X
X

Buscar

PP de Brusque tenta unificar alas para eleição de 2016

Partido tenta neutralizar divisão das alas azul e vermelha para encontrar consenso na próxima disputa eleitoral

A expressão “conhece-te a ti mesmo”, comumente atribuída ao filósofo Sócrates, nunca esteve tão presente no Partido Progressista (PP) de Brusque como agora. O turbilhão de mudanças que tomou conta da política municipal desde o começo de abril, quando houve a troca no governo, tornou mais aparente as divergências internas existentes na sigla.

Quando a candidatura do empresário Ingo Fischer foi anunciada para a eleição indireta que seria realizada em abril, isso causou enorme desconforto aos dissidentes, que apoiavam a candidatura do prefeito interino, Roberto Prudêncio Neto (PSD).

Na sua marca, o PP tem duas cores, azul e vermelho, o que representa bem a atual situação.

Na ala vermelha, apoiadores incondicionais do ex-prefeito Paulo Eccel. Pessoas que governaram junto a ele durante todo o mandato, como o vereador Edson Rubem Muller, o Pipoca, líder do partido na Casa legislativa.

No lado azul, os dissidentes. Defensores ferrenhos do rompimento do PP com o governo Eccel, o qual só foi concretizado, oficialmente, com a cassação do mandato do ex-prefeito, no fim de março deste ano.

Neste momento, o partido busca autoconhecimento, uma posição unificada, crucial para conseguir um bom resultado na eleição marcada para daqui um ano, quando um novo prefeito – desta vez pelas urnas – será escolhido. Para isso, precisa resolver picuinhas que vêm de três anos atrás.

“Tudo começou quando o ex-prefeito queria a Secretaria de Educação para o PT, que estava sendo muito bem administrada pela Gleusa Fischer. Se ele fizesse isso, o PP sairia todo do governo, já em 2012”, narra o vereador Jean Pirola, presidente do Legislativo e uma das lideranças da ala azul.

“Ele reconheceu a força que o PP tinha, manteve a secretária, mas trocou várias peças importantes nossas. Diretores de obras foram tirados e colocados em outro local, deixando o Gilmar [Vilamoski, ex-secretário] sem nenhum diretor. O governo isolou os secretários e o PP acabou perdendo força”.

“Eu me dou com o ex-prefeito Paulo Eccel. Só que acho que ele cometeu um equívoco: quando chamou para conversar, devia ter chamado o PP; ele chamou uma ala e a outra ficou marginalizada, foi esquecida. O Prudêncio está chamando o partido todo”, afirma o secretário de Turismo José Luiz Cunha, o Bóca, que também foi defensor da ruptura com o PT.

Edson Machado, eleito recentemente presidente da comissão provisória que dirige o PP, afirma que, atualmente, está tentando trazer todos para o mesmo lado. Ele reconhece que foi um momento turbulento quando houve o rompimento com o governo Eccel e a posterior adesão ao governo Prudêncio, o que motivou inclusive a circulação de boatos da saída da família Fischer do partido.

“Mas até então não tivemos nenhuma desfiliação. Esses rumores da debandada dos Fischer foi em um momento de especulações, mas na verdade não aconteceu nada”, minimiza o presidente do partido.

Hoje, ainda há opiniões divergentes no PP, especialmente no que se refere a conversar ou não com o PT para a próxima eleição; assim como lançar um candidato a prefeito: há os que preferem ouvir, primeiro, as propostas do PSD, com quem governam a cidade, atualmente.

Paulo Eccel (PT) e Evandro de Farias (PP); eleitos e afastados da prefeitura juntos. A possibilidade de união com os petistas em 2016 ainda é tabu no PP | Foto: Arquivo

As possibilidades de alianças

Para o vereador Edson Rubem Muller, o Pipoca, ainda é prematuro falar sobre nomes e opções de coligação na próxima eleição.

“O PP, por meio do Jean e do Bóca, tem dado apoio ao governo Roberto Prudêncio, mas existe uma ala do PP que permanece com o governo Paulo Eccel, e a gente tem que respeitar, até porque tem uma coligação e se aguarda uma decisão judicial”, salienta o vereador, pertencente à ala que apoiava o governo petista.
Bóca Cunha diz que há um compromisso de apoiar o candidato do PSD, em uma eventual eleição indireta, mas ele sustenta que o partido que governa a cidade precisa “arrumar o seu quadro”.

“O PSD não se reuniu ainda para dizer: queremos o PP de aliado. O PP está aberto ao diálogo para fazer uma composição. O PSD hoje tem que arrumar o quadro deles, que não está arrumado, o problema é deles, não é nosso. Para eles procurarem aliança, tem que estar com o quadro montado e aceitar a proposta de outros partidos”.

