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Prefeitura de Brusque não pretende permitir que obra apagada da Fundação Cultural seja refeita

Membros da classe artística fizeram apelos durante reunião do conselho de cultura

Representantes do Conselho Estadual de Cultura (CEC), incluindo o presidente, participaram de reunião extraordinária do Conselho Municipal de Cultura de Brusque há dez dias para falar sobre o apagamento da obra “Povo de Dentro”, do artista Douglas Leoni, da parede da Fundação Cultural de Brusque (FCB).

O Conselho Municipal de Cultura reúne representantes do governo e da classe artística da cidade. A diretora-geral da FCB, Zane Marcos, participou do encontro, assim como Douglas, autor da obra.

A convocação de uma reunião extraordinária aconteceu pela solidarização dos membros da classe artística com Douglas, em busca de uma forma da prefeitura fazer algum tipo de reparo ao artista.

“Os conselheiros se pronunciaram, foi uma reunião com bastante gente. A classe se mobilizou, marcou presença, inclusive pessoas que normalmente não participam, de várias áreas, se solidarizaram. Questionamos o porquê só essa ter sido apagada, esperávamos pelo menos um pedido de desculpas, alguma posição da FCB. Continuamos aguardando”, conta Ricardo Weschenfelder, um dos conselheiros.

A obra foi apagada da parede da FCB na noite de 24 de setembro e o secretário de Fazenda e Gestão Estratégica, William Molina, justificou, dez dias depois, que decisão partiu dele, que solicitou a pintura do espaço, que estava em mau estado por causa de uma reforma hidráulica e elétrica.

Apesar da explicação oficial da prefeitura, o Ministério Público anunciou que vai aprofundar as investigações sobre o apagamento de pintura. Antes disso, a OAB de Brusque havia solicitado a investigação do caso.

Pouco avanço

Douglas conta, porém, que pouco mudou após a reunião. O artista relata que os representantes do governos reforçaram as posições que já tinham sido divulgadas e que os pedidos dele e da classe artística não foram atendidos. Segundo ele, ficou acordado que a possibilidade de refazer a obra seria levada ao conselho gestor do governo, mas a FCB não se propôs a adotar nenhuma medida imediata.

“Entregamos dois abaixo-assinados na reunião, um deles para que a obra fosse refeita. Já vínhamos pedindo que o conselho se manifestasse publicamente, o que não foi feito, o que é muito simbólico. Várias pessoas se manifestaram durante a reunião, colocamos as nossas questões, e o governo reforçou suas falas, não demonstrou a vontade de acatar o pedido de refazer a obra, isso não foi votado pelos conselheiros. Acho muito triste. Ao invés de discutirmos a ampliação da arte urbana na cidade, estamos diminuindo”, disse.

“Quero agradecer às pessoas que entraram em contato para se solidarizar, não só artistas. Não é um evento desse que vai nos calar. Aconteceu um ato de violência contra a arte, na casa do artista, que é a FCB. Não teve nenhum avanço. Na minha opinião, aumentou o desgaste entre a classe artística e o governo, que teve algumas falas tristes, na minha opinião”, completou.

Conselho Estadual tenta interceder

Presidente do CEC, Luiz Moukarzel conta que, na segunda-feira, 18, ele e outros três conselheiros se reuniram com a diretora-geral da FCB pedindo que ela intercedesse junto ao conselho gestor da prefeitura para que autorizassem o artista a refazer a obra. A resposta que o conselho recebeu, porém, foi de que ela não tinha essa autoridade.

“A nossa conversa foi no sentido de minimizar essa crise que foi criada e construir pontes entre a sociedade civil, que foi atingida, e o governo, para estudar a possibilidade de voltar a obra do artista para o local. Foi uma obra financiada por dinheiro público, através de um edital. Achamos que foi, provavelmente, um erro de comunicação, já que foi sem o conhecimento da Fundação e sem um contato prévio com o artista”.

Por isso, foi levado aos conselheiros em reunião extraordinária do CEC na quarta-feira, 20, a possibilidade do conselho estadual tentar contato direto com o prefeito para que algo possa ser feito nesse sentido.

“A diretora-geral da FCB nos passou que ela não poderia resolver, que foi uma decisão acima dela. Queremos achar uma forma de fazer um contato direto com a prefeitura, para intermediar uma solução para o problema, para minimizar esses conflitos. Isso já motivou denúncia do MP-SC, algo desnecessário, por falta de diálogo. A obra não tem nada de agressiva, é construtiva. Seria um ato de grandeza da prefeitura decidir que a obra volte. As divergências na sociedade existem, mas devem ser resolvidas no diálogo”.

“Não há possibilidade da obra ser refeita

Para Zane, não existe a possibilidade da obra ser pintada na mesma parede. Segundo ela, o local é muito disputado por ser um dos poucos da cidade disponíveis para tal manifestação. Ela ainda acrescenta que a FCB tem um edital aberto, o Wilson Erasmo Quintino dos Santos, que provavelmente irá utilizar do local.

Segundo Zane, a FCB está em obras e, há cerca de duas semanas, a fundação solicitou por e-mail – antes do caso acontecer – que houvesse a pintura de uma parede. Ela conta que a prefeitura, porém, acabou estendendo também para a parede da frente.

“A arte de rua é transitória, a lei não determina o tempo que a obra tem que ficar. Esta obra foi a primeira das três a ser pintada aqui. Temos outros dois murais na FCB e, cedo ou tarde, serão repaginados também. Temos um edital em aberto, outros artistas vão se inscrever. Muitos artistas já manifestaram esse desejo. Daqui a pouco, será disponibilizado para outra artista, será renovado, como é de costume. Não há possibilidade dessa obra ser refeita”, diz.

A diretora-geral acrescenta que a FCB está dando andamento à investigação junto com o MP-SC e que aguarda a manifestação do órgão.

“Foi feito muito auê em cima disso, que não precisava ter acontecido. Temos que seguir, oportunizando para outros artistas. Não há censura. A arte dele está exposta em vários outros locais da cidade”.


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