Prefeitura de Brusque explica como funcionará uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19
Medicamento já foi comprado e o poder público aguarda a entrega pelo fornecedor
Medicamento já foi comprado e o poder público aguarda a entrega pelo fornecedor
A cloroquina foi incluída no protocolo de tratamento para Covid-19 da Secretaria de Saúde de Brusque nesta quarta-feira, 22, e idosos, obesos, hipertensos e diabéticos, terão acesso prioritário ao medicamento por meio do poder público municipal. De acordo com a pasta, estes grupos foram definidos por serem aqueles aos quais a doença tem se mostrado mais grave, levando a internações e óbitos. O medicamento já foi comprado, e a prefeitura aguarda pela entrega do fornecedor. Outro lote, menor, será entregue pelo Ministério da Saúde.
O médico infectologista do município, Ricardo Freitas, afirma que o medicamento pode funcionar para alguns pacientes, e não funcionar para outros, e reconhece que não há comprovação científica para o combate ao coronavírus, nem recomendação na bula da cloroquina para tal. O argumento é o protocolo do Ministério da Saúde que autoriza o uso. “Do ponto de vista jurídico é seguro para o poder público utilizar”, comenta.
“Quanto ao uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, existe uma coisa bastante controversa. Não há trabalhos robustos dizendo que funcionem. Existem locais que usaram, locais que não usaram, com diferentes resultados. A gente vai colocar a cloroquina ou hidroxicloroquina no protocolo para grupos específicos. Não faremos para todo mundo. Seria desnecessário neste momento, e a eficácia é muito discutível”, completa.
Para a prescrição da cloroquina serão realizados exames prévios, como eletrocardiograma e o exame de sangue. “Mas precisa ser algo muito ágil porque não podemos perder tempo em prescrever ou não o remédio.”
O protocolo está sujeito a atualizações, à medida que outros medicamentos forem comprovados como mais eficazes. “Hoje não temos nada concreto sobre eficácia de medicamento. São tentativas e protocolos de estudos em outros locais, que colocamos em prática aqui.”
A ivermectina, medicamento que, assim como a cloroquina, não tem na bula a recomendação para uso em caso de Covid-19 e nenhuma evidência de que seja eficaz no tratamento. Portanto, foi barrada, e não tem inclusão indicada nos protocolos do município. A diferença é que a cloroquina tem o aval do Ministério da Saúde.
“Seria muito leviano do poder público gastar dinheiro público com esse medicamento neste momento. Poderia ter implicações futuras, porque não há evidências de que o remédio funcione. Fica a critério do médico prescrever para quem ele achar necessário. Se a Anvisa colocar em bula que o remédio funciona para Covid-19, há a possibilidade do poder público adquirir. Neste momento não”, comenta Freitas.
O infectologista também alerta a população sobre a automedicação. “É algo muito complicado. As pessoas misturam remédios, chás naturais e podem ter um evento adverso. Já tive paciente que tomou duas, três vezes a mesma vacina, porque achava que aumentava a eficácia e foi parar na UTI”, conta.
A Sociedade Brasileira de Infectologia segue (SBI) o caminho das sociedades médicas e científicas dos países desenvolvidos e da Organização Mundial de Saúde (OMS), com a orientação de que a hidroxicloroquina deve ser abandonada em qualquer fase do tratamento da Covid-19. A SBI julga urgente e necessário este abandono.
A entidade também recomenda de forma veemente que municípios, estados e Ministério da Saúde reavaliem suas orientações e não desperdicem dinheiro público em tratamentos que são comprovadamente ineficazes, com o risco de causar efeitos colaterais.
No informe da SBI publicado em 17 de julho, consta ainda que é urgente que “o recurso público seja usado em medicamentos que comprovadamente são eficazes e seguros para pacientes com COVID-19 e que estão em falta, tais como anestésicos para intubação orotraqueal de pacientes que precisam ser submetidos à ventilação mecânica, bloqueadores neuromusculares para pacientes que estão em ventilação mecânica”.
A entidade também clama pelo investimento em aparelhos que podem permitir o diagnóstico precoce de Covid-19 grave e em testes diagnósticos de RT-PCR da nasofaringe para pacientes sintomáticos. O foco também teve ser em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), respiradores e profissionais de saúde.
Além das autoridades de saúde ao redor do mundo e da OMS, a SBI se posiciona embasada em dois estudos publicados em 16 de julho:
Um, realizado em 43 estados dos Estados Unidos e em três províncias canadenses, conclui que não houve nenhum benefício clínico grupo que recebeu hidroxicloroquina, em comparação aos pacientes que receberam placebo (preparação neutra sem efeitos farmacológicos).
Não houve redução na duração dos sintomas, nem de hospitalização, nem impacto na mortalidade. Mais da metade dos pacientes receberam o medicamento no máximo um dia após início dos sintomas. Em 43% dos pacientes que receberam a hidroxicloroquina, foram registrados efeitos colaterais, como dor abdominal, diarreia e vômitos.
Outro estudo, realizado na Espanha, avaliou a redução da carga viral na nasofaringe e a redução da duração dos sintomas e hospitalização. Não houve absolutamente nenhum benefício aos pacientes em comparação ao grupo sem tratamento farmacológico.