “Temos uma função social e não fugimos desta responsabilidade. Nos sentimos favorecidos.”
Schumacher não vê possibilidade de parcerias do tipo se repetirem, mas afirma que a Guabifios está disposta a colaborar com o setor público.
“Não há nenhuma necessidade ou projetos previstos hoje. A burocracia trava. Eu alteraria um pouco o modelo da parceria, porque não pudemos fazer como eu faria se tivesse feito uma obra para mim. São permitidas apenas empresas homologadas. Talvez fosse possível economizar mais.”
Embora acordos como os que duplicaram o trecho brusquense da Antônio Heil e construíram o acesso a Guabiruba sejam parcerias entre o poder público e a iniciativa privada, a nomenclatura parceria público-privada é utilizada para outro tipo de procedimento.
Parcerias público-privadas, por definição da lei federal 11079/2004 e da lei estadual 17156/2017, são aquelas nas quais a iniciativa privada passa a administrar e/ou realizar a manutenção de serviços públicos, enquanto o estado passa atuar enquanto fiscal.