Pré-candidaturas: Brusque deve ter apenas uma mulher na disputa eleitoral em 2022

Falta de abertura de espaços nos partidos, custos de campanha e conservadorismo são alguns dos fatores apontados por analistas

Pré-candidaturas: Brusque deve ter apenas uma mulher na disputa eleitoral em 2022

Falta de abertura de espaços nos partidos, custos de campanha e conservadorismo são alguns dos fatores apontados por analistas

Brusque tem apenas uma mulher como pré-candidata aos cargos de deputadas estadual ou federal na eleição deste ano. Trata-se de Kátia Costa, do PSOL, partido cuja convenção para definir as candidaturas será realizada no dia 30. Situação semelhante ao que ocorreu em 2014, conforme análise feita pelo jornal O Município das candidaturas das últimas quatro eleições. Apenas uma mulher de Botuverá, Marise Tormena deve disputar uma vaga na casa legislativa estadual pelo PTB. Ela também deve ser única candidatura do município.

Neste período, 2018 foi o ano com maior interesse das brusquenses pela vaga na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc) e na Câmara dos Deputados. Foram três candidatas, sendo que uma disputou a vaga estadual e outras duas para federal.

A reportagem questionou analistas políticos para entender o motivo para Brusque ter poucas mulheres disputas as vagas. Para o ex-prefeito de Brusque, Danilo Moritz, a ausência de pré-candidaturas femininas não surpreende, pois “a participação de mulheres nos diretórios municipais dos partidos é quase que inexistente”.

Ele aponta que no cenário brusquense, o único partido com um número razoável de mulheres ativas é o PT. “Os motivos certamente são vários, mas um dos principais é a falta de legitimidade dos partidos, que trocam de sigla a cada cenário político eleitoral. Outra causa é cultural. A política ainda é, para muitos, coisa de homem”.

Danilo analisa as eleições passadas em que Brusque teve candidatas para Câmara dos Deputados. Ele aponta que mesmo com o eleitorado majoritariamente feminino, a votação de Marli Leandro, em 2014, e Sabrina Avozani, em 2018, foi abaixo do esperado.

Falta abertura de espaço nos partidos

O cientista político e mestre em Sociologia Política e Econômica, Eduardo Guerini, afirma que a participação feminina depende de alguns critérios, como os partidos políticos abrirem as portas para que elas possam participar do processo de escolha das pré-candidaturas, além de viabilizarem a cota estabelecida pela lei, que determina 30% de reservas para o lançamento de candidaturas femininas.

Ele aponta que em municípios menores se observa a baixa participação feminina nas estruturas partidárias, assim como a falta de porosidade dos partidos para receberem as mulheres e a realização de movimentos dentro dos partidos destinados ao público feminino.

O eleitorado feminino representa 52% do total de pessoas aptas a votarem no Brasil. Mas para o cientista político, quando se tem uma baixa representação feminina nos cargos proporcionais e majoritários, “é resultado também de uma estrutura conservadora, provinciana, sexista e machista no interior dos partidos políticos e na própria estrutura política brasileira, que é resultado de uma sociedade que é excludente com relação a participação da mulher”.

Ele ainda analisa que no cenário brusquense as estruturas partidárias estão “envelhecidas” e não se abriram as transformações que a sociedade necessita. Eduardo acrescenta que não existe falta de interesse das mulheres na política, mas sim partidos fechados.

“Atualmente o próprio discurso da pauta de costumes coloca a mulher em segundo plano, trata de objetificar a mulher como algo que deve estar vinculado a uma família tradicional, quando nas estruturas da sociedade nós vemos outros arranjos familiares, outras formas de pensar”, salienta.

O cientista político lembra que além da lei que determina a cota de mulheres nas eleições, também se estabelece que o financiamento do Fundo Partidário e Fundo Eleitoral deve destinar 30% para essas candidaturas e a progressão de reservas de vagas nas casas legislativas. “Se tratando de política, os partidos acabam lançando mulheres em colégios eleitorais mais densos e, portanto, com possibilidade de resultados positivos mais efetivos”.

Questões culturais

Danilo aponta a questão cultural como um fator para a falta de participação feminina nos pleitos. Segundo ele, a degradação da política e o uso de partidos como instrumentos para interesses particulares e de grupos também causam impactos nos números.

“Um exemplo bem prático está na forma de gestão e atuação dos partidos. Se formos verificar como os partidos em Brusque atuam, vamos ver que a maioria não faz uma única reunião, um único evento de formação política por ano. Eles só atuam em ano eleitoral. Diante desse cenário, as mulheres com boa formação e inteligentes não irão colocar o nome à disposição”, analisa.

O ex-prefeito de Brusque também considera que os custos da candidatura, que são elevados, podem afastar as possíveis interessadas. Ele afirma que sem o apoio econômico e político, a possibilidade da candidata ser eleita é muito remota.

Mudanças na visão política

Danilo considera que a participação feminina nas candidaturas para eleições municipais, estaduais ou federais, filiação em partidos e membras de diretórios municipais são fundamentais para mudança na visão política sobre as prioridades, especialmente, sociais.

De acordo com o ex-prefeito, as mulheres “se envolvem muito mais que os homens em movimentos e campanhas nas áreas de saúde, assistência e promoção social”.

Eduardo analisa que a participação feminina e a disputa das mulheres por mais espaço na política é um movimento que ganha força na sociedade, mas diz que é um processo progressivo.

“Efetivamente o que deve se estabelecer é que quanto mais representativo for o resultado da eleição, quanto maior forem os grupos ou segmentos da sociedade na conquista de cadeiras no parlamento, melhor será a ação política e os resultados políticos para as mulheres em Santa Catarina e na região”, pontua.

Ele ainda aponta que apesar das mulheres representarem 52% do eleitorado, a média de representatividade não passa dos 20%. Ele classifica que o valor é baixo considerando o que seria ideal para uma sociedade democrática e que torne a representatividade mais ampla.

“O trabalho, independente de gênero, etnia, raça ou orientação sexual, tem que ser efetivo. Ou seja, o representante popular deve orientar-se pelas demandas da sua pauta programática, do seu alinhamento ideológico, garantindo ações que vão muito além do que uma mera participação com uma cadeira na Assembleia Legislativa. Em síntese, as mulheres devem participar e mostrar um trabalho legislativo mais qualificado e que represente as demandas e anseios daquelas que a elegeram”, finaliza.

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