O presidente do PP diz que ele está “aberto a todos os partidos”, sem restrições. “Sei que há alguma restrição dentro do PP ao PT, mas não temos nenhuma animosidade contra o PT, embora a gente saiba que há uma rejeição”, afirma Edson Machado.

Rejeição esta que fica clara nas palavras de Pirola. “O PP muito provavelmente não estará com o PT, isso já vem sendo falado há muito tempo, e tenho certeza que é isso que vai acontecer”, afirma.

Por outro lado, o ex-presidente do partido e também ex-vice-prefeito, Evandro de Farias, o Farinha, um dos que circula nas duas alas, diz que não se pode negar conversa com nenhuma sigla.

“Política é algo muito dinâmico, é muito difícil dizer que desta água tu não vais beber. Quem está mal hoje pode estar bem amanhã, então nunca podemos desvalorizar alguém”, diz, “Tínhamos um prefeito que fez uma administração excelente. E que mesmo com os problemas que a gente tem, não teria porquê não conversar com o ex-prefeito Paulo Eccel”, afirma Farinha, que emenda.

“Quem imaginava, dez anos atrás, que ganharíamos duas eleições coligados com o PT?”.

Segundo correligionários, Ingo Fischer ficou “chateado” por não ter conseguido o apoio esperado na eleição indireta deste ano, mas não descarta nova candidatura | Foto: Arquivo

Ingo Fischer é o nome mais citado

Praticamente todos os pepistas ouvidos pelo Município Dia a Dia citam o empresário Ingo Fischer como o grande nome do partido para disputar uma eleição à Prefeitura de Brusque.

“Para mim é o nome mais forte do nosso partido e um dos mais fortes nas pesquisas”, diz Farinha. “Ele é o grande nome da atual conjuntura, ele e Serafim Venzon (PSDB)”, opina.

Para Machado, Fischer também é a aposta. “Sem dúvida o nome mais forte do nosso partido ainda é o do empresário Ingo Fischer. contamos com o apoio dele, ele permaneceu no PP e vamos conversar com ele para ver se o nome dele está à disposição do partido”.

O empresário, porém, ainda tem futuro incerto dentro do partido. No começo do ano, ele foi lançado para concorrer à prefeitura na eleição indireta que se realizaria no dia 30 de abril, posteriormente cancelada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas retirou a candidatura antes da data do pleito.

Em entrevista recente ao Município Dia a Dia, o empresário deixou em suspense seu futuro político. Cobiçado pelo PSDB, adiantou que, por ora, permaneceria no PP. Questionado se, por ter sido candidato na eleição passada, seria um nome pré-estabelecido para disputar a eleição de 2016, Fischer foi enfático e breve: “o futuro a Deus pertence”.

“Eu conversei com ele um tempo atrás, ele ficou chateado com o que aconteceu, imaginava que conseguiria uma eleição mais tranquila, ficou descontente com situações que ocorreram, com partidos que ele esperava um apoio e não teve. Esse foi um dos motivos que o levaram a retirar a candidatura”, analisa o vereador Jean Pirola, “Mas é um grande nome, sem dúvida pode ser candidato”.

Bóca Cunha lembra que outro nome é carta no baralho: o empresário Carlito Zen, que se filiou recentemente à sigla. Mas as lideranças adiantam que ideias mais concretas devem ser anunciadas apenas no começo do próximo ano.

Ordem é aparar arestas internas

A comissão provisória criada depois de desentendimentos durante a eleição da nova Executiva do partido é vista como parte da solução para aparar as arestas.
“Eu acredito que as arestas estão sendo aparadas, a comissão provisória foi criada justamente para unir todos e construir um partido com a simpatia de todos”, afirma o vereador Pipoca.

“A formação de uma executiva provisória foi uma ideia que levei para Florianópolis, que foi acatada pelo diretório estadual e pelos membros do partido, foi uma maneira de tentar unir as alas, por um objetivo maior que é o Partido Progressista”, relata Farinha.

“Quando cheguei à presidência, encontrei algumas lideranças afinadas com o ex-prefeito paulo Eccel, mas depois da gente sentar e discutir o momento que vive o partido, a situação começou a ter novo andamento”, detalha Edson Machado.

“Hoje o Edson [Pipoca] já está sendo trazido para o grupo que está à frente do PP, já se dispôs a nos ajudar, inclusive na Câmara tem mantido uma postura de independência”.

Jean Pirola avalia que uma definição sobre o comando do partido é a saída para a unificação. “O acordo que temos hoje é apoiar o governo do Roberto. Mas não podemos cobrar apoio de 100% do partido enquanto não tiver uma definição sobre o comando do partido. Com uma definição, vai ter um comando, que vai ter uma linha e essa linha vai ser seguida”.